Uma vitória popular de caráter democrático! Perdem Kast, Bolsonaro e os fascistas de todo mundo

Uma vitória popular de caráter democrático! Perdem Kast, Bolsonaro e os fascistas de todo mundo

A vitória popular de Boric encerra o ano político de 2021 como um duro golpe contra a extrema-direita e um passo adiante nos processos de lutas, rebeliões e disputas politicas.

Israel Dutra e Pedro Fuentes 20 dez 2021, 21:20

Eram centenas de milhares que festejavam na noite de domingo, o amplo triunfo eleitoral popular, tomando as grandes alamedas, tomando os espaços próximos ao Palácio La Moneda e a Praça Dignidade, como na canção de Pablo Milanés, praças “liberadas”. Não era pra menos. A vitória de Boric encerrava o ano político de 2021, representava um duro revés para extrema-direita e dava um passo a frente no processo de lutas, rebeliões e disputas políticas que teve como ponto alto o levante de outubro de 2019. 

O resultado do primeiro turno foi um sinal de alarme, com a vitória apertada do pinochetista Kast por dois pontos, além de uma série de candidaturas alinhadas com a direita bem posicionadas como Parisi. Boric, que depois de prévias contra Jadue do PC, garantiria o apoio de boa parte dos setores progressistas, em chave de unidade, chegou atrás, gerando apreensão de caráter histórico para o povo e a esquerda chilena. Num resultado singular, o candidato derrotado no primeiro turno, com uma disputa de alta intensidade, recuperou e ampliou sua situação- é muito difícil um candidato perder o primeiro turno e ganhar o segundo. O primeiro turno também representou a queda dos partidos tradicionais, levando assim, Gabriel Boric e José Kast a um duelo inédito na segunda volta. 

O segunto turno foi uma batalha política concentrada, com ampla mobilização popular e de redes, com recortes programáticos, culturais e sobretudo, de uma polarização há muito tempo não vista. 

A resposta foi contudente. Boric obteve a maior votação da história do Chile. Teve mais de 10 pontos na frente, com quase 56% dos votos válidos, logrando mais de 60% nas areas centrais como Santiago, Região Metropolitana e Valparaiso. 


Consideramos uma vitória popular  e democrática que se soma às últimas e fundamentais derrotas das extrema-direita e de governos totalitários que ganharam força com a ascensão de Trump. A vitória de Biden em 2020 foi parte disso, a reversão do golpe da Bolívia com a vitória eleitoral do MAS e agora, na América Central, onde Xiomara Castro representa a volta ao poder das oposições derrubadas pelo golpe institucional de 2009, em Honduras; e junto a isso, podemos inscrever também nas batalhas onde emergeriram novos atores e lideranças como foi o caso do Peru, onde o desconhecido líder de greves de professores, Pedro Castillo bateu a Keiko Fujimori na disputa presidencial. 


O primeiro turno no  Chile mostrou uma contradição. Em um país que passara recentemente por um levante insurgente e pelo triunfo de uma Constituinte, a ameaça de que um candidato aberto na defesa da ditadura seria um governo havia surgido com o primeiro turno em que Katz chegara primeiro. Esse resultado foi a conseqüência de que, naquele primeiro turno, uma parte dos trabalhadores e estudantes insurgentes que haviam ganhado as ruas para derrotar o modelo neoliberal implantado pela sangrenta ditadura de Pinochet, que não havia sido alterado, não viram em Aprovar Dignidad ( Coalizão de Boric) uma alternativa e muitos não votaram.

O segundo turno representou uma importante mudança: foi uma guerra política à quente.
 Apesar da violenta campanha anticomunista levada a cabo pela direita, a maioria dos chilenos entendeu que estava em jogo: eram as liberdades democráticas, rejeitava a direita autoritária e a direita de Pinochet e evitar o retrocesso. 

Na vanguarda desse processo, que transbordou apenas a luta partidária, estiveram as mulheres e a juventude, com a palavra-de-ordem de freiar a Kast, retomando o perfil da mobilização que teve lugar na grande rebelião de outubro de 2019. 

Podemos dizer que o segundo turno chileno condensou e foi o ponto alto de uma grande polarização política e social, que é também continental e com impactos em todo planetta, que longe de ser resolvida, apenas ingressa em novas etapas. 

É preciso avançar e atender as demandas da rebelião social 

É verdade que Boric é o novo, uma nova geração política que surgiu nos grandes protestos estudantis de dez anos atrás, ainda que não possa se colocar como genuíno e autêntico das aspirações das grandes mobilizações que expressaram o rompimento com os modelo neoliberal e o regime político atual. 

Quando as mobilizações insurgentes iniciadas em outubro de 2019 romperam o regime político e colocaram em ordem a saída do governo Piñera, Boric ingressou no setor de esquerda que era um fator de conciliação com o regime. Ele votou no parlamento o acordo para parar a mobilização e que condenou as barricadas e saques. Na campanha eleitoral fez um discurso sobre a reforma da aposentadoria privatizada e outras medidas como a economia verde, mas depois correu ao centro para atrair os votos da velha concertação, atrás das aspirações do povo. Por isso, parte da classe dominante e dos partidos de centro viram que era uma saída para a conciliação de classes diante da crise política e social que atravessa o país.

Tampouco se alinha diretamente com o velho progressismo, tendo uma agenda distinta, incorporando com mais forca temas que se expressaram nas agendas políticos dos últimos dez anos no Chile: a questão estudantil, o problema climático, a força do movimento das mulheres e da luta LGBTI, a questão da auto-determinação do povo mapuche. E vale mencionar que Boric também se separou da ditadura de Ortega, quando boa parte do antigo progressismo e da velha esquerda aplaudiu sua eleição.
Nesse sentido, e sendo representante de um novo progressivismo que já tinha como expressão andina o ex-professor e agora presidente do Peru Castillo, estará sujeito a fortes pressões de seus novos aliados para criar um governo que siga os passos da Argentina. com Fernandez ou o Brasil com um possível futuro governo Lula-Alckmin que já sabemos não está propondo nenhuma mudança estrutural, mas antes administrar, com maior intervenção e concessões do Estado, a atual crise em que estamos imersos.


Ora, uma coisa é a política que vai resultar do novo governo Boric e outra são as aspirações dos que votaram nele, os trabalhadores e setores da população pobre, os povos indígenas. 

Desses milhões que votaram neles estão as centenas de milhares (— mais de um milhão com certeza) que fizeram os dias de outubro de 2019 e aprenderam muito na mobilização e que entendem que “um governo para todos” não é possível. Que devemos começar a ajustar os ricos, avaliar as grandes fortunas, nacionalizar as pensões e devemos mudar o regime político.
A situação está aberta. Até porque existe a Assembleia Constituinte que com este resultado eleitoral pode tomar um novo impulso e tornar-se um verdadeiro poder constituinte que realiza as transformações económicas e políticas no atual regime. A redação final da carta constituinte e sua futura aprovação ou não em plebiscito será a primeira das grandes batalhas nacionais sob o  novo governo.

A luta pela liberdade dos milhares de presos políticos que seguem no cárcere por conta da rebelião, assim como a necessidade de impulsionar um movimento de massas que estimule a auto-organização popular são parte das demandas não atendidas após a eleição da constituinte. 

A luta pelo futuro 

As novas coordenadas políticas que sairam das urnas Chilenas apenas começam a se decantar. 

 O resultado eleitoral, embora tenha sido uma derrota para a direita, colocou um novo líder desta com características neofascistas, o chileno Kast, que além do reconhecimento da derrota e de palavras demagógicas e conciliadoras vai se afirmar seu peso alcançado e a força no parlamento para sabotar e impedir o novo governo. Desde Pinochet e da ditadura, nenhum líder de tipo fascista conseguiu tal alcance e capacidade organizativa no Chile. Tal qual Trump, que usa do palanque da oposição para seguir organizando seus apoiadores, Kast não fará diferente e vai recorrer aos seus próprios métodos para lutar- de forma aberta ou velada- contra as demandas e as próprias organizações do movimento de massas.
Contudo, para o futuro, a esperança não se reduz às urnas. 

A nova vanguarda ampliada  chilena e as organizações fortalecidas ou emergidas da mobilização terão o desafio de manter sua auto-organização independente, defendendo o programa de mobilização e dando passos para a construção de um novo instrumento político. A situação chilena está aberta. A consciência adquirida nas grandes jornadas da rebelião estão amadurecendo e se desenvolvendo nos bairros, categorias, grupos feministas, escolas e universidades.  E seguem desenvolvendo a confiança apenas nas suas próprias forças. 

Os desafios são grandes. Que esta vitória eleitoral seja apenas um  passo! 

O futuro reserva enormes esperanças. E antes que nada estão nas mãos do povo chileno, que unido e com voz de gigante grita: Adiante! Adiante! 


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