Vítima de torturas, mulher foge de cativeiro onde foi mantida por um ano

Vítima de torturas, mulher foge de cativeiro onde foi mantida por um ano

Exigimos a implementação e ampliação de políticas públicas voltadas para mulheres.

GIana e Laerson 5 jul 2021, 20:39

Cabelos raspados, feridas mal cicatrizadas, língua com marcas de ferimentos, cortes feitos com faca por toda a extensão do rosto. Após ser mantida por um ano em cativeiro pelo seu marido, onde era sistematicamente submetida a torturas físicas e psicológica, V. L. conseguiu fugir na noite do último dia 23 de junho, em Toledo. Permaneceu escondida até amanhecer, quando procurou a Delegacia da Mulher. Casada há 13 anos com seu agressor, com quem possui um filho de 12 anos, a mulher relatou em seu depoimento uma rotina de muita violência e humilhação. O agressor, A. L. P. foi preso em flagrante pelos crimes de submeter alguém sob sua guarda a tortura, lesão corporal, ameaça, sequestro e cárcere privado. Ele foi encaminhado à carceragem da Cadeia Pública de Toledo. V. L. está abrigada em lugar seguro e sigiloso com seu filho.

A vítima, seu agressor e o filho de 12 anos, viviam em uma residência alugada no Jardim Gisele. V. L. relata que o marido sempre foi agressivo, mas as agressões se limitavam a tapas no rosto. Em junho de 2020, no entanto, o homem passou a ficar muito agressivo e passou a questionar a vítima sobre relacionamentos anteriores. “Se ela não desse as respostas que ele queria ouvir, ele ficava muito agressivo e lhe dizia coisas como ‘essa resposta não fecha com minha investigação’, ‘isso não bate com o que eu estou investigando, não está certo’, e perguntava de novo”, detalha o boletim de ocorrência. Pela casa, V. L. era obrigada a escrever vários lembretes, a partir de frases ditadas pelo marido, entre elas: “se eu mentir para o meu marido, eu vou fazer 100 cortes com a faca quente no meu rosto”, “se eu não contar a verdade para meu marido eu vou furar a minha língua com pregos”. Além dos lembretes, A. L. P. mantinha um caderno de regras, entre elas, uma lista de palavras que não poderiam ser ditas pela mulher. Caso ela infringisse alguma destas regras, era castigada. A polícia apreendeu o caderno de regras. Nas seis páginas que constam nos autos do inquérito policial aparecem palavras como: você acha; talvez; não sei; pode ser; que dor; não aguento mais; olha só meu rosto; afeto; amigo; oportunidade. As regras também incluíam a proibição de gritos de dor, bem como comentários sobre o corpo. Ela também era proibida de falar palavras que terminassem com a letra “i”.

Além de agredi-la, ele a obrigava a se autolesionar. “A vítima tem muitos hematomas que, segundo ela, são de agressões antigas e algumas que ela mesma teve que fazer, como por exemplo: ela teve que cortar a própria orelha, ela teve que furar a própria língua com pregos”, detalha o boletim. A vítima relatou que era impedida de ir ao hospital e se curava com receitas caseiras. Entre as lesões feitas por ele, além de lhe raspar o cabelo, o agressor chegou a lhe quebrar o nariz com socos. Socos dados com toalha úmida enrolada na mão e que lhe deixaram as orelhas inchadas. Ele também a agredia com cabo de vassoura. “Ele fazia ela colocar agulhas na boca, já fez ela costurar a própria boca com fio de linha de costura e com linha de pesca. Que ela está com o rosto cheio de pequenos cortes, que são feitos com uma faca esquentada, que ele lhe dá esses castigos frequentemente”, destaca o registro. Segundo a vítima, o agressor a mantinha vigiada através de duas câmeras de segurança. O filho do casal, conta a vítima, foi manipulado pelo pai e na noite em que fugiu, chegou a levar um tapa no rosto do próprio filho.

A Associação Tenda Mariellas, organização pela defesa ampla e universal das mulheres, acompanha a vítima desde sua fuga. Através do coletivo a vítima já teve acesso a atendimento médico e psicológico, bem como a um lugar seguro para estar com seu filho. O menino também já foi encaminhado para acompanhamento do Conselho Tutelar.

Nesta segunda-feira (05), este coletivo, acompanhado pelo Coletivo Juntas, esteve em audiência com o prefeito de Toledo, Beto Lunitti, e com a Secretária Municipal de Políticas para as Mulheres, Jennifer Teixeira, para informar sobre a situação e exigir atendimento imediato ao caso. Os dois coletivos também apresentaram exigências de implementação e ampliação de políticas públicas voltadas para mulheres.

Entre as exigências para o caso concreto, estavam a concessão de aluguel social em local seguro e sigiloso, bem como auxílio emergencial para mãe e filho, atendimento médico e hospitalar emergencial para ambos, além de tratamento psiquiátrico e psicológico. Ainda, diante do quadro de alienação parental sofrido pela criança, exigiram que em todo o atendimento dado à mãe e filho fosse trabalhada a restituição e fortalecimento dos vínculos familiares.

Para o município, foi pontuada a importância de campanhas de prevenção, bem como de atendimento humanizado e imediato a mulheres vítimas de violência. Assim, entre as exigências feitas junto ao Poder Executivo, esteve a ampliação do atendimento da Delegacia da Mulher, com plantão 24 horas, criação de Casa de Abrigo para acolhimento de mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade e violência, realização de capacitação dos servidores públicos para acolhimento e encaminhamento de mulheres, reuniões com associações de comerciantes para inclusão de estabelecimentos comerciais na divulgação de campanhas contra a violência doméstica, e grupo de trabalho intersetorial entre as secretarias para fortalecimento das campanhas de prevenção e atendimento.

Da parte da Prefeitura de Toledo, na pessoa do Prefeito Beto Lunitti, houve comprometimento com as pautas e exigências apresentadas, com a promessa de que não será tratado como caso isolado, e que haverá trabalho contínuo para avançar nas políticas públicas para as mulheres. Os coletivos afirmam que irão acompanhar e cobrar o cumprimento do compromisso realizado.


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