Operários e burocratas
Reprodução

Operários e burocratas

1ª parte da série “Operários e Burocratas”.

Zbigniew Marcin Kowalewski 15 ago 2021, 16:06

A Revolução de Outubro criou as condições prévias indispensáveis para a tomada do poder pela classe operária no que se tornou a Rússia soviética. No entanto, antes que o poder que tomou pudesse ser consolidado, começou a escapar-lhe. O facto de a primeira revolução operária vitoriosa do mundo ter ocorrido num país menos desenvolvido e ter permanecido isolada – ou seja, que ao contrário das expectativas dos seus líderes e participantes, não foi seguida de revoluções vitoriosas nos países altamente desenvolvidos que poderiam ter “dado uma força” para a Rússia soviética – foi um fator determinante. A crise socioeconómica extremamente grave que levou à revolução, causada pela guerra mundial, foi grandemente exacerbada pela guerra civil.

A classe operaria era numericamente pequena na Rússia, e o proletariado industrial era uma minoria dentro dela, mas altamente concentrada. As suas fileiras duplicaram temporariamente durante a Guerra Mundial, depois diminuíram a partir de meados de 1918, regressando ao seu nível anterior à guerra, e voltando a diminuir nos quatro anos seguintes. Durante a guerra civil muitos trabalhadores industriais juntaram-se ao Exército Vermelho e morreram, muitos foram trabalhar nos aparelhos do partido e do estado, e muitos outros dispersos na busca desesperada de sobrevivência, principalmente no campo, mas também no mercado negro.

Numa discussão entre historiadores, Sheila Fitzpatrick escreveu que no final da guerra civil o número de trabalhadores industriais tinha sido reduzido por um fator de três – para apenas um milhão. “Durante o curso da guerra civil, talvez um milhão de trabalhadores foram transformados em camponeses, refutando a noção de maturidade da classe trabalhadora apresentada pelos bolcheviques“. Ronald Suny respondeu: “Deve tal movimento da cidade para o campo, da fábrica para a quinta, ser entendido tão categoricamente como a passagem de uma classe para outra, sem ter em conta a experiência que estes homens e mulheres proletarizados levaram com eles?”[1] Ambos fazem a perguntaerrada. Na sua maioria, aqueles que foram para o campo só tinham vindo trabalhar na indústria durante a Guerra Mundial.

Yuri Larin, um dos principais administradores da economia do “comunismo de guerra“, escreveu, com base nos dados do início de 1920: a modificação geralizada do proletariado industrial “é que o seu número foi reduzido em um quarto em comparação com o período de paz, principalmente devido à redução da indústria têxtil e dos trabalhadores não qualificados noutros ramos, mas com quase todo o núcleo do proletariado qualificado permanecendo no lugar. No que diz respeito ao elemento essencial da produção – a força humana viva qualitativamente preparada – trata-se de um organismo que diminuiu, mas que não foi destruído[2]. Continuou a diminuir até ao final de 1921, e finalmente, em comparação com o período anterior à guerra – é este período que deve ser tido em conta para as comparações, não o período de guerra – o número de trabalhadores industriais foi reduzido em mais de metade.

Continua aqui.

Este texto constitui a maior parte do p livro de Michał Siermiński, Pęknięta “Solidarność”. Inteligencja opozycyjna a robotnicy 1964-1981 (Solidarność rachado. A inteligência de oposição e os trabalhadores), Książka i Prasa, Warszawa 2020. Tradução de Alain Geffrouais para a Revista Movimento da versão francesa publicada pela Inprecor e estabelecida por Jan Malevsky.


[1] Sh. Fitzpatrick, « The Bolsheviks’ Dilemma: Class, Culture, and Politics in the Early Soviet Years » ainsi que R.G. Suny, « Class and State in the Early Soviet Period: A Reply to Sheila Fitzpatrick », Slavic Review vol. 47 n° 4, 1988, pp. 600, 619.

[2] Ю. Ларин, Д. Крицман, Очерк хозяйственной жизни и организация народного хозяйства Cоветской России. 1 ноября 1917-1 июля 1920 г. [Y. Larine, D. Kritsman, Aperçu de la vie économique et de l’organisation de l’économie nationale de la Russie soviétique. 1er novembre 1917-1er juillet 1920], Госиздат, Москва 1920, p. 44.


TV Movimento

A história das Internacionais Socialistas e o ingresso do MES na IV Internacional

Confira o debate realizado pelo Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL) em Porto Alegre no dia 12 de abril de 2025, com a presença de Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Roberto Robaina

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento
Editorial
Israel Dutra | 09 abr 2025

A primeira crise da Era Trump II

As consequências da nova guerra tarifária de Trump que derrubou bolsas de valores por todo planeta
A primeira crise da Era Trump II
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 55-57
Nova edição da Revista Movimento debate as "Encruzilhadas da Esquerda: Desafios e Perspectivas"
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as "Encruzilhadas da Esquerda: Desafios e Perspectivas"