PF prende ex-ministro que estaria articulando fuga de Mauro Cid
Titular da pasta do Turismo no governo Bolsonaro, Gilson Machado foi preso na manhã desta sexta-feira. Ex-ajudante de ordens teve prisão revogada no último minuto e precisará se explicar
Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Delator no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado articulada por Jair Bolsonaro (PL) e aliados para subverter o resultado das eleições de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid foi novamente alvo da Polícia Federal nesta sexta-feira (13), em Brasília. Inicialmente, circulou a informação de que Cid teria sido preso, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a ordem de prisão pouco depois.
A nova operação da PF apura uma suspeita grave: uma tentativa coordenada para que Mauro Cid deixasse o país com um passaporte português obtido de forma ilegal. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, determinou novo interrogatório de Cid, que pode ocorrer ainda hoje.
A articulação envolveria diretamente o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, fiel escudeiro de Bolsonaro e figura recorrente em suas lives – nas quais tocava sanfona ao lado do então presidente. Machado foi preso pela PF em Recife (PE), acusado de tentar emitir o passaporte para Cid em um consulado português. A Procuradoria-Geral da República e a PF solicitaram ao STF a abertura de inquérito para apurar o caso como tentativa de obstrução de Justiça.
Em nota, Gilson Machado negou qualquer visita a consulados. Já Mauro Cid afirmou desconhecer a suposta ajuda do ex-ministro, embora tenha admitido que entrou com pedido de cidadania portuguesa em janeiro de 2023 – poucos meses após a derrota de Bolsonaro nas urnas e durante as crescentes pressões do cerco judicial.
A relação entre os envolvidos e o núcleo duro do bolsonarismo aumenta a suspeita do caráter coordenado das ações. Machado acompanhava Bolsonaro em viagens, como a recente ida ao Rio Grande do Norte, e sua prisão reacende o alerta sobre as tentativas de apagar rastros do plano golpista.
Mauro Cid, é importante lembrar, não é uma figura menor: foi ajudante de ordens do então presidente Bolsonaro, ou seja, alguém com acesso direto e privilegiado ao gabinete presidencial. Ele já é réu no processo que apura a tentativa de ruptura democrática após as eleições de 2022, ao lado do próprio Bolsonaro e outros 29 aliados. A denúncia da PGR sustenta que o grupo agiu para manter o ex-presidente no poder à revelia da soberania do voto popular – um ataque frontal à democracia brasileira.
As novas evidências reforçam a suspeita de que há, ainda hoje, um esforço articulado para sabotar as investigações, silenciar delatores e escapar das consequências de um dos episódios mais graves da história recente do país.