19-N: A violência do Estado Espanhol

Nesta crônica catalão, Bech realiza inventário das últimas ações da região e denúncia a violência policial contra os manifestantes.

Alfons Bech 23 nov 2017, 13:55

O Governo e os meios de comunicação espanhóis fizeram um grande escândalo com as declarações da candidata do ERC, Marta Roviera, nas quais denuncia que o Estado espanhol pensava gerar uma grande violência repressiva, com mortes incluídas, se a proclamação da República catalã tivesse seguido adiante. “Vergonha”, “trapaça tosca”, “enorme mentira” respondem Rajoy e o porta-voz Rajoy e o porta-voz do governo, De Vigo.

No entanto, essa é a verdade: estavam preparando uma grande repressão, não-limitada à perda de algum olho, como já fez a polícia com um cidadão no dia do referendo em 1 de outubro. Há informações concretas de como 300 membros de forças de segurança especiais assaltariam o Parlamento catalão, inclusive operações pela rede de esgotos e helicópteros. Atacariam os manifestantes que estivessem concentrados defendendo isso com o objetivo de levar preso a Puigdemont e o Govern, no caso de que se atrincheirassem e tratassem de exercer como tal Govern.

A ministra do Exército, Cospedal, disse em de outubro que “é um orgulho que a missão do Exército seja assegurar a soberania e a independência da Espanha, defender sua integridade territorial”. Para esta ministra, o independentismo se situa fora da democracia, e até foi acusado de “nazi” em diversas ocasiões. A cidadania catalã captou a mensagem quando disse “tudo o que se situa fora da democracia é uma ameaça a nossa noção”. Desde o mês de setembro Catalunha está recebendo a mensagem que chega da Espanha: “¡A por ellos!” [“Para cima deles!”].

Esta é a explicação do porquê a República catalã ficou congelada. Do porquê parte do Govern optou por entregar-se e outra parte por sair a resistir desde Bruxelas. Do porquê o próprio Parlament aceitou sua autodissolução com a aplicação do artigo 155. Do porquê o Mayor e os mandos dos Mossos, a política autonômica, não opuseram nenhuma resistência armada e obedeceram as destituições e ordens que chegam desde o ministério do Interior de Madri. Ou isso… ou a repressão e mortes de civis e funcionários. Também ilegalizações e encarceramentos massivos.

Tudo isso já ocorreu no passado. Não é novo. A última vez que a Catalunha proclamou sua República foi em outubro de 1934. E ainda que não tenha sido a proclamação de uma República independente senão como parte de uma República federal espanhola, o governo de direitas que havia subido ao poder organizou seu aplastamento, causando 46 mortes e mais de três mil presos políticos, suspensão da autonomia e do governo da Generalitat. Foi em tempos de Repúbica espanhola. A República catalã durou 10 anos.

O mundo vai descobrindo o que é o Estado espanhol. Sua essência repressiva contra a classe trabalhadora e contra os povos que conformam esse Estado, em particular contra as nações de Catalunha e Euskadi. Em meio da maior etapa de juízos contra a corrupção do PP, o partido no governo é capaz de explorar o ódio ao povos periféricos como a maneira de se sustentar no poder. Com o “desafio independentista catalão” trata de criar uma ameaça inexistente contra o reto dos territórios e generalizar o medo de perder a gente não sabe o que exatamente, mas eles sabem que é esse regime monárquico corrupto.

Mas, era obrigado que o Govern da Generalit ficasse passivo e não pusesse em marcha nenhuma medida, nenhuma lei, nenhuma mobilização defensiva da República? Seguramente não. Se em 1 de outubro, mais de 2 milhões foram votar em condições heroicas e em 3 de outubro houve a greve geral que causou a maior paralisação em 70 anos, talvez havia margem para travar uma batalha ainda mais pacífica, ou com poucos mortos. Batalha que nenhum dos governos queria, nem o catalão nem o de Madri, porque isso teria aberto a insurreição propriamente dita. E ninguém estava preparado para a insurreição e suas consequências. Ninguém, exceto talvez os fascistas.

Junker ajoelha-se ante o Estado espanhol depois de receber o Prêmio Príncipe das Astúrias, justificando tudo o que fez Rajoy. É uma mostra a mais do papel de auxiliares dos grandes Estados desses supostos líderes europeus. E também é uma mostra de que o papel do Estado na sociedade capitalista globalizada que estamos segue sendo em essência esse “destacamento de homem armados” a serviço da classe burguesa dominante. Como os meios de comunicação.

A experiência que está acumulando a sociedade catalã é muita. Sem dúvida a situação a qual se chegou mostra que ainda faz falta mais força, mais massividade e mais cumplicidades. Sem ampliar a tropa e as alianças pelo lado rupturista, republicano e independentista, não será possível passar do atual estágio. Faz falta um adicional para derrotar politicamente o Estado espanhol. Para esse adicional a direção do processo deve ser uma direção mais consequente, mais disposta “a fazer todas as concessões que faça falta… para chegar à vitória”, como diria o anarquista Durruti.

Uma vez feitas as listas para participar nas eleições a estratégia da vitória passa pela luta e mobilização continuada por alguns pontos em comum que no passado permitiram ganhar eleitoralmente a Frente Popular em 1936. Hoje esses pontos comuns do bloco soberanista são: Liberdade aos Presos Políticos, Restabelecimento do Govern, a República e Instituições arrebatadas pelo 155… Porém, para ganhar e ampliar a base social republicana também são necessários alguns pontos comuns do bloco das esquerdas: aumento imediato do salário-base, igualdade salarial homem/mulher, trabalho digno, direitos laborais. Uns e outros juntos podem vencer o bloco do 155. Contudo se ganha… “Vae victis!”…o Estado espanhol cairá com toda sua fúria e vingança.

Tradução: Portal de la Izquierda


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