Trump venceu
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Trump venceu

A vitória de Trump nas eleições americanas abre um novo momento de resistência contra a extrema direita mundial

Donald Trump se impôs, pela diferença de cerca de 5 milhões de votos populares e uma vantagem no colégio eleitoral, sobre Kamala Harris e voltará a ser o presidente dos Estados Unidos a partir de janeiro.

A vitória de Trump é uma derrota para os povos do mundo e uma vitória para a extrema direita, que prontamente se congratula com o fascínora: em primeiro lugar Netanyahu, mas também Bukele, Milei e o clã Bolsonaro. Trump, ainda mais radical e organizado que na sua primeira passagem pela Casa Branca, representa o que há de pior e mais podre na política mundial.

Sua vitória expressa o setor mais atrasado, em conluio com a usina de notícias falsas encabeçadas por Elon Musk e seu círculo, estando em condições de desde dentro do aparelho de estado ir minando direitos democráticos e dando passos para a mudança de regime que tanto almeja e agita. Prova disso foi que durante a campanha não se comprometeu com a aceitação dos resultados, evidenciando a sanha golpista antes vista na intentona do Capitólio. Trump promete uma guerra contra o povo, retirando direito dos imigrantes, desregulamentando conquistas e prometendo “cidades-fortaleza” para a casta mais rica.

Há uma inclinação desfavorável na relação de forças política, com alcance internacional. Os efeitos imediatos de sua vitória serão sentidos na legitimação da ofensiva genocida sobre o povo palestino, na destruição de Gaza, que se estende tragicamente ao Líbano; serão sentidos na xenofobia contra a classe trabalhadora imigrante nos Estados Unidos; no fortalecimento dos líderes da extrema direita mundial, que se sentem altivos para implementar seu programa conservador, negacionista e antipovo; na cumplicidade com Putin diante da agressão russa contra a Ucrânia.

Kamala ficou aquém da capacidade de mobilizar e convencer a maioria social do enorme risco que significa Trump, do ponto de vista econômico, político e civilizatório. Após um impulso inicial, diante da derrocada do candidato Biden, os resultados eleitorais superaram negativamente as pesquisas, perdendo inclusive nos 7 “estados-pêndulos”, considerados os decisivos para a eleição. É preciso lembrar que o Partido Democrata é também um representante do grande capital imperialista, e seu papel no suporte ao genocídio perpetrado pelo sionismo na Palestina e no Líbano se chochou com a comunidade muçulmana estadunidense e com a vanguarda juvenil em luta contra a guerra, contribuindo diretamente para sua derrota.

Os Democratas são expressão de um setor da burguesia imperialista que se dividiu nos últimos anos, com o a crise do antigo regime bipartidário, caracterizado como um “monstro de duas cabeças”. Trump vai desequilibrar e desorganizar a ordem internacional, especialmente os organismos multilaterais, num cenário com desdobramentos ainda imprevisíveis, mas que indicam maior crise de hegemonia dos Estados Unidos. A força de Trump, que deve obter maioria nas duas Câmaras, é parte da crise mais geral do imperialismo americano, de forma contraditória.

O cenário mundial de pressão reacionária, hoje capitaneada pelo estado de Israel apoiado pelo governo Biden/Kamala, também demonstra que a vitória de Trump não inaugura um processo contrarrevolucionária que já está em curso.

Para o Brasil, a vitória de Trump é uma péssima notícia. Seu principal aliado, Musk, tem feito todo tipo de ataque contra a soberania nacional, com fins de espalhar fakenews e proteger os golpistas brasileiros. A demagogia da extrema direita terá eco e os Estados Unidos se voltarão contra os interesses de nosso país, como vimos em outras ocasiões.

As contradições da situação mundial em profunda crise estão se concentrando nos EUA, que tendem a viver fortes lutas como marca do próximo período. Foram justamente lutas assim que impediram a vitória de Trump nas últimas eleições, como o ressurgimento da combatividade sindical, o Black Lives Matter, a resistência das mulheres pelo direito ao aborto, entre outras. Hoje, Trump vence novamente e está mais preparado, declarando sua “vitória sem precedentes” e complicando ainda mais a situação da luta de classes. Mas tal condição pode ser o estopim de lutas ainda maiores porque, apesar das dificuldades, são milhões que não aceitam Trump e outros milhões que até que votaram nele e terão a experiência de seu governo antipopular. Confrontos muito superiores podem surgir e a esquerda mundial deverá apoiar estes processos de resistência.

Diante deste cenário, devemos redobrar a solidariedade internacionalista e um esforço por unidades amplas, com viés antifascista, para barrar os retrocessos e demonstrar nas ruas a capacidade de resistência do movimento de massas, para retomar a maioria social, que Trump buscou dividir ao separar ao falar para a “classe trabalhadora branca e conservadora”, tomada por ressentimento desde as perdas na crise de 2008 e bombardeada por um discurso ideológico que coloca a responsabilidade da crise na política “woke”(modo pejorativo de tratar as medidas democráticas e conquistas do movimento de mulheres, negros e LGBTQ).

Para tanto, existem reservas importantes como a retomada de lutas do movimento operário estadunidense, vista nas grandes greves da UAW, dos caminhoneiros, da alimentação e da saúde, nos últimos dois anos, e na batalha que leva um importante batalhão pesado da classe, na presente greve da Boeing. A recomposição da classe trabalhadora, processo lento e ainda minoritário, encontrou espaço em greves de novos setores como a dos roteiristas, dos trabalhadores da Amazon e de outras plataformas e aplicativos. É um processo progressivo, que deve se somar as lutas gerais como as do Black Lives Matter e da juventude que tomou as universidades em acampamentos de solidariedade com o povo palestino para vertebrar uma resistência diante do cenário duríssimo que se apresenta.

A ampla unidade de ação democrática é uma condição para enfrentar Trump

Apostamos também nas relações políticas com núcleos socialistas e militantes, como o DSA (que elegeu parlamentares em várias regiões), cumprem um papel importante na organização da vanguarda e na elaboração de novas experiências. Também é fundamental o vínculo com os camaradas da Democracia Socialista de Porto Rico que impulsionaram uma aliança independentista que se consolida como segunda força, algo inédito na história. Como parte deste esforço internacional, apostamos ainda mais na realização da Primeira Conferência Antifascista em Porto Alegre, que foi adiada para 2025 pelas tragédias climáticas do início do ano. A coordenação de forças antifascistas internacionais mostra sua atualidade cada vez mais necessária.

A vitória de Trump é a pior notícia do final de ano para o conjunto dos explorados e oprimidos do mundo. Até onde irá para reverter direitos e destruir as conquistas civilizatórias de décadas, ainda estamos por ver e isto dependerá da capacidade da resistência do povo estadunidense, protagonista de grandes revoluções e de movimentos históricos como o de direitos civis nos anos 1960; da força de um amplo movimento anti-imperialista e antiguerra internacional, que hoje já aparece na luta em solidariedade ao povo palestino; e com a entrada decisiva dos setores mais pesados da classe para dizer a última palavra. A luta segue!


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Pedro Micussi