Oscar 2025: uma vitória que fortalece a luta democrática
O filme vencedor Ainda Estou Aqui é mais uma importante ferramenta na luta contra os golpistas da atualidade
Foto: Reprodução
Em meio às preparações para o Carnaval, o Brasil vibrou com a vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar, premiado com a estatueta de melhor filme estrangeiro.
O filme, baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, retrata a vida de Eunice Paiva a partir do desaparecimento político de Rubens Paiva, vítima do terrorismo de Estado da ditadura civil-militar brasileira. Rubens Paiva foi um deputado eleito pelo PTB varguista e cassado pelo golpe de 1964, foi ao exílio e voltou ao Brasil, sendo torturado e assassinado em 1971 em mais um exemplo de que a ditadura vitimou até mesmo opositores “moderados”.
Para além das qualidades cinematográficas do filme, despertou o debate sobre a memória, os resquícios da ditadura e a luta no presente contra Bolsonaro e os golpistas. Fez como as exemplares películas argentinas A História Oficial (1986) ou O Segredo dos Seus Olhos (2010), ajustando as contas através da arte com um passado recente que ainda deixa suas cicatrizes nas sociedades latinoamericanas.
É preciso aproveitar o ambiente político favorável à discussão para colocar as principais contradições na ordem do dia, ampliando a mobilização contra a anistia aos golpistas contemporâneos ao redor do bolsonarismo e colocando a extrema direita em uma defensiva política e social.
Ainda estamos pendentes
A duríssima luta do povo brasileiro contra a ditadura contou com diversos capítulos, onde se combinaram tarefas democráticas, com diversos atores. A entrada em cena decidida da classe trabalhadora, ao final dos anos setenta, com suas greves nos polos industriais, foi o fator central, que catalisou a luta de todos outros setores, debilitando o regime dos generais. O processo de transição que envolveu as eleições indiretas, o debate da Constituinte de 1988 e o arranjo político que daria origem à Nova República restituiu direitos sociais e políticos fundamentais, mas deixou muitas tarefas pendentes.
O caráter incompleto da transição à democracia foi uma das marcas do novo regime nascido em 1988, preservando boa parte da estrutura militar e policial da ditadura. Diferente de países onde a transição incompleta foi mais avançada, como na Argentina, os militares seguiram impunes, com poucas exceções, reparações parciais e sua esfera institucional se manteve intacta. O genocídio da juventude negra aplicado como política de Estado por orgãos de repressão cuja organização foi formulada na ditadura é outro exemplo gritante desta continuidade.
Como um pesadelo recalcado, os militares seguiram com privilégios e benefícios, atuando nas sombras e alimentando um caldo de cultura que seria a base material para Bolsonaro e seu círculo mais íntimo. A recente intentona golpista de 8 de janeiro de 2023 abriu novamente o debate sobre essas chagas e a necessidade de evitar um novo pacto de anistia.
Portanto, a luta pela memória e a questão da anistia é mais atual do que nunca e está diretamente conectada com os enfrentamentos atuais da esquerda e de todo um amplo campo democrático antifascista que serve de barreira aos golpistas da extrema direita do século XXI.
É preciso dar um jeito
O destaque de Ainda Estou Aqui, assim como as diversas manifestações democráticas assistidas durante o Carnaval, dão uma dinâmica de esperança na resistência contra os reacionários dos nossos dias. Contra o medo paralisante ou a frustração perante as pequenas possibilidades do regime político burguês, nos cabe canalizar toda a comoção ao redor do filme já clássico para organizar forças sociais e ampliar nossa luta contra os golpistas de hoje.
Para isso, é essencial estarmos juntos impulsionando as diversas iniciativas e mobilizações pela punição exemplar de Bolsonaro e seus asseclas, contra a anistia aos golpistas da extrema direita e em defesa de uma agenda de mudanças que ganhe maioria social para enfrentar a extrema direita e vencer. As manifestações do próximo dia 30 de março serão um momento importante para ocuparmos as ruas nessa luta.
Ainda estamos aqui e lutaremos com cada vez mais vigor para que a história de violência não se repita.