Musk é inimigo da liberdade
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Musk é inimigo da liberdade

Os ataques do bilionário contra Alexandre de Moraes incentivam a extrema direita brasileira

Israel Dutra e Roberto Robaina 10 abr 2024, 12:16

Foto: CC BY-NC 3.0

O bilionário Elon Musk utilizou sua rede social para atacar o ministro Alexandre de Moraes, questionando o porquê de “tanta censura” no Brasil. Em seguida insinuou que houve manipulação eleitoral, sugerindo que não iria acatar as decisões da corte suprema brasileira e pedindo, por fim, o “impeachment” de Moraes.

Como resposta, Musk foi incluído pelo ministro do STF na lista de investigados no inquérito que apura a existência de milícias digitais difundindo fakenews e práticas golpistas.

A Folha de SP reproduziu a correta declaração do ministro do STF Alexandre de Moraes: ” A conduta do X configura, em tese, não só abuso de poder econômico, por tentar impactar de maneira ilegal a opinião pública, mas também flagrante induzimento e instigação à manutenção de diversas condutas criminosas praticadas pelas milícias digitais”

O acontecimento levou a um recrudescimento do debate sobre a regulamentação das redes sociais, o papel da rede social X e do próprio Elon Musk. É fato que a extrema direita no país segue polarizando, o que tem provocado uma profunda divisão da burguesia que se expressa no atual embate. E ele ganhou escala com a participação direta de Musk, um dos principais expoentes internacionais da extrema direita da burguesia.

Elon Musk, poderoso e autoritário

O dono da rede X tem um projeto de poder. Segundo a lista da revista Forbes, Elon Musk é a segunda pessoa mais rica do planeta, com fortuna estimada em 195 bilhões de dólares. Musk é proprietário de diversas empresas e além da X, que comprou quando ainda se chamava Twitter, controla a SpaceX (voltada para o setor espacial), a Starlink (empresa de satélites), a Tesla (sua principal empresa, do ramo de carros elétricos) .É proprietário ainda da XAI, Neuralink, The Boring Co, além de ter tido participação na OpenAI e Picpay, que demonstram em conjunto o peso e o poder de Musk.

Controverso nas redes sociais, oriundo de uma família sul-africana que apoiava o apartheid, Musk é responsável por memes racistas, apologia ao nazismo e fakenews sobre a eleição estadunidense. Seus projetos para a disputa espacial sinalizam para algo que até então era uma peça distópica ou de ficção científica – como a comédia “Não olhe para cima” – da construção de colônias espaciais para os super-ricos. Igualmente assustadora é sua perspectiva para a criação de chips cerebrais, especialidade da Neuralink.

Como se pode ver, Musk é um personagem central dos tempos atuais, um agitador e conspirador da extrema direita mundial. Na América do Sul, seus interesses são políticos e comerciais, desestabilizando governos de cunho democrático e ampliando a exploração do lítio, material chave para o desenvolvimento das baterias de carros elétricos.

Musk teve participação fundamental no golpe de estado contra Evo Morales na Bolívia, declarando “Vamos dar um golpe em quem quisermos! Lide com isso”, em postagem na sua rede social.

Essa tensão é a expressão da divisão da burguesia. Um setor está disposto a avançar em posições fascistas: tem Musk, a ala direita do sionismo e Trump como cabeças visíveis. O outro setor- que Moraes expressa no Brasil- não quer retroceder de conquistas civilizatórias e não aposta num projeto autoritário. Pelo menos não considera a necessidade de projetos autoritarismo para levar adiante a manutenção do sistema no atual estágio da relação de forças entre as classes sociais.

Qual liberdade?

O discurso de Musk, ao estilo de “apito de cachorro”*, agita sobre o conjunto da população a ideia de “liberdade” contra a suposta tirania do STF. É parte do discurso de Bolsonaro e Trump contra as eleições; o conceito de “liberdade” é fundamental para Milei, que se autointitula o máximo “libertário” para enfrentar as mediações do Estado. Mas não deve existir liberdade para quem conspira contra a liberdade de organização das lutas dos trabalhadores. Com o nazi-fascismo em sua versão atual não se negocia.

Sob o manto de Musk, o bolsonarismo tenta sair da situação defensiva em que se encontra depois da derrota eleitoral e do fracasso do golpe de 8 de janeiro. Tiveram êxito na mobilização nacional que fizeram na Avenida Paulista, embora não tenham alterado a relação política de forças. Com Musk ganharam fôlego nas redes.

A esquerda socialista não pode assistir e ser mera testemunha. Deve entrar com força no combate e se postular com uma política independente. Uma política que não se limite ao terreno eleitoral. Deve ser também ser uma resposta internacional, como até mesmo a extrema direita tem dado. Esta resposta deve ser organizativa e ter a mobilização de rua como método central. Esse é o sentido da Conferência Internacional Antifascista que acontecerá mês que vem em Porto Alegre.

Trata-se de um primeiro passo. Coloque a Marcha Antifascista de 17 de maio na sua agenda.

* Apito de cachorro, ou política do dog whistle, é uma mensagem política empregando linguagem em código que parece significar uma coisa para a população em geral, mas tem um significado mais específico e diferente para um subgrupo-alvo. A expressão é tradução literal do inglês, dog-whistle politics. A analogia com os apitos de cachorro é feita pois suas frequências se situam acima da capacidade de audição humana, mas podem ser ouvidas pelos cães.


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Pedro Micussi