Uma nova política de preços para a Petrobras
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Uma nova política de preços para a Petrobras

Estatal acaba com paridade internacional dos preços de combustíveis, herança maldita de Temer. Mas ainda falta entender se (e como) os preços vão cair

Tatiana Py Dutra 17 maio 2023, 11:00

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Petrobras anunciou, na terça-feira (16), o fim da paridade internacional de preços (PIP) do petróleo e combustíveis derivados. A decisão, tomada pela diretoria executiva da estatal em reunião na segunda-feira, acaba com a subordinação dos valores praticados no Brasil ao preço de importação – metodologia adotada durante o governo Michel Temer (MDB). 

A política de preços provocou grande oscilação do valor dos produtos nas bombas e refinarias no mercado interno e, consequentemente, impactou seriamente na economia doméstica. Mudar essa referência de preços foi promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

A partir de agora, “os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”, informou a estatal em comunicado divulgado nesta terça. Os valores dos produtos, porém, terão como referência o “custo alternativo do cliente” e o “valor marginal” para a Petrobras. 

Segundo a empresa, o custo ao cliente “contempla alternativas de suprimento por fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos”. Já o custo marginal da Petrobras se baseia no custo das diversas alternativas para a empresa, entre elas a produção, importação e exportação do produto”. 

“Nosso modelo vai considerar a participação da Petrobras e o preço competitivo em cada mercado e região, a otimização dos nossos ativos de refino e a rentabilidade de maneira sustentável”, afirma o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, no comunicado da empresa. 

Dúvidas

Esses conceitos, fundamentais para a precificação dos combustíveis, ainda não foram adequadamente esclarecidos pela Petrobras. A empresa também não mencionou como uma possível alta de preços no exterior será equalizada no mercado interno.

“A grande questão é que nem todo o combustível consumido no Brasil é provido pela Petrobras. Então, o argumento dos liberais é que se cerca de 12% da gasolina é importada, fixar um preço muito abaixo do internacional pode estrangular as capacidades de quem compra de fora. Essa é uma crítica cabível”, avalia Pedro Micussi, mestre em Sociologia e membro do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento.

No comunicado ao mercado, a Petrobras a garante que as alterações na política de preços não comprometerão a “sustentabilidade financeira de longo prazo, preservando a sua atuação em equilíbrio com o mercado, ao passo que entrega aos seus clientes maior previsibilidade por meio da contenção de picos súbitos de volatilidade”.

“Não existe um dogma, um preço de referência para o Brasil todo. O próprio PPI é uma abstração. O mercado brasileiro é diferente, com vários múltiplos importadores”, disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em um evento recente.

Como era esperado, o mercado não reagiu bem à mudança. Ontem, o dólar fechou em alta de 1,12%, comercializado a R$ 4,943. Isso sinaliza desconfiança de investidores, mas está longe de ser a hecatombe econômica temida durante quatro anos de governo Bolsonaro. Mas a grita maior vem de acionistas e liberais que já estavam acostumados com os dividendos polpudos obtidos via uma margem operacional favorável custeado pela população.

Margem de lucro

Pedro Micussi explica que, nos últimos anos, a Petrobras repassou ao consumidor os preços internacionais ainda que o custo de extração e de refino de petróleo no Brasil estivesse muito abaixo dele. Como resultado, a estatal acumulou lucros e repassou dividendos astronômicos aos acionistas. Eis parte do motivo da grita liberal contra a alteração da política de preços.

“Há um debate: o pessoal mais liberal diz que a Petrobras deveria seguir o preço internacional e os mais heterodoxos apontam tratar-se de um preço estratégico, que faz sentido não seguimos os preços do mercado se a gente tem uma estatal do setor . Acontece que agora tem toda uma ‘névoa’ porque liberais e acionistas estão fazendo campanha para que a Petrobras siga com o PPI e assegure a antiga margem operacional”, diz.

Esperança

Os preços dos combustíveis e do gás de cozinha devem ter redução nas próximas semanas. A queda no valor da gasolina ao consumidor é estimado em R$ 0,40. Já o botijão de 13 quilos de GLP deve chegar as distribuidoras por um valor, em média, R$ 8,97 inferior ao atual. Se elas distribuidoras repassarem a economia integralmente ao consumidor final, o botijão poderá chegar às residências pelo preço médio de R$ 99,87.

Levantamento da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Dieese revela que durante a vigência da paridade, o preço do botijão de gás de cozinha, de 13 quilos, mais demandado pela população de baixa renda, registrou um aumento de 223,8%, passando a custar R$ 108, em média. Antes dessa política, o produto era vendido a R$ 55.

Conforme o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a tendência é que o gás de cozinha, a gasolina e o diesel fiquem mais acessíveis e baratos a partir de agora.

“Os custos nacionais de produção, em reais, entrarão na composição dos preços. Afinal, o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo, a Petrobras tem grande parque de refino e utiliza majoritariamente petróleo nacional que ela mesma produz. Assim, com a nova política, reduz-se também a volatilidade de preços ao consumidor”, analisa o dirigente sindical.

*Com informações da Agência Brasil


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