Ação criminosa de Roberto Jefferson ganha repercussão internacional
Roberto Jefferson

Ação criminosa de Roberto Jefferson ganha repercussão internacional

A ação violenta de Roberto Jefferson, aliado de longa data de Bolsonaro, teve repercussão mundial. No Brasil, onde pretos são violentados sistematicamente, fica cada vez mais evidente o caráter elitista e racista da “polícia política” do atual governo.

Redação da Revista Movimento 24 out 2022, 12:48

Os desdobramentos da prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) ganharam repercussão internacional. Jornais como Washington Post, Der Spiegel, Le Figaro, La Nación e The Guardian publicaram reportagens nas quais expõem a como “tentativa de homicídio” de um aliado do presidente da República Jair Bolsonaro (PL) contra policiais federais. Um delegado e uma policial ficaram feridos.

O episódio ocorreu no domingo (23), a uma semana do segundo turno das eleições. Por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), agentes da Polícia Federal (PF) foram até Comendador Levy Gasparian (RJ) para cumprir mandato que revogava sua prisão domiciliar. Jefferson, porém, resistiu. Entrincheirado na residência, ele divulgou vídeos afirmando que não se entregaria e ainda disparou granadas e, pelo menos, 20 tiros de fuzil contra os policiais.

“Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: ‘sai porque eu vou pegar vocês’. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação”, disse,e em um dos vídeos.

O Jornal Los Angeles Times publicou que foi “surpreendente até para os brasileiros, cada vez mais acostumados com políticos e ativistas de direita desrespeitando os juízes do Supremo Tribunal Federal”, destacando que o evento acontece “poucos dias antes do segundo turno das eleições presidenciais”.

A agência de notícias britânica Reuters enfatizou a divisão que foi gerada dentro da polícia federal, e após entrevistas com agentes da instituição que pediram anonimato, mostrou a insatisfação de oficiais com o atual governo:

“Como alguém citado em vários processos criminais tem autorização para registrar armas, inclusive um fuzil automático?’ disse um oficial federal. “Qual é a autorização dele para carregar granadas?”, completou.

Ainda outros oficiais compararam o tratamento dado por Secundo (mediador da PF no caso) a Jefferson com as reações das forças policiais brasileiras que, segundo o Jornal, são “as mais mortíferas do mundo”:

“Se isso fosse em uma favela com um cara pobre ou negro, não teria sido assim”.

Agora preso por tentativa de homicídio, Roberto Jefferson ainda divulgou uma nota na qual qualificava a prisão domiciliar como  “decisão ilegal” e uma “injustiça”. Ele se entregaria apenas às 19h, após extensa negociação – que durou oito horas – com a PF, que além de cumprir o mandado de prisão prendeu o ex-deputado em flagrante por quatro tentativas de homicídio.

“A política armamentista do bolsonarismo permite que um sujeito condenado por diversos crimes e investigado por tantos outros, tenha armas em casa. A função delas podemos confirmar hoje: cometer mais crimes. Bolsonaro arma bandidos!”, comentou a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), em suas redes sociais.

Para o The Guardian o episódio é um giro de qualidade na conjuntura de violência no Brasil:

“A tóxica eleição presidencial do Brasil tomou um rumo surreal e violento depois que um aliado radical do presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro , usou granadas de mão e um rifle para atacar policiais federais enquanto tentavam prendê-lo. Roberto Jefferson, ex-deputado que chamou Bolsonaro de “amigo pessoal”, lançou o ataque no domingo depois que a polícia chegou à sua casa nas montanhas ao norte do Rio de Janeiro”, diz a reportagem.

Uma negociação ‘estranha’

Especula-se que a ação de Jefferson teria sido orquestrada pela extrema direita, com apoio da ala bolsonarista da PF, para tumultuar a reta final das eleições. Reforça essa teoria um vídeo que passou a circular nas redes sociais na manhã desta segunda-feira (24). Nele, um agente da PF conversa com Roberto Jefferson, dentro da casa do ex-político, depois de ele haver disparado contra seus colegas. As imagens mostram que o ex-deputado acompanhado do candidato à presidência pelo PTB, Padre Kelman, em amistosa conversa com o policial. A postura do agente público – que entre sorrisos, ouve justificativas do atirador e se coloca à sua disposição – causou estranhamento na corporação.

“Eu quero lhe dizer uma coisa. Não atirei neles. Eles sabem disso. Eu cheguei e eles estavam embaixo, e eu com fuzil”, explica Jefferson.

“Os meninos estão bem”, se referindo aos agentes feridos.

“Eu falei, ‘vocês não têm como me libertar. Vocês não estão armados’. Todo mundo sem colete. De peito nu”, continua o ex-deputado.

O agente, rindo, explica que os colegas que cumpriam a ordem de prisão eram do setor de inteligência, “burocráticos” e não eram operacionais. Por fim, o policial diz  que “o que o senhor precisar a gente vai fazer”.

A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) mostrou-se indignada com o tratamento dado pelo agente a um homem que resistiu à prisão e tentou matar policiais.

“Que escárnio! A Polícia quase pede desculpas por ter que prender o terrorista amigo do Bolsonaro. Que mundo é esse que preto da periferia é morto pela PM porque anda com guarda-chuva e corrupto de colarinho branco é agraciado após ter ATIRADO e jogado granada contra a PM?”, questionou.

Em entrevista a Globonews, o presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, questionou o tipo de interação e a própria abordagem a um agressor que colocou em risco a vida dos policiais e da vizinhança.

“É muito estranha a postura. Normalmente, [em situações como essas], se se isola o perímetro e faz-se uma negociação externa, nunca entrando no recinto do agressor e não permitindo que ninguém entre no local”, disse Camargo, em referência à presença de  Kelman na residência de Jefferson.

O mandado do STF

A PF foi à casa de Jefferson cumprir ordem de prisão determinada por Alexandre de Moraes. A decisão veio depois de o ex-deputado publicar vídeos em que ofende a ministra Cármen Lúcia, do STF, com palavras como “prostituta”, “vagabunda” e “arrombada”. Ele estava proibido de usar as redes sociais, mas o vídeo foi publicado no perfil de sua filha, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB). A conta de Cristiane foi suspensa.

Mas, na realidade, a decisão de Moraes relaciona a revogação da prisão domiciliar ao descumprimento de medidas cautelares na prisão domiciliar, como receber visitas, passar orientações a dirigentes do PTB, conceder entrevistas e compartilhar fake news que atingem a honorabilidade e a segurança do STF e de seus ministros, “atribuindo e/ou insinuando a prática de atos ilícitos”.

No despacho, além de revogar a prisão domiciliar, Moraes proibiu Jefferson de dar entrevistas ou receber quaisquer visitas no estabelecimento prisional, desde que tenha autorização do Supremo, inclusive no que diz respeito a líderes religiosos, familiares e advogados. Também foi determinada a busca e apreensão de documentos e bens, além de todos aparelhos eletrônicos em todos os endereços residenciais e profissionais do ex-deputado bolsonarista.

Bolsonaro tenta se desvincular de aliado

Percebendo que a ação desastrada de Jefferson contra os policiais poderia gerar desgaste em sua campanha à reeleição, Jair Bolsonaro, tratou logo de tentar de se desvincular do aliado. Além de condenar a atitude, chegou a dizer que não tinha uma única foto com Roberto Jefferson – uma mentira rapidamente desmentida pela imprensa e pelas redes sociais.

Mas em atitude que só pode ser compreendida como um gesto de amizade, o presidente da República mandou que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse até Comendador Levy Gasparian para ajudar a acabar com a “crise”. É possivelmente inédito que um chefe de Executivo de uma grande nação dita democrática envie um ministro para defender um criminoso in loco.

Ao UOL, o presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal, Bruno Espiñeira,cobrou investigação sobre o envolvimento do ministro da Justiça no episódio envolvendo.

“Me parece uma situação atípica e as consequências disso me parecem que deverão ser investigadas pelo próprio ministro relator [Alexandre de Moraes], que determinou essa voz de prisão”, disse o advogado criminalista. “Esse mandato era mais importante do que as dezenas de outros mandatos expedidos diariamente no país afora? É uma questão de causa perplexidade e merece resposta”, acrescentou.


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