Goleada das mulheres contra a misoginia
Sucesso da Copa do Mundo feminina promete mudanças dentro e fora de campo
Foto: Thaís Magalhães/CBF
Até o fim dos anos 1970, as mulheres eram proibidas por de jogar futebol no Brasil. Proibidas por lei. Para autores e apoiadores dessa legislação, o esporte era “coisa de homem”. E essa bizarrice misógina não era exclusividade verde e amarela. A prática também esteve proibida em países como Inglaterra, Alemanha e França na maior parte do século 20.
Ainda hoje ainda há quem repudie mulheres com a bola nos pés. Para esses seres, os últimos dias devem estar sendo difíceis, graças à cada vez mais popular Copa do Mundo de Futebol Feminino e ao crescente interesse das meninas pelo nobre esporte bretão. E ainda que usem as redes sociais para disseminar mensagens misóginas e ataques covardes (na estreia da Copa, no dia 20, o canal de YouTube CazéTV teve de ocultar o chat das transmissões pelos comentários), estão sendo obrigados a assistir jogos de alta qualidade em estádios lotados na Austrália e na Nova Zelândia.
“Eu acredito que esse preconceito, infelizmente, está dentro da história de toda atleta”, comentou Antonia, lateral da seleção brasileira, ao UOL.
Na manhã desta segunda-feira, foi a vez de o Brasil dar show, aplicando um 4 a 0 imponente contra a seleção do Panamá. Foi uma goleada nos preconceitos, na falta de investimento nas categorias de base, nos salários drasticamente menores que os atletas da seleção masculina. Contra todas as adversidades, a mulherada meteu as travas das chuteiras na porta, em busca de profissionalização.
Para os brasileiros, independentemente do resultado que a Seleção obtiver, pode haver outro ganho na empreitada corajosa das atletas: romper o ranço com a camiseta amarelinha, capturada há anos pela extrema direita e movimentos antidemocráticos. Seria um grande passo, dentro e fora do campo.
“Muitas mulheres batalharam por visibilidade e valorização no futebol feminino e essa luta não ficará restrita somente aos estádios. Essa Copa do Mundo será histórica”, torce a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS).