Biden reconhece o genocídio armênio

Do ponto de vista de quem defende o internacionalismo e a solidariedade entre os povos, é preciso seguir a campanha em prol da autodeterminação do povo armênio e do reconhecimento por justiça e memória no caso do genocídio.

Israel Dutra 27 abr 2021, 16:49

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu no último sábado (24) a existência do genocídio armênio de 1915.  É o primeiro presidente  da maior potência imperialista do mundo que reconhece, em 106 anos, o ocorrido na Armênia, em princípios do século passado. Um verdadeiro marco histórico.

A declaração representa uma importante mexida de peças no tabuleiro da geopolítica mundial. Um dos primeiros atos do período “pós-Trump”, o reconhecimento do genocídio armênio, significa a abertura de um caminho de justiça e reparação históricas, além de um sinal evidente para de contenção da linha de Erdogan, cada vez mais autoritário e opressor dos povos da região. É, antes de mais nada, uma vitória democrática. “O povo americano homenageia hoje todos os armênios que morreram no genocídio que começou há 106 anos”. Assim terminaram as palavras de Biden.

Essa vitória foi uma conquista de um enorme movimento ao longo do tempo. Exatamente na data que marca o genocídio, dia 24 de abril, o posicionamento de Joe Biden é fruto de um processo longo de pressão sobre autoridades políticas, países e organizações diplomáticas. O engajamento de diversos setores da sociedade civil mundial – desde ativistas da diáspora armênia como os mais conhecidos membros da banda “System of Down” – foi decisivo para essa virada.

O genocídio armênio foi um dos primeiros e mais sangrentos massacres do século XX. Iniciado em 24 de abril de 1915, no contexto de crise e declínio do Império Otomano, o governo liderado pela fração nacionalista radical conservadora “Jovens Turcos” organizou um verdadeiro massacre contra a população armênia na região da Anatólia. A política de aniquilação do povo armênio foi uma verdadeira limpeza étnica, a serviço da então linha expansionista do nacionalismo turco, que primava pela opressão aos demais povos e minorias étnicas da região para evitar o colapso então em curso do Império Otomano.

Foram expulsas de suas casas centenas de milhares de pessoas; presos outros milhares, sem qualquer justificativa jurídica formal. Estima-se que o número de vítimas fatais, até o ano de 1922, da política de extermínio chegue a 1 milhão e 600 mil armênios, segundo fontes sérias que estudaram o ocorrido.

Ao longo do século XX, a política do “negacionismo”, ou seja, de não admitir o genocídio foi um dos pilares do nacionalismo e colonialismo turco, orquestrada por sucessivos governos reacionários. A resistência exemplar do povo armênio, seja no seu território, seja na diáspora, foi capaz de enfrentar a “política de esquecimento” que as principais potências mundiais buscaram fazer nas últimas décadas. Tudo isso a serviço de um jogo sujo de relações diplomáticas e geopolíticas com a Turquia e seu Estado cada vez mais autoritário.

Biden ligou para Erdogan comunicando a decisão de seu pronunciamento. Segundo a agência Reuters, a reação do ditador turco foi a seguinte:

“O presidente turco, Tayyip Erdogan, pediu que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, volte atrás em sua declaração de que o massacre de armênios pelo Império Otomano em 1915 constituiu genocídio, uma fala que, segundo Erdogan, está prejudicando as relações bilaterais. A declaração histórica de Biden no sábado enfureceu o governo turco, aliado dos norte-americanos na Otan, que afirmou que o anúncio abriu uma ‘ferida profunda’ nas relações já desgastadas por conta de uma série de outras questões”.

Vale lembrar que a escalada protofascista de Erdogan em seu país compreende uma ofensiva contra o conjunto da oposição e as instituições da sociedade civil, mirando na cassação e perseguição de uma das forças mais expressivas da oposição política, o HDP. Essa perseguição – que mantém presos e cassa importantes referências e lideranças desse partido, que abraça a causa das minorias étnicas a partir da luta do povo curdo – é mais uma expressão do giro autoritário do governo turco.

Vamos aguardar os desdobramentos imediatos do reconhecimento formal do genocídio por parte dos Estados Unidos. Essa boa novidade vai gerar ainda mais conflitos na região, onde a Turquia junto com o Azerbeijão acossa a Armênia, em novas agressões que resultaram na guerra de 2020 ao redor da região de Nagorno-Karabackh.

Do ponto de vista de quem defende o internacionalismo e a solidariedade entre os povos, é preciso seguir a campanha em prol da autodeterminação do povo armênio e do reconhecimento por justiça e memória no caso do genocídio. É preciso pressionar o poder público dos diferentes países para seguir o caminho dos Estados Unidos. Há uma importante migração armênia ao nosso país, sobretudo na região de São Paulo. Um povo combativo que, apesar de viver sob permanente ataque dos governos turcos e azeris, segue defendendo com orgulho sua cultura, sua tradição e seu histórico de luta democrática.


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