‘Glauber Fica’: Porto Alegre abraça deputado perseguido por combater o sistema
Caravana Glauber Fica em Porto Alegre

‘Glauber Fica’: Porto Alegre abraça deputado perseguido por combater o sistema

Caravana em defesa do mandato de Glauber Braga chega à 20ª capital denunciando perseguição política e seletividade da Câmara. Mobilização nacional cresce diante da ameaça de cassação de uma das vozes mais combativas contra os privilégios do Centrão

Tatiana Py Dutra 13 jun 2025, 12:29

Fotos: Tatiana Py Dutra/Revista Movimento

Na noite fria de quinta-feira (12), o Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul ficou aquecido por vozes de resistência. Lotado por militantes, movimentos sociais, sindicatos e parlamentares de esquerda, o espaço recebeu a Caravana Nacional Glauber Fica, que percorre o país para defender o mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) diante da tentativa da Câmara dos Deputados de cassá-lo por suposta “quebra de decoro parlamentar”.

Porto Alegre é a 20ª capital a receber a caravana, que expõe o caráter abertamente político e persecutório do processo contra o parlamentar. Glauber é acusado de agredir um deputado do MBL, mas a base de sua cassação é vista, por diversos movimentos sociais e figuras públicas, como uma retaliação ao enfrentamento firme do deputado contra os privilégios do centrão, o orçamento secreto, e figuras como Arthur Lira.

“Não é o mandato do Glauber que está em jogo. Hoje é o Glauber, amanhã, o Marcon, depois a Erundina, e depois qualquer um de nós”, alertou o deputado Dionilso Marcon (PT-RS), ecoando o sentimento de que a perseguição não é individual, mas coletiva, contra a esquerda combativa.

Uma cassação seletiva e o silêncio conveniente da Casa

Enquanto Glauber enfrenta um processo kafkiano no Conselho de Ética – já aprovado e com recomendação de cassação – deputados acusados de crimes gravíssimos são blindados pela própria Casa Legislativa. É o caso de Chiquinho Brazão, apontado como mandante do assassinato de Marielle Franco, que teve o mandato extinto apenas para preservar seus direitos políticos. Carla Zambelli, acusada de fraude e ameaças armadas, permanece foragida, mas não teve sequer o mandato cassado.

“As batalhas que nós precisamos fazer… passam por tentar cassar o mandato do Glauber e ao mesmo tempo passar pano para Chiquinho Brazão, assassino da Marielle Franco. […] Não se trata de ética. Trata-se de uma perseguição pelo caráter combativo do Glauber”, denunciou a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

Um mandato militante ameaçado

A mobilização em Porto Alegre contou com a presença da vice-prefeita de Pelotas, Dani Brizolara, e da vereadora Fernanda Miranda, também ameaçada de cassação por motivos políticos:

“Eles não nos suportam nesses espaços, porque a gente não faz acordo. […] Mas eles não têm noção do quanto isso nos torna ainda mais fortes”, disse Fernanda, destacando a hipocrisia de um Conselho de Ética dominado por figuras ligadas à extrema-direita e ao fisiologismo.

O vereador Jurandir Silva foi direto ao denunciar a tentativa de igualar lutas legítimas com escândalos de corrupção e violência institucional:

“É um absurdo comparar corruptos, mandantes de assassinato, pedófilos com Glauber. Precisamos afirmar todos os dias essa diferença fundamental.”

Contra o poder oligárquico

Fotos: Tatiana Py Dutra/Revista Movimento

Em sua fala no Plenarinho, Glauber Braga agradeceu emocionado à solidariedade recebida desde o início do processo de cassação e destacou que a luta em curso vai além da defesa de seu mandato individual: trata-se de um confronto direto com as estruturas que sustentam o poder oligárquico no país.

“O meu agradecimento a cada um e a cada uma de vocês, a cada militante que tem levantado essa campanha em defesa do mandato, mas principalmente de enfrentamento ao que é a representação do poder oligárquico”, disse o deputado.

Glauber também denunciou diretamente a figura central por trás da ofensiva política contra ele: o presidente da Câmara, Arthur Lira. De acordo com o parlamentar, o processo conduzido pelo Conselho de Ética é apenas mais um capítulo de uma longa prática de silenciamento promovida por Lira contra adversários políticos.

“Mas que poder, hein? Que poder é esse de um deputado para definir quem fica e quem sai da Câmara? […] Das oito testemunhas que eu indiquei para o Conselho de Ética, quatro foram indeferidas. Quais eram essas quatro testemunhas? Pessoas que ao longo da sua vida foram silenciadas por Arthur Lira ou que ele tentou silenciar. […] Por um lado ele olha para trás e se vinga. Por outro, ele olha para frente e dá o exemplo: ‘olha o que acontece com quem tenta mexer comigo’”.

Em busca do diálogo frente a frente

Sobre a estratégia política adotada para resistir à cassação, Glauber ressaltou que a greve de fome e a Caravana Nacional foram decisões que priorizaram o diálogo com o povo em vez de negociações nos bastidores do parlamento.

“Se hoje eu estou aqui conversando com vocês, como militante e como deputado não cassado, foi por conta da greve de fome, mas não foi só por causa da greve de fome”, disse, remetendo ao protesto de oito dias realizado no fim de maio, que provocou uma onda de solidariedade em todo o país, com manifestações públicas, atos e apoios de personalidades da política, da cultura e de movimentos sociais.

“Se fosse só uma questão de parar o processo com alguma articulação institucional, era moleza. […] Bastava no início, quando eles apresentaram a admissibilidade, dar uma batida na porta do Lira e falar: ‘presidente, para com isso. Eu exagerei, desculpa, vamos deixar esse pra lá’. Estaria resolvido. […] Só que a decisão política de percorrer os estados é uma decisão militante, porque eu estou deputado federal, mas eu vou ser um militante socialista para a minha vida toda.”

A mobilização segue agora para os estados de Santa Catarina, Amapá, Pará e o Distrito Federal, com encerramento previsto para 26 de junho, no Rio de Janeiro – data do aniversário de 43 anos do deputado. Em seguida, Glauber e apoiadores partirão para uma jornada até Brasília, passando por 23 municípios até o dia da possível votação da cassação, marcada para 1º de julho.

“Algumas pessoas podem dizer: ‘Ah, mas tá querendo aparecer fazendo greve de fome’. Eu estou querendo aparecer. O que está acontecendo é para amplificar a organização para a luta. […] É fazer essa mobilização pelos 23 municípios, conversando com as pessoas que não sabem o que está acontecendo, ter a possibilidade de explicar, de dizer e chegar no dia 1º de julho, em Brasília, preparado para essa votação” explicou Glauber.


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Camila Souza