Boulos, o novo Freixo?
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Boulos, o novo Freixo?

Uma reflexão à esquerda sobre os movimentos do líder do MTST e deputado do PSOL.

Leandro Fontes 29 jan 2023, 18:00

Boulos mais uma vez ganha holofotes na imprensa burguesa ao participar, ao lado de Erika Hilton, de um jantar em prol da reeleição de Arthur Lira à presidência da Câmara dos Deputados. O encontro ao redor do “rei Arthur” (como sarcasticamente definiu Chico Alencar) reuniu parlamentares da frente ampla comandada por Lula e representantes da extrema direita bolsonarista, a qual, não por acaso, Lira encapava e orientava o apoio do Centrão. De tal forma, configuraram pelo tal jantar, o governador de São Paulo Tarcisio de Freitas, Gilberto Kassab, Rosangela Moro, Marcos Pereira (presidente do Republicanos), Luiz Marinho (Ministro do Trabalho), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Maria do Rosário, Zeca Dirceu e, entre outros, Eduardo Bolsonaro.

É compreensível que representantes do PT estivessem num evento desse tipo. No acordo com Lira estão em jogo lugares privilegiados na Mesa Diretora e presidências de comissões. Afinal o PT é o partido do governo e busca estabilidade com os Três Poderes para governar. Mas, não só. O PT se transformou num partido da ordem e, sob o comando de Lula, atua conscientemente para salvar a Nova República, sem propor reformas estruturais que possam atacar de modo contundente os interesses do agronegócio, dos especuladores, capital financeiro, das altas patentes das Forças Armadas, dos políticos corruptos, etc. Quer dizer, o PT é um partido socialdemocrata, do campo da esquerda reformista, que venceu cinco eleições presidenciais e não coloca na pauta reformas estruturais. Porém, governou por 13 anos aliado com frações da burguesia brasileira que mantiveram seus lucros, sob ataques aos trabalhadores, enquanto o lulopetismo construía políticas compensatórias como o Bolsa Família, programa que foi remodelado e aplicado com fins eleitorais por Bolsonaro.

Por isso, o PSOL nasceu sob o calor da reforma da previdência de 2003 e foi oposição de esquerda aos governos de conciliação de classes do PT. Entretanto, desde o golpe parlamentar que derrubou Dilma, passando por Temer até a hecatombe do governo Bolsonaro, a situação mudou, uma corrente de extrema-direita influenciada por uma direção neofascista com inspirações golpistas ganhou peso de massas. Esse fato conduziu o partido a tomar duas posições determinantes diante da situação concreta: apoiar a candidatura Lula, desde o primeiro turno, para presidência da república. Mas, não entrar no governo (com exceção de Sonia Guajajara), isto é, não assumir ministérios e cargos no segundo escalão.

A razão dessa posição está abundantemente escrita na Revista Movimento, na qual dei minha opinião na coluna “https://movimentorevista.com.br/2022/12/a-natureza-do-psol-preservada-e-a-inocultavel-derrota-de-boulos-e-companhia/”. No entanto, parece que Boulos não quer entender as resoluções do PSOL. Ora, o partido definiu que não irá apoiar Lira e não irá indicar cargos no governo. Portanto, qual é a razão de Boulos indicar Guilherme Simões para a Secretaria das Periferias e estar presente no jantar de Arthur Lira, uma vez que o PSOL definiu o nome de Chico Alencar para concorrer à presidência da Câmara? Sabe-se que o argumento da indicação de Simões se remete ao MTST, como se este movimento não tivesse vínculos estruturais com Boulos e a corrente Revolução Solidária. Por isso, não se trata de debater os passos do MTST enquanto movimento, mas os passos de Boulos nas fileiras do PSOL. Até porque o argumento utilizado por Boulos para sua presença no jantar de apoio a Lira foi o da “convivência democrática” (O Globo, 28/01/2023).

Boulos falou como Freixo, que justifica quase tudo em nome da “democracia” para trilhar passos caudilhescos e oportunistas. Acontece que Freixo fracassou em seus objetivos, mesmo se aliando com setores da burguesia liberal e alterando sua natureza política. Agora sua principal ação é procurar argumentos do porquê ter aceitado estar numa cadeira sob o comando de Daniela do Waguinho que nutre relações orgânicas com as milícias. Logo, é de se estranhar, após a repercussão do jantar em prol de Lira, saia no Globo (29/01/2023) uma matéria de meia página que traz como título: “Boulos disputa centro com Nunes e tenta consolidar apoio do PT”; e no resumo “Deputado mais votado de São Paulo articula alianças para afastar imagem de radical na disputa de 2024 pela prefeitura”.

O conteúdo expresso é, em essência, uma cópia das matérias que a imprensa burguesa transmitia dos movimentos eleitoralistas de Freixo para o precipício. Contudo, Boulos não é Freixo, cada um formou sua militância na esquerda por caminhos próprios, embora do ponto vista político os dois possuam convergências inegáveis nos últimos anos. Mas, Freixo optou por não ser um “homem de partido”. Colocou seu projeto eleitoral acima da construção partidária e coletiva, passando a negar pautas programáticas que moldaram sua biografia. Por isso, se liquidou.

Resta saber se Boulos, em seu precipitado projeto eleitoral de 2024, irá seguir os caminhos de Freixo ou do PSOL (no que condiz a sua diversidade interna). Os últimos episódios, para quem acompanhou a “metamorfose” de Freixo, gera preocupação, já que o que está sendo pautado publicamente é uma “frente progressista” afiançada por Lula que possibilite o deslocamento do PT de Jilmar Tatto (que trabalha por uma candidatura petista), que Alckmin isolando Tábata Amaral e que avance com setores que compõem a frente ampla nacional como PDT, PCdoB e a Rede que já federada com o PSOL. Tudo isso sendo discutido e publicado na imprensa vinte dias após a tentativa de golpe do bolsonarismo. Isto é, algo fora do tempo e do espaço, que sequer é pauta do partido no momento. Mas, é possível corrigir o rumo e Boulos pode contribuir significativamente com o PSOL nesse período, principalmente o Boulos do Pinheirinho, não do jantar com Lira.


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Pedro Micussi