Sobre os desafios da oposição democrática

A deputada federal eleita Sâmia Bomfim avalia os desafios da construção da oposição ao governo de Jair Bolsonaro.

Sâmia Bomfim 7 nov 2018, 13:12

Na reta final do segundo turno, vimos no Brasil um nível de engajamento da sociedade como não víamos há muito tempo em uma eleição. Tinha muita gente somando, gente que nunca tinha panfletado ou participado da política.

Bolsonaro ganhou e e óbvio que isso é uma derrota pra quem luta pela democracia e pelos direitos. Mas ter obtido esse nível de mobilização foi uma vitória.

Agora muita gente tem me perguntado? O que fazer diante de um congresso tão hostil? Como combater no parlamento e nas ruas as ameaças de Bolsonaro?

O que estamos prestes a enfrentar não é pouco. O caráter preciso de Bolsonaro no governo ainda irá se revelar, mas é notável que ele possuí posições de tendências fascistas e que seu projeto econômico prevê uma guerra contra o povo pra retirar os direitos e liberdades mais básicas. Acredito que será importante menos sectarismo ou arrogância e mais habilidade política pra entender que ninguém, absolutamente ninguém, deverá estar fora de uma ampla frente democrática que, em essência, defenda a Constituição de 1988, os direitos trabalhistas em risco (a previdência em primeiro lugar) e as liberdades democráticas, como escutei do próprio Ciro Gomes em entrevista na CBN. O único caminho honesto pra fazer um movimento nesse sentido, que tenha chance de vencer, é tendo consciência de seus propósitos, seu programa, e também critérios corretos em sua organização que deve respeitar, antes de tudo, o protagonismo dos que estão na base.

A dita esquerda brasileira já errou demais ao sobrepor seus interesses de poder ou de hegemonia às tarefas históricas concretas da classe trabalhadora. Não existe mais espaço para errar nesse sentido! Nesse caso, a advertência de Mano Brown falou alto durante a campanha eleitoral. Uma crítica que não se sobrepõe à necessidade de ter esse partido junto na resistência democrática, mas que aponta os erros históricos realizados nos planos econômico, político e moral, que explicam inclusive a situação a que chegamos no Brasil. O conjunto de críticas e o apontamento de alternativas é crucial para que possamos avançar em um projeto de esquerda no país.

É de uma ampla unidade, no âmbito do movimento social e também parlamentar, que precisaremos pra resistir. E dentro dela, de modo franco, cada um pode expor as credenciais de seu partido e de seu projeto. A movimentação do PCdoB, PDT e PSB para conformar um bloco parlamentar será com base a que programa? Por outro lado, o PT vai dialogar com seus críticos? Nesse momento a política passa por unir a todos que queiram lutar contra Bolsonaro num programa mínimo como já citado.

Do meu lado, tenho enorme confiança por ser do PSOL, partido que nunca foi pego em qualquer escândalo de corrupção, que não tergiversou em ir pra rua no segundo turno mesmo não sendo seu candidato que disputava, que nunca se aliou com o fundamentalismo e com os neoliberais que agora querem nos esmagar, partido de Marielle Franco etc. O PSOL pode ser fundamental para lutar contra o retrocesso e o conservadorismo.

O PSOL foi fundado com seu perfil radical, combativo e independente, durante o governo Lula, a partir da sua reforma da previdência, a partir da expulsão de Heloisa Helena, Luciana Genro, Babá e João Fontes. Anos mais tarde, a nossa responsabilidade ainda é maior em defender nossos direitos e manter um perfil de uma esquerda que não teme em dizer seu nome.

Como mulher jovem no parlamento, terei muita paciência , pois o momento do Brasil exige a construção de pontes com todos os que forem resistir. Mas também não peço — nem eu, nem as mulheres, nem o PSOL — licença pra ser quem somos sem precisar dizer amém pra ninguém.

Vamos à luta!


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Pedro Micussi