A luta pela vida do planeta não permite vacilações
Uma crítica ao voto do deputado Guilherme Boulos no parlamento em favor da matéria que incentiva a criação de usinas poluentes
Foto: Wikimedia Commons
Via Juntos!
A crise climática não é um tema novo, há décadas movimentos ambientais, estudiosos elaboram e atuam em cima dessa pauta. Se a invasão de territorios indígenas e quilombolas, o garimpo ilegal, desmatamento da Amazônia já eram ataques ao meio ambiente e seus povos, sendo assim uma realidade que anunciava uma catástrofe ambietal, nos últimos meses as consequências da exploração desenfreada dos recursos naturais do planeta foram escancaradas e estão sendo sentidas na pele, seja no campo, nos rios, nas florestas ou nas cidades.
A forte onda de calor que atinge as cidades brasileiras, e que no Rio de Janeiro chegou a marcar sensação térmica de 60°, as enchentes na região sul do país, as nuvens de fumaça que tomam conta das cidades de Manaus e Santarém, a seca dos rios no estado do Amazonas e as grandes queimadas no Pará, são resultados de uma tragédia anunciada e financiada pelo modus operandi capitalista. A crise climática tem culpado, e são os bilionários donos de conglomerados de empresas ao redor do mundo que exploram o planeta, mas também os grandes madeireiros, sojeiros, garimpeiros que aqui são representados e financiados pela bancada ruralista na Câmara Federal.
É nesse cenário de instabilidade ambiental que os movimentos indígena, quilombola, social, do campo e da cidade, ativistas e militantes do meio ambiente, buscam apresentar alternativas que possam frear essa crise que vivemos e que avança a passos largos. O esforço de se pensar um outro modelo econômico que seja conectado às necessidades do povo, no bem estar do planeta e que rompa com o desenvolvimentismo é uma exigência de nosso tempo.
Sendo assim, vemos como grave o voto favorável de Guilherme Boulos ao projeto que incentiva a criação e operação de usinas termelétricas movidas a gás natural e a carvão no Brasil, já que estas são responsáveis por gerar energia com mais emissões de gases com efeito estufa. Esse projeto além de ser um crime ambiental, já que segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, 13 usinas termelétricas foram responsáveis por emitir 51% de gases com efeito estufa, dessas, oito eram movidas a carvão e 5 a gás, é também uma porta de entrada para atrair empresários que vão lucrar em cima da vida do planeta.
Não é de se assustar os votos favoráveis daqueles que se apresentam como esquerda, como o PT e PCdoB, que em outros momentos já mostraram seu lado no que diz respeito à pauta ambiental, o maior exemplo disso é a construção de Belo Monte nos governos petistas. Mas, do PSOL se espera uma posição diferente, já que somos um dos partidos que mais atuam na pauta ambiental, seja através de nossos parlamentares, seja na base dos movimentos nos quais temos inserção real de construção diária em defesa do meio ambiente e seus povos. Esse voto favorável vai contra as bandeiras do PSOL independente e anticapitalista que construímos. Vale ressaltar que como líder da bancada Boulos além de votar favorável, autorizou que os demais parlamentares seguissem seu voto, o que felizmente não aconteceu, todos os demais votaram não, e tivemos três ausências importantes de Talíra Petrone, Erika Hilton e Célia Xakriabá.
Não há justificativas que possam ser dadas que aliviam essa equivocada posição de Boulos, ainda que se tente levantar a questão da “agenda verde” como motivo do voto favorável, pois sabemos que o capitalismo se reinventa e assume nossas roupagens e hoje se apresenta por aí como “capitalismo verde”. A verdadeira “agenda verde” deve ser construída pelas mãos daqueles que lutam há séculos em defesa da mãe terra e que hoje dedicam suas vidas para pensar saídas coletivas e ecossocialistas para essa crise.
Por que então Guilherme Boulos escolheu ir contra os interesses daqueles que batalham pela manutenção da vida humana na terra? Nós compreendemos que as nossas bandeiras de luta são inegociáveis, a luta ambiental é uma urgência, será que Boulos ainda não compreendeu a gravidade ecológica que estamos vivendo? Aqui falamos sobre vidas, e a luta pela vida do planeta não permite vacilações.
Não em nosso nome! Nosso compromisso de luta em combater a crise climática, por uma transição energética sustentável, contra o uso de energias fósseis que agravam os danos ambientais, por um novo modo de vida construído pelos saberes ancestrais aliado ao debate do ecossocialismo, é uma necessidade de atualização programática da esquerda, e esse é o nosso compromisso, do Juntos!, do MES/PSOL de seguir levando essa luta adiante.