A educação como inimiga numero 1 do Estado

A importância do desenvolvimento intelectual na luta contra um governo despótico.

Emerson Fernando de Oliveira 5 dez 2019, 13:21

Se as circunstâncias em que os indivíduos evoluem apenas lhe permitem um desenvolvimento unilateral, ou seja, de uma habilidade em detrimento de outra, se estas circunstâncias apenas lhe aprovisionam com elementos materiais e tempo conveniente ao desenvolvimento desta qualidade exclusiva, este sujeito apenas conseguirá atingir um desenvolvimento parcial e deteriorado.

A divisão do trabalho que evoluiu até os dias atuais é um claro exemplo deste desenvolvimento parcial e deteriorado, contrariando um sistema educacional para todos e de qualidade, pois a força motriz do sistema produtivo capitalista é pautada no antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Por este motivo a educação é tão importante, pois ao utilizar a instrução popular para combater a desigualdade, seria uma luta para suprimir todo o sistema exploratório[i]

A vista disto, grande parte dos postos de trabalho ocupados por operários não demandam grande esforço intelectual e o impedem de ocupar os pensamentos com algo que seja referente à sua subjugação, pois a habilidade intelectual é ocupada apenas pela mecânica. Portanto, os trabalhadores estão fadados sob tal regime ao enfraquecimento de suas forças físicas e psicológicas, tornando-o de fácil alienação de acordo com os preceitos da classe dominante.

Os operários apenas conseguirão salvar o seu senso critico se lutarem contra os interesses de um governo despótico. Pois a revolta é fruto de um governo exploratório, e a luta contra um sistema que putrifica o ser é o único sentimento entre os oprimidos.

Pois, para o indivíduo desenvolver qualidades como o intelecto, depende do elemento material que foi colocado a sua disposição para seu desenvolvimento, e por outro lado quais são as circunstâncias dos outros indivíduos participantes da mesma classe.

É nesse sentido que a burguesia passou a putrefazer as condições sociais existentes a fim de arrebatar o caráter sagrado da educação.

Além do mais, todo modo de produção até os dias atuais baseou-se no antagonismo de classes dominantes e dominadas. Mas para que o sistema de opressão exista é necessário assegurar condições de produção e reprodução servil de uma determinada classe.

Neste ponto, com a divisão do trabalho, basta qualificar os indivíduos para o trabalho braçal, não sendo necessária qualquer capacitação intelectual. Diante disto, o regime salarial não é condizente com o valor real da força de trabalho, e a maioria dos trabalhadores não tem a oportunidade de conquistar uma posição melhor paga, principalmente devido à má qualificação que a própria burguesia os vetaram[ii]

E estes trabalhadores quando atingem uma idade avançada ou até mesmo quando o capital deixa de precisar de uma massa de trabalhadores, eles são simplesmente dispensados, juntando-se as camadas mais profundas do Exército Industrial de Reserva e muitos deles encontra na transgressão a solução para manter a sobrevivência. Entretanto, surge a seguinte questão, qual é o custo de produção e reprodução da força de trabalho destes trabalhadores? Simplesmente o custo para manter a sobrevivência do trabalhador e educá-lo para determinado ofício[iii]

Desta forma, quanto menor o tempo de formação do profissional para determinado trabalho, menor será o custo de produção e reprodução do trabalhador e simultaneamente mais baixo será o preço da sua força de trabalho, ou seja, de seu salário.

Podemos afirmar então que o significado da educação para a classe dominante é a capacitação de cada trabalhador no maior número possível de atividades braçais no setor industrial, de modo que caso um trabalhador seja demitido devido à aquisição de uma máquina nova que o substitua ou por uma modificação na estrutura produtiva, ele possa encontrar um trabalho o mais rápido possível, não quebrando assim o ciclo produtivo. O impasse reside no fato que a força de trabalho ao se tornar excedente em um setor regressaria para os demais setores, de tal modo que a queda salarial em uma empresa causaria uma redução salarial geral na economia.

Assim, o sistema educacional designa a capacitação para as atividades que possuem maior acesso ao mercado com o objetivo de produzir e reproduzir o sistema dominante a nível produtivo e ideológico, isto é, a capacitação dos indivíduos dirige-se para o sistema produtivo.

No entanto, nos governos anteriores a 2019, o sistema educacional sofreu intensas modificações que permitiram não mais a reprodução ideológica da classe dominante, mas a evolução do senso crítico da população que passou a reivindicar a igualdade efetiva da sociedade e o desenvolvimento humano a ponto de reprimir o crescimento da divisão social e técnica do trabalho que é a chave na exploração e superexploração da força de trabalho.

Contudo, o governo Bolsonaro a fim de retomar a hegemonia da burguesia no poder, passou a cortar os investimentos no sistema educacional para transmutá-lo em ferramenta de soberania ideológica. De modo que o governo classista estivesse visceralmente contíguo com o ensino de classe, isto é, o objetivo da classe dominante no governo atual é o de controlar além de outros poderes, também o sistema de ensino, é neste contexto que o marxismo condena a intervenção do governo na educação.

Ao mesmo tempo, como dito por Antonio Gramsci é inconcebível a educação estar a cargo do Estado. No entanto é correto o Estado determinar os recursos para as escolas e Universidades Públicas, fomentando a capacitação dos docentes e discentes, e exigindo o cumprimento das prescrições legais, porém é intolerável o Estado ser designado para ser o educador dos trabalhadores, pois deve ser dissipada toda a influência do Estado e Igreja na educação.

Portanto, o desenvolvimento do aparato educacional nos governos anteriores ao Bolsonaro permitiu que em 2019 ocorressem movimentos operários, estudantis e da pequena burguesia, para impedir a subjugação de toda uma sociedade perante o poder do governo atual. Nesse sentido, o movimento das instituições de ensino na atualidade representa o movimento social da maioria esmagadora. A classe estudantil, juntamente com o proletariado não pode revoltar-se sem que derrube toda a superestrutura dos estamentos que formam a sociedade capitalista.

Entretanto, aqueles que iam contra o governo despótico em questão, foram acusados pelo governo Bolsonaro de quererem suprimir a pátria. Pois bem, de qual pátria o governo Bolsonaro fala? Da Americana? Ou da Brasileira? –Não importa qual é a pátria, pois os oprimidos não tem pátria, não pode arrebatar deles o que não dispõem, mas em uma sociedade cujas contradições o atual governo pretende resolvê-las via precarização do ensino, os oprimidos serão a pátria, eis aqui um dos fatos que elucida o temor do governo em relação às mentes pensantes das Instituições de Ensino.

Além disto, a classe oprimida não deve assumir o atual aparelho estatal, mas desmantelá-lo. Apenas assim é possível evidenciar o caráter limitado e contraditório da democracia burguesa. Como é o caso brasileiro, onde o governo de 2019 julga ser o orgulho da nação brasileira, porém se encontra totalmente ébrio com seus poucos êxitos graças a decretos presidenciais.

Todavia, não se pode esperar uma trilha tão determinada por parte da direita brasileira cuja maioria influente é representante da própria bancada congressista. Estes aspirantes a intelectuais, ainda não estão libertos de suas utopias idealistas, não se encontrando dispostos a renunciar a suas posições em um governo mesmo desgastado, porém ainda compactuado com parte da burguesia nacional.

O prospecto para a burguesia é o de compadecimento com as decisões do governo Bolsonaro até que seus investimentos no mercado financeiro permanecem intocáveis.

Esta atitude burguesa é uma blasfêmia contra toda a nação, pois o poder nacional não é conquistado com: bondade, fraternidade e gentileza. A política imperialista de países como os Estados Unidos, bem como toda classe burguesa, são inimigos da nação brasileira, bem como de toda classe trabalhadora. E, é dever de todos os trabalhadores saber por qual motivo lutam contra um governo despótico, a fim de não caírem em uma ideia abstrata, pois aqueles que se recusam a lutar mediante o antagonismo de classes, contribuirão para criar o escravo moderno.

E este escravo é a classe proletária. Por este motivo, a classe oprimida deve-se unir e derrubar todos que apoiam um governo despótico. Assim, que trema o governo Bolsonaro em face de sua queda. Pois, nisto os trabalhadores não tem nada a perder, senão suas correntes.

“Proletários de todos os países, uni-vos!”

Este artigo é uma contribuição individual para a Revista Movimento. Colabore conosco enviando seu texto para redacao@movimentorevista.com.br.

[i] A situação da classe trabalhadora em Inglaterra (1892), de Friedrich Engels

[ii] O Capital (1867), de Karl Marx

[iii] A Ideologia Alemã (1846), de Friedrich Engels e Karl Marx


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Camila Souza