A esquerda precisa unir a luta contra o ajuste à luta contra a corrupção

A necessidade da esquerda enfrentar a corrupção e o ajuste em curso no país no momento em que se a essência do regime vem à tona.

Israel Dutra e Roberto Robaina 26 out 2016, 20:17

Uma grave crise política marca a cena nacional. Tal crise se combina com o agravamento da piora nas condições de vida do conjunto da população, com a crise econômica se aprofundando. Os dados são alarmantes: não há previsão alguma de recuperação e a economia encolheu 8.3% desde o inicio da atual recessão prolongada.

A tragédia que comoveu o país, com o terrível acidente da equipe de futebol da Chapecoense, não impediu que os deputados e senadores votassem duas agendas contra o povo: a continuidade do ajuste e medidas que desfiguram o pacote anticorrupção, ameaçando assim a continuidade das investigações da Operação Lava-Jato.

A aprovação em 1º turno da PEC do teto de gastos (55) no Senado, mesmo na condição de forte contestação, com uma combativa marcha que reuniu 20 mil pessoas na Esplanada, foi obra da articulação de Renan com Temer para seguir a agenda da ‘Ponte para o Futuro’, a soldo dos interesses do patronato nacional.
Horas mais tarde, a Câmara aprova a emenda do PDT que resgata a antiga PEC 37 restringindo o poder de investigação do Ministério Público e dos Procuradores. Renan busca imediatamente concluir sua obra: salvar a casta, o governo Temer e garantir que não exista interpenetração entre as duas pautas. Uma jogada de mestre para sustentar o Congresso e o governo.

A questão que moveu toda a crise foi a tentativa desesperada dos principais partidos, unindo PT, PSDB, PMDB e cia, para garantir a anistia ao Caixa 2, a revelia do clamor popular. Não fosse a crise entre Calero e Geddel, Temer e os dois chefes das casas legislativas não teriam cedido nesse quesito.

A bancada do PSOL corretamente foi artífice, junto com a bancada da Rede, mais de uma vez, da denúncia da aprovação da anistia ao caixa 2. Também o PSOL teve uma postura acertada ao votar contra a emenda que limitava o poder dos procuradores e juízes.

No meio desse tabuleiro de insatisfação popular e acordos espúrios, a manifestação do dia 29 contra a PEC sinalizou um ponto importante da resistência ao ajuste, encabeçado pela juventude que ocupa escolas e universidades. Entretanto, na outra frente que debilita a casta e o governo – a da luta contra a corrupção – uma parte da esquerda se nega a lutar contra a corrupção, enfraquecendo a luta contra o governo, abrindo caminho para recomposição de Renan e do regime. E o mais grave: deixando uma avenida aberta para que grupos direitistas tenham um protagonismo quase solitário na tentativa de canalizar a indignação popular.

A posição desastrosa foi a das Frente Brasil Popular e Frente Povo sem Medo(BA): condena a luta contra a corrupção, criminalizando todo o poder judiciário afirmando que a Operação Lava-Jato nada mais é do que uma operação de “agentes do imperialismo”. Essa definição desastrosa não só não arma corretamente as tarefas do período como também é responsável pelo crescimento da direita nas ruas.

Para essas frentes o que aparenta é que, parafraseando Caetano, “não estão entendendo nada”; a votação crescente de nulos e brancos em outubro, a rejeição a todos políticos, como mostra as pesquisas de popularidade dos governos, e o sentimento das ruas não lhes dizem nada.

A esquerda não pode ficar refém dessa lógica, “solidária” com a casta política, numa narrativa que apenas conduz ao apoio – direto ou indireto – a Renan; o mesmo Renan que é o articulador do ajuste e da PEC.

A Operação Lava-Jato ganhou um salto de qualidade quando prendeu no Rio de Janeiro, com evidências claras, o ex-governador Sergio Cabral. Sua fortuna acumulada é apenas a ponta do iceberg da quadrilha que dirige o poder no Rio de Janeiro nos últimos dez anos e agora, através de Pezão e Picciani quer descarregar um brutal ajuste contra o povo e o funcionalismo. A prisão de Cabral foi celebrada por todos os cantos da capital carioca.

É preciso fazer um combate sem tréguas contra a direita, seja a direita que governa seja a que busca “tomar as ruas”. Somos parte daqueles que tem enfrentado o MBL nas ocupações de escola, nos debates, nas próprias ruas. E sabemos que não se combate a direita deixando o terreno livre para posarem de arautos da luta contra a corrupção. Na etapa anterior, esses setores conseguiram desviar o justo sentimento da luta contra a corrupção, para a luta contra Dilma, resultando no Impeachment. Agora, a luz do governo Temer, a situação é diferente: Renan e os governos estão na berlinda porque precisam salvar a casta e promover o ajuste. Isso causa fissuras no próprio campo da direita. E disputar nas ruas a indignação popular é uma tarefa elementar.

Os setores das “frentes” que se recusam a dar esse combate, confundem a vanguarda e dividem a luta contra o governo. Acabam enfraquecendo a luta contra o ajuste, ao depositar confiança no congresso e jogar no colo da direita a luta contra a corrupção.

Toda a posição tem contexto. Num momento em que o ataque aos procuradores tem como objetivo liquidar a Lava-Jato e garantir a impunidade dos que fizeram o impeachment para abafar a operação, dando como contrapartida para a classe dominante a aplicação brutal do ajuste neoliberal, se somar a estes ataques é fazer o jogo deles.

Se a esquerda seguir insistindo na tecla de opor-se ao discurso anticorrupção vai se isolar cada vez mais do povo, levando o conjunto da vanguarda à uma derrota.

Uma esquerda de verdade precisa seguir a luta contra o ajuste, nas mobilizações estaduais, na luta contra a PEC e ser consequente na luta pelo prosseguimento da Lava-Jato como se posicionaram Luciana Genro, Chico Alencar, José Padilha, entre outros. Unir as duas lutas é a única saída para resistir ao governo Temer e tirar as profundas conclusões da experiência do lulismo como uma esquerda que se corrompeu e se transformou em parte do regime.

 


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