“Filiação de Boulos é vitória enorme, mas PSOL não pode ser avalista do Lula”

Em entrevista ao portal Sul21, a fundadora do PSOL Luciana Genro trata do ingresso do líder do MTST ao seu partido.

Eduardo Gomes e Luciana Genro 6 mar 2018, 11:28

Candidata à presidência pelo PSOL em 2014, Luciana Genro afirmou nesta segunda-feira (5) por telefone ao Sul21 que considera a filiação do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, uma “vitória enorme” para o partido, mas salientou que a sua corrente dentro da legenda, o Movimento Esquerda Socialista (MES) tem uma preocupação com o perfil que a possível candidatura dele à presidência possa ter pela ligação de Boulos com o ex-presidente Lula.

Luciana, que está no Chile participando de um ciclo de eventos promovidos pela Frente Ampla local sobre a reorganização da esquerda latino-americana, saudou o fato de que o ingresso de Boulos no PSOL significa a consolidação de uma aliança do partido com o MTST, movimento social que ela considera ser a “melhor herança de 2013”. Ela destacou que essa aliança é fundamental para que o partido tenha uma inserção maior na pauta da luta pela moradia, que considera fundamental para a construção de um projeto de esquerda.

Luciana afirma que não é contra a candidatura de Boulos, que ela diz ser excelente, mas o perfil que essa candidatura assumirá. A ex-deputada destacou que o MES tem preocupação com as posturas dele em relação ao ex-presidente, que fez neste final de semana um vídeo elogiando a decisão de Boulos de anunciar sua pré-candidatura. Em janeiro, o líder do MTST esteve em Porto Alegre para acompanhar as mobilizações durante o julgamento de Lula no TRF4.

“Nós entendemos que esse processo de construção da nova esquerda, depois do golpe, que foi resultado dos 13 anos de governos do PT, não pode ser avalista do Lula”, disse Luciana, defendendo ainda que uma candidatura do PSOL precisa ter uma postura clara de enfrentamento ao modelo lulista, que ela considera ser de conciliação de classes, de supressão da mobilização dos movimentos sociais, de governar a partir de negociatas e de corrupção. “Isso tudo precisa ser dito claramente por uma candidatura do PSOL e a nossa preocupação é como será feito em relação ao Boulos”.

Na conversa, Luciana lembrou que, em 2014, durante um debate com o então candidato Aécio Neves (PSDB), rebateu uma acusação de ser “linha auxiliar” do PT e que, agora, o PSOL não poderia seguir esse caminho. “A gente não pode ser linha auxiliar do PT e do Lula. Isso tem que ficar muito claro. Depois de 10 anos sendo oposição de esquerda ao PT, não podermos ter como candidato um avalista do Lula”.

No entanto, Luciana disse acreditar que esse atual perfil de Boulos, de proximidade com o ex-presidente Lula, pode ser contornado e que irá trabalhar para isso, bem como diz que trabalhará para que o PSOL não absorva simplesmente a plataforma do MTST e do Vamos, coletivo criado por Boulos, mas que a construção do programa político passe pela participação da base do partido.

Ela explica que o MES reivindica a realização de prévias, mas reconhece que isso dificilmente irá ocorrer, uma vez que a corrente majoritária no partido, ligada ao deputado federal Ivan Valente, e o deputado fluminense Marcelo Freixo, uma das principais lideranças da legenda, são favoráveis a esta candidatura.

Artigo publicado pelo Sul21.


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Pedro Micussi