Uma comemoração e três desafios para o ano que vai nascer
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Uma comemoração e três desafios para o ano que vai nascer

Precisamos comemorar e muito a derrota de Bolsonaro, mas a primeira grande tarefa é combater o bolsonarismo

Israel Dutra 29 dez 2022, 18:00

Falta pouco. Estamos em contagem regressiva para cumprir o refrão que se popularizou “está na hora do Jair ir embora”.

Em muitos aspectos, 2022 foi o ano mais longo, politicamente, do último período. Um ano de crises, instabilidade econômica e política, expressa na invasão Russa da Ucrânia e no retorno da inflação como fantasma, mesmo nos países centrais. Um ano onde o tema climático se tornou ainda mais urgente para o futuro do Planeta.

Em nosso país, desenvolvemos uma longa jornada para derrotar e expulsar do poder o genocida Jair Bolsonaro. Com as mobilizações de ruas interditadas e insuficientes, não restou outro caminho senão a luta eleitoral, para fazer valer a mais importante tarefa desde a redemocratização do país.

Precisamos comemorar e muito, a derrota de Bolsonaro – principal vitória popular do país, dos trabalhadores e do povo brasileiro dos últimos anos. Foi uma vitória que vinga o genocídio dos quase 700 mil brasileiros que foram vitimados pela Covid; uma vitória da juventude negra, que nas periferias enfrentaram as atrocidades policiais e a ação dos milicianos; das mulheres, do povo nordestino; dos povos que defendem a Amazônia.

A posse de Lula abre um novo período no país. Como temos descrito, temos enormes desafios que se abrem. A semana foi agitada com o anúncio da equipe ministerial e as prisões de bolsonaristas suspeitos de preparar atentados.  

 Em clima de comemoração, terminamos o ano apontando os três grandes desafios para seguir no combate.

Acertar as contas com o genocida para debilitar o bolsonarismo

A primeira grande tarefa é combater o bolsonarismo, que mesmo derrotado eleitoralmente e desmoralizado pela inação de seu líder continuará representando um grande risco para o país. Os recentes ataques da extrema-direita em Brasília, incluindo uma tentativa mal-sucedida de atentado a bomba de grandes proporções no aeroporto da capital, demonstram que o movimento golpista instalado na frente dos quartéis e apoiado por setores de empresários continuará se mobilizando no próximo ano independentemente das movimentações de apoiadores casuais de Bolsonaro, como os partidos fisiológicos e determinadas redes de mídia.

A recente ação de Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, e da Polícia Federal contra os golpistas mostra o caminho a ser tomado, indo fundo nas investigações sobre as redes de promoção da violência da extrema-direita. Da mesma forma, os empresários que financiam estes grupos e os parlamentares que os incentivam também devem ser investigados e punidos de maneira categórica.

Para acertar as contas com o genocida é necessária a mobilização pressionando o novo governo e o poder judiciário a responsabilizar os responsáveis por todos os crimes recentes cometidos por Bolsonaro e sua gestão. A propagação da desinformação, a incitação de violência contra a esquerda, as diversas manobras ilegítimas para comprar apoio no Congresso e tantas outras ações devem ser investigadas e punidas de forma exemplar para que esta terrível etapa história vivida pelo Brasil possa ser concluída e seus remanescentes sejam debilitados em suas intenções e prática autoritárias.

Nossas palavras-de-ordem nesse terreno devem ser: investigar, punir e reparar. Nem esquecimento nem perdão. Nenhuma anistia aos inimigos da liberdade.

Apoiar e construir as lutas – para nelas fortalecer a esperança e reverter a relação de forças

Nossa segunda tarefa é apoiar o desenvolvimento das lutas sociais, cerrando fileiras com categorias e movimentos combativos nos enfrentamentos que virão. A crise ecônomica, acirrada pelas políticas antipopulares do governo que se encerra, levou ao desemprego, à carestia e ao sucateamento ainda maior dos serviços públicos, nos colocando numa situação defensiva.

Para responder aos desafios deste cenário é necessário ocupar a linha de frente das futuras mobilizações impulsionando a esperança para que a classe trabalhadora, a juventude e os estratos oprimidos do povo possam retomar a confiança em sua força e avançar na conquista de vitórias que possam mudar concretamente a realidade social brasileira.

Pequenos exemplos como lutas reivindicativas devem ser apoiadas e difundidas. A vitoriosa greve dos aeronautas, as lutas contra os governos estaduais- como por exemplo o governo Tarcísio em SP que já ameaça castigar os servidores públicos, além de extinguir importantes espaços como a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência 14 anos após sua criação, entre outras inúmeras demandas que a sociedade organizará para lutar.

Não será uma tarefa simples, afinal o assédio da extrema-direita e as pressões oportunistas deste novo momento jogarão no sentido contrário destas aspirações, mas somente através do fortalecimento das ações pela base, das greves, campanhas e ocupações, teremos condições de fortalecer novamente a musculatura das iniciativas sociais combativas.

Seguir construindo o PSOL- por uma alternativa independente e anticapitalista

Por fim, teremos o dever de seguir construindo o PSOL, partido que hoje representa a principal alternativa política independente e anticapitalista do país. Esta importante ferramenta carrega o patrimônio perante a sociedade de nunca ter se colocado contra os interesses da classe trabalhadora, sendo uma grande referência das lutas democráticas e um exemplo das possibilidades de construção de um projeto de esquerda radical e coerente. As importantes vitórias eleitorais recentes do PSOL demonstram nossa credibilidade e capacidade de aglutinar os setores mais avançados farão os próximos enfrentamentos democráticos e econômicos no novo ciclo que se abre.

A recente deliberação do partido afirmando sua independência e não compondo o futuro governo dão ao PSOL as condições de ser um polo político da luta anticapitalista brasileira, sem cair em sectarismos e indicando também a necessidade da unidade de ação antifascista em todos os momentos que está se faça necessária.  A luta política dentro do Partido seguirá ao longo de 2023.

Defenderemos este caráter do PSOL por entender a responsabilidade histórica do partido nesse momento chave que viveremos nos próximos anos.

Boas festas e um 2023 com lutas e conquistas! 


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Pedro Micussi