Como responder à política golpista de Bolsonaro?

Como responder à política golpista de Bolsonaro?

Apresentamos 4 pontos que ajudam a responder à questão e apontam as tarefas centrais.

Israel Dutra 20 jul 2022, 20:35

Durante uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a repetir sua retórica golpista, agora numa ofensiva direta contra as urnas, o TSE e o STF. Bolsonaro voltou a atacar Barroso, Fachin e Moraes. Também afirmou que hackers podem fraudar as urnas eletrônicas, deixando escancarado algo que já era sabido: sua política golpista.

Na prática, a eleição já começou. Lula lidera com folga, mas Bolsonaro joga para responder a sua fragilidade eleitoral. O assassinato de Marcelo Arruda foi um salto na escalada de violência, para a qual uma série de episódios anteriores já apontava. Apresentamos 4 pontos que ajudam a responder à questão e apontam as tarefas centrais. O MES, dentro do PSOL e em nossas atividades gerais, não medirá esforços para materializar essa orientação:

1) Barrar o fascismo nas ruas e nas urnas

A situação econômica e social é muito ruim. Milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar. Cresce a miséria por todo lado. O poder de compra cai, assim como a renda. No plano político, às vésperas das convenções que definem as chapas nos estados, Bolsonaro quer ganhar terreno, disseminando mentiras para questionar o resultado eleitoral, numa estratégia golpista que a Folha de São Paulo também denunciou em editorial nesta quarta-feira (20).

As ações violentas do bolsonarismo têm como objetivo espalhar o medo e intimidar a oposição, diante do quadro em que sua derrota eleitoral começa a se desenhar no horizonte. Sem respaldo internacional e sem relação de forças para consumar um golpe, Bolsonaro precisa apostar na linha de “aproximações sucessivas”, com ameaças contra o STF e a oposição. Nas redes sociais e entre o ativismo pairam dúvidas sobre como melhor enfrentar a situação, enquanto os fascistas querem erguer a cabeça.

Não há outra saída senão apostar na própria luta de classes. Temos que repetir que somos maioria e devemos fazer um amplo chamado às ruas. Como foram no passado as “diretas já”, em unidade com todos os setores democráticos. Também é preciso conectar a luta pelas liberdades democráticas – contra um golpe que já avisa que não reconhecerá o resultado eleitoral – com as necessidades mais sentidas do povo. Não podemos apostar apenas nas urnas: sem uma ação histórica consciente, que coloque milhões nas ruas, não se poderá deter o plano golpista de Bolsonaro.

2) Ecoar o grito de “fora, Bolsonaro” votando em Lula

Uma questão diretamente ligada à luta política imediata é como construir a campanha eleitoral vinculada à necessidade de ir às ruas. A melhor forma é construir as condições para a derrota de Bolsonaro já no primeiro turno, com Lula chegando a 50% mais um dos votos válidos. Para isso, é preciso construir uma campanha “a quente” e com mobilização. A direção do PT sinaliza para mais ampliação de alianças, agora com ruralistas, como as articulações em Mato Grosso com a poderosa família Maggi, o senador Carlos Fávaro (PDS), ex-presidente da Aprosoja-MT, e o deputado Neri Geller (PP). O caminho da conciliação de classes é incapaz de oferecer uma mobilização para a ampla maioria social.

Para chegar à vitória no primeiro turno, será necessário mobilizar a ampla base contrária a Bolsonaro. Os milhões que foram às ruas, os milhões que sofrem as mortes da Covid-19 pela política negacionista e corrupta do governo. É preciso chegar às vielas e comunidades de todo o país, debatendo política. Dois terços da população ou rejeitam ou não apoiam diretamente o governo: são esses que precisamos mover e convencer. É fundamental dialogar com setores que majoritariamente se encontram sob a influência do bolsonarismo. Por exemplo, os trabalhadores de transporte e aplicativo sofrem com a alta de preços nos combustíveis que não pode ser resolvida de forma permanente com medidas demagógicas e sim com uma mudança na política de preços da Petrobras. Vale mencionar o trabalho que Luciana Genro vem fazendo com seu mandato sobre a baixa e média oficialidade da Brigada Militar no Rio Grande do Sul, disputando com política um setor estratégico.

Como PSOL, vamos dialogar com os milhões que nos apoiam e votam em nossas figuras públicas e parlamentares. Não vamos nos intimidar: vamos fortalecer a nossa militância, organizar nossa autodefesa e segurança, apelando para a luta de massas e popular. Esse é o caminho para dar segurança para o ativismo e enfrentar os elementos golpistas. Nossa campanha eleitoral estará voltada a derrotar Bolsonaro e seus representantes como tarefa principal. E vamos apresentar um programa de defesa dos diretos do povo, das liberdades democráticas, e de outro modelo econômico para o Brasil: taxar as grandes fortunas, auditar a dívida pública, combater a fome, mudar a política de preços da Petrobrás, reverter as contrarreformas neoliberais, defender um novo marco de justiça ambiental e garantir uma ampla reforma agrária são medidas urgentes e necessárias.

3) O triunvirato joga sua última cartada

A linha de Bolsonaro para viabilizar sua estratégia inclui Guedes e Lira, um triunvirato responsável por sua última cartada para evitar a derrota no 1º turno e para jogar desconfiança sobre os resultados no segundo turno. O triunvirato conduz uma linha demagógica que joga para frente os problemas econômicos, como as medidas questionáveis que ampliam o endividamento e não são capazes de solucionar a decadência do país e o empobrecimento do povo. Lira chefia a distribuição de emendas via orçamento secreto e coesiona o “centrão” para a disputa eleitoral por “baixo”.

Contando com o auxílio dos generais, que são parte de uma casta de alta remuneração no governo Bolsonaro, e com as cúpulas de parte das igrejas evangélicas, o genocida joga com suas fichas para tumultuar o resultado eleitoral, buscando testar os limites das instituições da democracia liberal e da resistência organizada da oposição para enfrentar, na pior hipótese, sua prisão e a de seus filhos e operadores.

4) Construir uma resposta e ir às ruas em 11 de agosto

A resposta das ruas deve ser organizada. Vários setores falam corretamente da necessidade de sair às ruas, combinando uma agenda de atos públicos com a campanha eleitoral. Com a volta das férias de inverno, as frentes e setores sociais e partidários deveriam somar-se à mobilização que o movimento estudantil prepara para o dia do estudante, 11 de agosto.

Essa seria uma primeira demonstração para construir uma escalada de atos em resposta ao golpismo e para construir um ambiente que concretize a eleição de Lula, colocando Bolsonaro para fora do Palácio do Planalto, apoiando-se na juventude de forma ampla, um sujeito social decisivo para os enfrentamentos ao governo, tanto no “tsunami da educação” em 2019 como nas jornadas pelo “Fora, Bolsonaro” ao longo de 2021. Além disso, é preciso construir a unidade de ação entre todos os setores democráticos, coordenando ações de massas para os próximos meses, única forma de deter o bolsonarismo.


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