Sâmia aciona justiça após Baby do Brasil pedir para vítimas de abuso sexual perdoarem agressores
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Sâmia aciona justiça após Baby do Brasil pedir para vítimas de abuso sexual perdoarem agressores

A fala ocorreu durante um evento religioso na boate D-Edge, em São Paulo; a deputada afirmou que a cantora cometeu incitação ao crime e condescendência criminosa

Mandato Sâmia Bomfim 15 mar 2025, 08:51

Foto: Reprodução

Via Sâmia Bomfim

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) acionou o Ministério Público de São Paulo para investigar um culto evangélico realizado na boate D-Edge, na Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista, após a cantora Baby do Brasil viralizar nas redes pedindo a vítimas de abusos sexuais que “perdoem” seus abusadores, inclusive se eles forem da própria família.

“A fala de Baby do Brasil tem forte impacto pois, além de artista famosa, ela é uma líder religiosa, que leva as mulheres a acreditarem que não devam denunciar seus agressores, que devem aceitá-los. Ao contrário, as mulheres devem ser estimuladas a não aceitar, a denunciar, procurar ajuda e justiça”, disse a parlamentar ao GLOBO.

Sâmia afirmou que o discurso feito por Baby é “inaceitável e criminoso” e apontou na denúncia obtida pelo GLOBO que a maioria dos abusos acontecem dentro de casa, praticados por falimiares. A deputada citou que o ano de 2024 registrou 83.988 vítimas de estupro e estupro de vulnerável, indicando um aumento de 6,5% em comparação ao ano de 2023, e que em 61% dos casos as vítimas têm até 13 anos.

Baby flagrantemente cometeu incitação ao crime e condescendência criminosa, pois reforçou uma cultura de silenciamento e impunidade, incentivando que crimes de violência sexual fiquem sem a devida responsabilização e favorecendo aqueles que o cometeram. (Sâmia Bomfim)

Sâmia também diz na comunicação ao MP que o discurso da cantora “ultrapassa os limites da liberdade religiosa e de expressão”. Para ela, a fala vai além de orientação espiritual individual e incita conduta que pode resultar na impunidade de crimes graves.

“Essa indignação é igualmente compartilhada por esta parlamentar, tendo em vista o reconhecimento da notificante (Baby do Brasil) não apenas como artista, mas também como autoridade religiosa, cuja influência pode levar pessoas — especialmente vítimas vulneráveis — a deixarem de denunciar ou até mesmo a encobrir abusos”, afirma a deputada na denúncia.

Além de investigar Baby do Brasil, Sâmia também pediu ao MPSP que investigue a D-Edge “por omissão”. Segundo a parlamentar, a falta de ação do sócio-proprietário da casa noturna, Renato Ratier, para impedir a disseminação de discursos potencialmente criminosos em seu estabelecimento pode ser considerada condescendência criminosa, conforme o artigo 349 do Código Penal.

“É importante que o MP atue sobre o caso, pois a imunidade religiosa tem sido cotidianamente utilizada como escudo para o cometimento de crimes e estímulo à perpetuação da violência”, finalizou a deputada.

Ao GLOBO, o MP informou que a representação recebida nesta quarta-feira “está sendo analisada pela Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital”. Procurada, a artista não se pronunciou sobre o caso.

Como foi o culto?

A tradicional pista da D-Edge foi transformada em um auditório improvisado, com dezenas de cadeiras voltadas para um palco onde Baby do Brasil – pastora pentecostal e ex-vocalista dos Novos Baianos – conduziria a parte musical do culto. Durante uma pregação, a cantora e pastora pediu para que vítimas de abuso sexual perdoarem seus agressores, inclusive se o abusador for da própria família.

“Perdoa tudo que você tiver de ruim no seu coração, aqui, hoje, nesse lugar, perdoa! Se teve abuso sexual, perdoa! Se foi da família, perdoa”, disse a pastora.

O evento, nomeado “Frequência de Deus”, foi idealizado pelo DJ e proprietário da boate, Renato Ratier, com a participação da cantora Baby do Brasil e dos pastores Pedro e Samuel Santana, que são pai e filho. O público era formado, em sua maioria, por pessoas brancas entre 30 e 40 anos, vestindo desde trajes casuais, como camisetas e tênis, até roupas mais sofisticadas, como saltos altos e camisas sociais.

Outro relato sobre o culto foram testemunhos de fiéis que teriam passado pela suposta “cura gay” — tratamento para reversão de orientação sexual sem qualquer respaldo científico. Grande parte do público frequentador do espaço é da população LGBTQIAP+.


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