AGORA É ASSIM! Porto Alegre tem protesto antirracista em apoio a Seu Jorge
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AGORA É ASSIM! Porto Alegre tem protesto antirracista em apoio a Seu Jorge

Manifestação reuniu mais de mil ativistas no Rio Grande do Sul na tarde deste sábado

Nathália Bittencurt 22 out 2022, 19:41

Os novos protestos antirracistas nas redes e nas ruas marcaram a última semana no país. A reação ao racismo sofrido pelo humorista e músico negro Eddy Jr, em São Paulo, e pelo artista Seu Jorge, em Porto Alegre, demonstra a forte disposição da juventude e do movimento negro em não tolerar mais nenhum tipo de violência e, além disso, desconstruir o preconceito racial enraizado no Brasil.

Em SP, Eddy Jr denuncia vizinha racista em rede social e protesto chega ao condomínio 

Na última quarta-feira (19), Eddy Jr publicou em seu Instagram a perseguição sistemática de Elisabeth Morrone, uma moradora branca do condomínio United Home & Work, onde ambos moram. Em um dos momentos cotidianos de tentativa de intimidação, a mulher recusou-se a usar o mesmo elevador que humorista. “Macaco”, “neguinho” e “perigoso” são algumas palavras de cunho racista que Elisabeth usou para argumentar que “pessoas deste tipo” não poderiam frequentar o condomínio.

Uma grande manifestação antirracista ocorreu nesta sexta-feira (21) em frente ao condomínio. A vereadora Luana Alves (PSOL) e a co-deputada estadual Ana Laura (Movimento Pretas, PSOL), estiveram no ato político pressionando pelo fim da perseguição. Luana avisou que o movimento negro “não vai mais abaixar a cabeça”, pois foram as pessoas negras que construíram São Paulo.

Porto Alegre manifesta apoio a Seu Jorge e protesta

O cantor Seu Jorge apresentou-se em uma festa privada de reinauguração Grêmio Náutico União (GNU), clube tradicional da elite da capital gaúcha, no dia 14 de outubro. Durante o show, o músico manifestou sua opinião sobre temas relevantes, como o debate sobre a maioridade penal, a educação pública e o combate ao racismo. Seu Jorge também convidou um garoto para tocar cavaquinho junto a ele no show. Ao final, parte do público reagiu fazendo sons alusivos à macacos, além de gritar as palavras “mito” e “negro vagabundo”. Diante das ofensas e vaias, o artista decidiu não retornar ao palco para o bis.

Os xingamentos racistas, que também demonstram conexão evidente com a polarização de candidaturas da disputa presidencial, foram assunto nas redes sociais nos dias seguintes. No início desta semana, Seu Jorge e o presidente do Grêmio Náutico União, Paulo José Kolberg Bing, manifestaram-se sobre o ocorrido. 

O presidente do clube, em entrevista à rádio Gaúcha, creditou a repercussão nacional da prática racista aos movimentos de esquerda, e aproveitou para criticar as roupas que Seu Jorge escolheu para sua apresentação na festa. Para Paulo, não era esperado que o artista fizesse qualquer manifestação sobre os temas sociais que mencionou no show, o que é uma característica de Seu Jorge.

Já o cantor publicou, em suas redes sociais, um vídeo de quase 10 minutos nos quais reforçou seu carinho pelo Rio Grande do Sul, pela tradição gaúcha na música nacional, e pelos gaúchos que acompanham sua carreira.

“Particularmente, não vi nenhuma pessoa negra no jantar. E as pessoas negras que eu encontrei foram somente os funcionários que, uma coisa que me causou muita espécie, eu ouvi dizer que eles estavam proibidos de olhar pra mim ou falar comigo quando eu chegasse no local do show”, comentou.

Seu Jorge convocou os gaúchos a se unirem no combate ao racismo estrutural brasileiro:

“Ao povo negro do Rio Grande do Sul e de toda a região do Sul, quero dizer que amo todos vocês, e admiro, respeito. E digo também que estamos mais unidos do que nunca e que vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidade no Brasil”, afirmou no vídeo.

A Polícia Civil declarou que vai investigar o caso e já solicitou acesso às câmeras do clube.

Márcio Chagas, ex-árbitro de futebol, ativista do movimento negro e militante do PSOL, se uniu à convocatórias e provocou a conscientização dos apoiadores da luta antirracista, lembrando que é urgente que todos e todas conversem a respeito dos casos de racismo em seus núcleos sociais, no intuito de não mais permanecer coniventes com a lógica racista enraizada na sociedade. Em manifesto publicado, Márcio afirma que “… agora é assim. Não é novidade porque nosso povo sempre brigou para existir. Agora, reuniremos mais gente, seremos mais. Acabou. Rasgaremos as notas de repúdio…”

Passeata reuniu mais de mil ativistas em frente ao GNU

Diversas organizações sociais de ativistas negros começaram a convocar um protesto na tarde deste sábado (22), com ponto de encontro na Praça da Encol, no bairro nobre Bela Vista. 

Com forte aparato de segurança pública ao redor da praça, a concentração começou animada pelas baterias dos coletivos e falas sobre os casos constantes de racismo. A bancada negra de Porto Alegre, que conta com Karen Santos e Matheus Gomes (ambos do PSOL), esteve junto aos movimentos sociais.

Por volta das 17h, a caminhada começou com mais de mil pessoas na Avenida Nilópolis. Os manifestantes iniciaram no sentido Centro e retomaram o sentido bairro ao chegar na rua Simão Arnt, no fim da Praça da Encol, ao grito de “Fogo nos racistas! Fogo nos racistas!”

O dirigente do coletivo Juntos!, Daniel Oliveira, encerrou o ato enfatizando o que verdadeiramente irritou os convidados que protagonizaram as expressões racistas na festa do clube:

“O Seu Jorge fez um show que inverteu a lógica racista de subserviência do povo negro. Sua manifestação política em seu próprio show contrariou o GNU. Podem se preparar. Agora é assim! Agora é assim!”

Gilvandro Antunes, militante do PSOL e do movimento Vidas Negras Importam RS, destacou que “Porto Alegre é a cidade mais segregada racialmente do Brasil. Estar aqui no Bela Vista, o bairro mais elitizado da cidade, para protestar contra o racismo sofrido pelo Seu Jorge, é fundamental para dar o recado de que os racistas não passarão. Estamos no coração do racismo em Porto Alegre. Nós vamos resistir.”

A vereadora suplente Fran Rodrigues (PSOL) destacou que “no último período, a violência contra a população negra tem se potencializado. É evidente que o Bolsonaro tem fortalecido essa violência contra os nossos corpos. Agora vai ser assim. Nenhum minuto de paz aos racistas”.

O ato político foi organizado sobretudo por mulheres negras. A diretora da ASSUFRGS Tamyres Filgueira e o coordenador do movimento Vidas Negras Importam RS Gilvandro Antunes, ambos do PSOL, contribuíram na coordenação. Aos gritos de “Fora Bolsonaro Racista!” a manifestação encerrou em frente ao GNU.

Além do papel decisivo dos governantes, das leis vigentes, da impunidade e das instituições, o racismo se fortalece a cada vez que fazemos ou vemos graça em piadas racistas, ou mesmo quando escolhemos ficar em silêncio diante da discriminação racial. Chega de tratar todos os casos como casos isolados. É urgente ajustar a consciência retrógrada e colonial de que um artista negro está sobre um palco exclusivamente a serviço do entrenimento de um público branco e socialmente privilegiado. Neste século, já não basta gargantear “não sou racista”. É urgente se colocar em todo e qualquer combate antirracista.


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