Um projeto de educação contra o das fundações privadas
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Um projeto de educação contra o das fundações privadas

A educação popular pode ser uma importante ferramenta contra a ação das fundações privadas.

Beatriz Carvalho 8 fev 2023, 09:00

Impossível falar de Educação Popular e não falar de Paulo Freire, ainda que ele nunca tenha escrito sobre a concepção teórica de Pedagogia Social. Também o patrono da educação brasileira tem pouca, para não dizer nenhuma, influência nas políticas públicas educacionais a nível nacional. Ainda são pontuais as experiências que incorporam toda sua vasta contribuição teórica e prática. 

A trajetória histórica das experiências de Educação Popular no Brasil nos mostra que não existe uma única concepção de Educação Popular. Alguns a nublam no conceito amorfo de educação não formal, o que autores como Roberto da Silva colocam como uma perda do seu significado histórico, político, cultural e social (2016, p.190). Sabe-se que a escola é, no capitalismo, vinculada a reprodução da ideologia dominante dentro da classe trabalhadora, mas isso não significa que ela não seja terreno de disputas. Já colocava Gramsci que a escola não é simples aparelho ideológico do Estado burguês. Dentro desse espaço de disputa acontecem experiências que podem ser caracterizadas como educação popular inclusive na educação formal, mesmo quando ela, como colocada acima, não tenha como política pública nacional as ideias freireanas.

Fábio Accardo de Freitas e Edna Rodrigues Araújo Rossetto, militantes que constroem ativamente e também estudam e teorizam as Cirandas Infantis do MST, definem Educação Popular como um conjunto de concepções e práticas pedagógicas vinculadas à luta de classes a partir da construção da contra-hegemonia enquanto projeto alternativo de sociedade. Compreendem-na como propostas e experiências ligadas às lutas das classes populares, inseridas na luta de classes, a partir dos interesses, ideias, valores, culturas e modos de vida da classe trabalhadora. Assim, as escolas dentro dos assentamentos do MST, por exemplo, são educação formal e não deixam de ser Educação Popular.

Partindo dessa definição de Educação Popular, não pode haver espaço para titubeio quanto ao papel das fundações privadas (Fundação Lemann, Itaú Social, Todos Pela Educação, Instituto Ayrton Senna, etc) como inimigas de classe da Educação Popular. Agentes que se colocam dentro de um social liberalismo progressista para domesticar os movimentos sociais, populares e mesmo a educação pública como um todo. Não se pode ter a ingenuidade de que inimigos de classe estão interessados em patrocinar projetos por pura filantropia. Tampouco acreditar que seu interesse na escola pública é meramente em venda de materiais didáticos, pacotes de formação docente de baixo custo e outros serviços diversos. O grande interesse dos institutos e fundações empresariais é político-econômico: a disputa de projetos societários para o país a partir das agendas dos grupos econômicos que mantêm estas instituições.

Se queremos com a Educação Popular propor, praticar e educar um novo modelo de sociedade, radicalmente diferente do modelo neoliberal, que promove educação crítica, emancipadora e integral, não podemos contar justamente com os maiores interessados em manter a exploração do proletariado. Para ilustrar, se lutamos por um currículo que une uma série de conhecimentos científicos importantes e historicamente dominados pela classe dominante, com epistemologias decoloniais, não cabe estarmos com os defensores da BNCC e da Reforma do Ensino Médio.

Referências

SILVA, Roberto da. Os fundamentos freireanos da Pedagogia Social em construção no Brasil. Revista Interuniversitaria, [s. l], n. 27, p. 179-198, 2016. Disponível em: https://recyt.fecyt.es/index.php/PSRI/article/view/44162/25873. Acesso em: 05 fev. 2023.

FREITAS, Fábio Accardo de. Educação infantil popular: possibilidades a partir da ciranda infantil do MST. 2015. 228 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.

ROSSETTO, Edna Rodrigues Araújo. A Organização do Trabalho Pedagógico nas Cirandas do MST: lutar e brincar faz parte da escola de vida dos sem terrinha. São Paulo: Expressão Popular, 2021. 270 p.


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