A novidade Bernie Sanders e a hecatombe do bipartidarismo nos EUA

A crise mundial se instala no Império. Existe uma inédita situação eleitoral que não é apenas um fenômeno em si mesmo senão uma consequência de mudanças muito grandes.

Pedro Fuentes 26 abr 2016, 17:02

Neste segundo artigo, vamos repetir muitas coisas que escrevemos no anterior. O fato é que as eleições dos EUA não deixam de assombrar pela profundidade dos processos que ali apontávamos, mas que tiveram avanços maiores do que os previstos. Além disso, é bom recordar mais uma vez, pois não falamos de qualquer país, mas sim da potência mais importante e hegemônica. Lá nasceu a crise econômica de 2008 e lá chegou agora ou, melhor, se evidencia com mais força a crise social e do regime como parte da crise crônica estrutural desta fase de decadência do capitalismo. A relativa recuperação econômica existente deveu-se à precarização do trabalho, à superexploração, ao aumento da miséria e da pobreza.

Laura Restrepo – escritora colombiana conhecida especialmente pelo seu premiado romance Delírio, que anos atrás foi militante da nossa corrente e segue sendo minha amiga – escreveu há quatro anos Hot Sur, novela que conta o drama de uma exilada e, através de suas andanças, as condições precárias, a pobreza, degradação e as contradições que se vivem no país do norte. Esse livro, os filmes de Michael Moore que demonstraram os verdadeiros EUA (não o da Disneylândia) e as mobilizações do Occupy Wall Street, as quais em certos lugares foram muito massivas, são o que nos levou a escrever vários artigos há algum tempo acerca dos elementos da crise e das lutas que mostravam que o gigante estava se movendo.

Agora, para dizer o mínimo, esse movimento se acelerou a tal ponto de existir uma inédita situação eleitoral que não é apenas um fenômeno em si mesmo senão uma consequência de mudanças muito grandes. Parece o movimento profundo das placas tectônicas (o capitalismo) que ameaça sacudir de forma imprevisível o gigante do norte.

A importância para os latino-americanos

Uma companheira de um grupo trotskista dos EUA nos perguntava por que dávamos tanta importância ao fenômeno Bernie Sanders. “É que somos o quintal dos EUA”, assim lhe respondi, o que é verdade em certa medida. E se não falamos e atuamos sobre o que ali passa nunca deixaremos de sê-lo e nunca enterraremos essa maldita frase a fim de terminar com o semicolonialismo estadunidense sobre nosso continente. O problema dos imigrantes, que querem fugir da crise deixando de estar no “quintal”, é, de certa forma, partir para o assalto daquilo que lhes e nos pertence. Por isso, é um elemento fundamental de nossa própria realidade.

A interconexão com os EUA por meio dos imigrantes vai ser mais decisiva agora que a polarização política no país do Norte indica que os dois candidatos que poderiam ganhar a convenção republicana, Trump ou Cruz, expressam ambos as novas posições xenófobas e racistas do neofascismo (similares a Le Pen na França e outros europeus que ganham peso), partidários da expulsão de quase 12 milhões de imigrantes e, no caso de Trump, da construção de um muro de cimento em toda a fronteira com o México. Como dizia Laura Restrepo numa frase literária, “o fluxo imparável de imigrantes indica que o Sul está tomando o Norte”. Daí também essa polarização de um setor de extrema-direita. Essa batalha de defesa de nossos imigrantes compromete a todos os latino-americanos.

Ademais, o Tratado TransPacífico (TPP) envolve a América Latina, ao ameaçar de um lado os trabalhadores dos EUA e do Canadá, que em sua grande maioria se opõem ao que significaria a perda de suas fontes de renda, e por outro lado ao representar um salto mais na penetração imperialista para a extração intensiva de riquezas primárias de nosso rico continente, em particular na cordilheira dos Andes, a mais abundante em minerais em todo o mundo.

Em síntese o que ocorre hoje nos EUA está no centro da política mundial. Não nos esqueçamos de que os EUA, conforme os estudos de Duménil e Lévy3, concentram o poder de metade das grandes corporações financeiras e industriais de todo o mundo, o exército mais importante, superior em oito vezes a qualquer outro. Contudo, seguem sendo debilitados (também pela ação das massas do país) em seu poder hegemônico mundial.

Também tem sua importância em particular para a América Latina, justo nestes momentos que as alternativas nacionalistas radicais estão em retrocesso, porque, em certa medida, o que sucede nos EUA tem uma relação direta, já que se trata do dono dos maiores investimentos. Suas corporações comandam, como dizíamos, as políticas extrativistas e pretendem que sejamos ainda mais seu quintal.

Por último, tudo o que ocorre nos EUA, e que a seguir trataremos de detalhar com maior profundidade, tem uma explicação de fundo: o que ocorre nos EUA mostra que a contrarrevolução econômica levada adiante pelo capitalismo na atual fase (Catherine Sammary, militante trotskista francesa, denomina-a de “guerra mundial econômica”) faz com que todo o mundo esteja se movendo e torna obsoleta a diferença entre o Norte e o Sul do ponto de vista da luta de classes. À proporção que a pobreza e a desigualdade aumentam, os povos resistem em todo o planeta e a crise faz com que o mundo mude, entrando em permanente movimento. Tanto o que sucede nos EUA como a recente mobilização da França do 9 de março demonstram isso.

O avanço de Sanders rompeu todos os prognósticos da “ruling class” (classe dominante)

No final de semana anterior à terça de Michigan, foram feitas quatro plenárias democratas: Nebraska, Lousiana, Maine e Kansas. Sanders venceu três de quatro contendas. Hillary teve mais uma vitória num importante estado do Sul de tradição republicana, a Lousiana.

Porém, a grande surpresa que ninguém esperava foram as primárias de Michigan. Em Michigan está Detroit, a famigerada capital da indústria do automóvel e uma de suas cidades é Flint, berço abandonado da GM convertida quase em cidade fantasma com a água envenenada. As pesquisas davam como certo o triunfo de Hillary, que ganharia no pior dos casos com o mínimo de 10% de diferença dos votos. Pela importância do estado, a mídia falava que dessa maneira se enterrava definitivamente as aspirações de Sanders. Contudo, ele ganhou: Sanders somou 51% dos votos enquanto Hillary obteve 48%. Estes pontos de vantagem no estado “estrela” da jornada de terça (8 de março) supõem um tropeço para Hillary e o relançamento de Sanders, que chega a seu nono triunfo na corrida pela nomeação num estado considerado chave. O temor é que isso possa se repetir em outros similares e possibilidades existem. Porque sua vitória em Michigan assinala seu contínuo crescimento e sua possível supremacia no Norte e centro Norte, estados que têm um volume grande de delegados e onde será feita a maioria das prévias daqui em diante.

A revista Jacobin dizia sobre a relação das pesquisas com este triunfo: “Se Michigan deveria nos ensinar algo, é que a campanha das primárias deste ano é dinâmica, não estática; fluida, não fixa. (…) Em 2016, sem dúvida, muito do que parecia sólido havia se derretido no ar, rompendo a lei de ferro da classe dos grandes doadores e a capacidade de predição dos experts em pesquisas”. E isso se deve à intervenção de fatores não previstos. O mais importante talvez seja o poder de mobilização de apoiadores da campanha que militam por Sanders e convencem a muitos eleitores com suas propostas.

Contudo, esse enorme ativismo é a expressão de um fenômeno estrutural, ou seja, social. Um site independente traz dados interessantes da boca-de-urna da CNN em Michingan. Mais de 80% dos jovens em Michigan votaram em Sanders. (isso já é uma realidade de todas as prévias, sobretudo pelo tema da defesa do ensino gratuito). Mas também houve uma expressiva vitória entre jovens adultos de 30 a 40 anos, enquanto Hillary venceu somente nos acima de 60.

Entre as mulheres, o sucesso de Hillary está ameaçado porque é onde também se vê esse movimento da sociedade. Um artigo de Rebecca Traister mostra que a proporção de mulheres casadas caiu para menos de 50%, “uma revisão drástica em todas as classes e setores (negras e imigrantes), na vida da mulher”, diz a autora, que agrega que “essa mudança está tendo um efeito profundo em nossa política, já que a independência reafirma a necessidade de igualdade de salários como de muitos outros benefícios sociais”. “Nas últimas eleições presidenciais de 2012, as mulheres não casadas lideraram as listas de eleitores em quase todos os grupos, formando quase 40% na população afro-americana, próximo de 30% na população latina e cerca de um terço das jovens”. “Por ora, qualquer afinidade que as mulheres solteiras possam sentir com Hillary Clinton está sendo enterrada pela visão progressista de Bernie Sanders. Mulheres jovens solteiras, pelo menos as predominantemente brancas que até agora já votaram, depositaram a confiança em Sanders com números estrondosos. Em New Hampshire, de acordo com a boca de urna, ganhou de Clinton por 11 pontos dentre as mulheres e 26 pontos nas solteiras”.

Por outro lado, a votação entre negros até agora havia sido baixa para Sanders. No entanto, em Michigan, ele obteve cerca de 30% de apoio, dobrando o que tivera em outros estados. Isto significa que a campanha entre os negros (apoiada por vários líderes do Black Lives Matter) conseguiu quebrar a ilusão com Clinton e que o eleitorado negro do Norte, onde o legado da escravidão é menor, tenderá a votar de forma diferente.

Contudo, há ainda o voto latino na Flórida, onde ocorrerão as próximas primárias, o estado com a terceira maior concentração de latinos depois da Califórnia e do Texas. A Folha de São Paulo comenta que, com base numa pesquisa, os jovens latinos são o grupo que mais rapidamente se expande no potencial eleitorado e que tende a votar por candidatos progressistas, o que já ocorreu com Obama. A atração dos jovens pela política especialmente para a educação gratuita proposta por Sanders é grande.

A pesquisa da CNN também mostrou que o eleitorado democrata acredita que as propostas de Sanders são viáveis, desmentindo o eixo principal de ataque de Hillary de que Sanders seria irrealista.

Para concluir esta seção, falemos um pouco, mas o necessário, sobre o voto dos trabalhadores. Indo além do aparato burocrático sindical, salvo algumas exceções que se mantém fieis ao establishment democrata, sindicatos de base têm ampliado seu apoio a Sanders e sua política de salário mínimo de 15 dólares/hora – que foi conquistado em Seattle graças à campanha da vereadora Kshama Sawant, do Socialist Alternative (partido vinculado ao CIO/CWI), e se estendeu a vários estados – fará estragos entre os trabalhadores mais dinâmicos.

As aspirações de mudança não são novas, mas agora possuem mais força

O “Yes we can” (Sim, nós podemos) do candidato negro Obama, que derrotou Hillary nas primárias de 9 anos atrás, já em alguma medida expressava a necessidade de mudança e gerou imensas expectativas que se viram em sua grande maioria totalmente frustradas.

A novidade é que agora Sanders, depois de oito anos de governos de Obama, aparece com diferenças qualitativas. Sanders tem um programa de ruptura com o histórico e perdurável regime do establishment americano com reivindicações anticapitalistas que logo desenvolveremos. Sanders é socialista, mesmo que diga que seu modelo é o escandinavo. E por isso é um processo mais profundo que atrai, como apontamos, numerosos setores.

Tampouco é uma casualidade que isso ocorra agora no país do norte. Tem a ver com o fato de que o povo não está sofrendo a angústia da crise no nível que se vive agora no Brasil ou em muitos outros países. As crises são as parteiras das revoltas e das revoluções. Mas também sucede que quando há certa melhora na economia (e, ainda que seja muito parcial nos EUA, ela existe), o povo se sente com mais força e energia para reivindicar direitos, enfrentar os patrões, tem mais tempo para pensar em por que não melhorar suas necessidades sociais (assim também se passou no Brasil de 2013 ou mesmo na Turquia meses depois quando os emergentes estavam em ascenso).

Sanders é social-democrata?

Setores de esquerda criticam Sanders seja pelo seu passado, por algumas votações pró-Israel, seja em definitivo porque não tem um programa marxista definido, ficando “na metade do caminho”, como aponta um importante grupo trotskista americano. Para nós, o programa de Sanders é muito bom e baixa à terra das necessidades concretas que têm as massas empobrecidas americanas para mobilizar e avançar sua consciência. Opinamos que é anticapitalista, e muito mais profundo que defender o modelo escandinavo de bem-estar social ou o que foi Roosevelt na grande depressão.

Em poucas palavras, seu responde a problemas centrais:

  • O salário mínimo de US$ 15 (Hillary agora fala em US$ 12) e a liberdade de sindicalização para os trabalhadores. Esta consigna significa uma recuperação qualitativa dos salários frente à precarização levada adiante desde o reaganismo e que continuou Clinton, o que significa enfrentar toda a grande patronal;
  • Um sistema de saúde pública para todos, o que significa terminar com o grande negócio da saúde em mãos das grandes corporações dos monopólios privados e dos grandes laboratórios também;
  • Os direitos das minorias e a enfática defesa dos imigrantes que está fazendo ao enfrentar os candidatos neofascistas (Trump e Cruz) do Partido Republicano;
  • O enfrentamento a Wall Street e ao capital financeiro. A aplicação da lei dos monopólios contra as corporações e os bancos. O que significa um ataque direto às maiores corporações do mundo, como já dissemos donas da metade do capital financeiro mundial;
  • Os impostos aos ricos, a grande polêmica que atravessa o país do norte. Embora Obama tenha subido tibiamente os impostos aos ricos, Sanders pretende fazê-lo de maneira drástica; e
  • A revolução política, ou seja, a mobilização e a organização dos trabalhadores e do povo para alcançar esses objetivos, já que Sanders sabe bem que se governasse teria todo o parlamento contra ele. Boa lição de como proceder que Lula deveria ter aprendido no Brasil.

É verdade que Sanders tem um ponto crítico discutível em sua política concreta. Está lutando braçada a braçada para ganhar de Hillary, mas diz que em última instância votará nela. Esta é uma discussão que não pode ser adiantada agora quando é o momento da disputa. Uma pesquisa de US Uncut diz que 33% dos apoiadores não votariam em Hillary se Sanders perdesse. No entanto, isso será seguramente bem pensado pelos eleitores de Sanders. Porque o mais provável é que a disjuntiva seja entre a burguesia do clã Clinton ou os neofascistas de Trump ou Cruz, tema a que logo nos referiremos.

O socialismo no ar

De todos os novos processos que ocorreram no mundo neste último período, Syriza, Podemos ou Corbyn, talvez o de Sanders seja o mais profundo programaticamente, o mais anticapitalista de todos eles, com a diferença de que atrás dele não há um partido. Trata-se de um movimento que pode avançar e se organizar ou pode terminar retrocedendo.

Os editores de Jacobin, Bhaskar Sunkara, e o do Socialist Workers, Alan Maass, fizeram um debate sobre o que significava Sanders e o título era “O socialismo no ar”. Mais do que entrar em seu debate, queremos resgatar uma ideia que circulou no mesmo e que é apaixonante. No país mais poderoso do capitalismo, a ideia do socialismo está no ar. Assim diz a introdução do periódico citado, assinalando que é notável que essa seja a palavra mais buscada na web e que é também notável que as pesquisas de opinião mostrem uma mudança ainda maior, sobretudo entre os jovens, que se dizem mais favoráveis ao socialismo que ao capitalismo.

A campanha de Bernie Sanders fez mais do que qualquer outro fenômeno mundial (depois de Chávez na Venezuela) para colocar o socialismo no debate. Não é pouca coisa, já que é o país que construiu seu chamado “sonho americano” e seu intervencionismo militar sob o emblema de seu modelo de democracia e liberdade para todo o mundo frente ao bloco soviético e ao stalinismo. E esta ideia está caindo ou já caiu.

Também é assim porque grande parte dos fenômenos mundiais (inclusive Sanders) se explicam pela falta de um modelo de um socialismo anticapitalista e revolucionário frente à crise capitalista. No entanto, que seja nos EUA onde está ocorrendo o que mencionam os editores Bhaskar e Alan é um sintoma, uma luz indicando que, diante da gravíssima crise capitalista, vislumbra-se a ideia do socialismo, que obviamente é a de um novo socialismo.

A hecatombe do regime e o novo perigo neofascista

A outra cara desse processo é o incrível crescimento de Donald Trump, um outsider que concorre no Partido Republicano, um grande empresário que toma por sua conta os custos de sua campanha. Parece um personagem folclórico na televisão, contudo está ganhando os debates e, mais importante, está ganhando um setor da sociedade. Donald Trump diz que é preciso expulsar os imigrantes latinos, construir um muro de cimento na fronteira com o México e também terminar com os muçulmanos, impedindo a entrada ao país de quem tenha essa origem. É um xenófobo, um neofascista que, à diferença do fascismo do pré-guerra, tem como alvo não os trabalhadores e suas organizações, mas os imigrantes e os muçulmanos. Donald Trump tem calado com força num setor da população que também vive a crise do capitalismo. Trata-se da classe média que perde seu status e setores da velha aristocracia operária americana.

O problema do establishment é que o rival que poderia substituí-lo é Ted Cruz, membro do Tea Party, ou seja, a ultradireita republicana que nasceu no começo da crise, frente à política mais liberal de Obama. Como Trump, propõe a expulsão dos imigrantes e um programa burguês mais coerente, não taxar os ricos e uma política internacional ultradireitista, rompendo o pacto com o Irã e atuando sobre a Síria.

Nenhum destes dois candidatos conta por ora com o apoio da grande burguesia. Nesse sentido, também é diferente do fascismo alemão que triunfou quando a alta classe dominante passou para seu lado. Por isso, tentarão manobrar para que não sejam escolhidos, mas o que resta para a classe dominante pode ser Hillary, que tem um programa bastante diferente ao dos republicanos e que tem sido empurrada a posições mais à esquerda pela pressão que faz Sanders.

Essa situação indica o grau de polarização da sociedade americana. Historicamente e até há pouco, com algumas interrupções, o regime americano democrático-burguês funcionava com estabilidade, basedo num bipartidarismo que no fundo era “um só corpo com duas cabeças”. Ele está prestes a explodir ou já explodiu, como consequência da crise desta fase do capitalismo que converte os políticos nos agentes diretos do grande capital que domina o estado.

Há na Europa e agora nos EUA uma crise do bipartidarismo, que é uma crise de representação política profunda de descrença das massas nesses políticos. E é precisamente por isso que aparecem os novos fenômenos à direita e à esquerda.

Falemos do futuro

É possível um triunfo de Sanders dentro do Partido Democrata? A diferença abismal entre os delegados que têm Hillary e Bernie é consequência de que na soma aparecem também os superdelegados eleitos a dedo, dos quais Clinton conta com mais de 700 enquanto Sanders possui só 26. Sanders vai seguir a batalha mas, por este motivo, muito dificilmente conseguirá ganhar.

Todavia, isso não aparecerá como uma derrota para todo o ativismo militante que se nucleou ao redor de Sanders nem para os setores do povo que votaram nele. A grande incógnita é se Sanders e os setores que se organizaram ao seu redor depois das eleições dão o passo para formar um novo partido ou movimento independente. Nisso é necessário apostar e os melhores colocados para pressionar Sanders ou levá-lo adiante serão aqueles que se envolveram na campanha de Sanders, apesar de que seja possível assinalar as limitações que apresenta.

Isso não é novidade nem nos EUA nem em nenhum outro país, como o que ocorre na Inglaterra, Espanha ou Portugal, onde surgem novos partidos e processos. Com suas desigualdades, expressam o rechaço ao neoliberalismo e a sua contrarrevolução econômica permanente, que segue sendo o eixo de sua política mundial. Não ver estes processos é estar em outro mundo, no do programa puro, sem ver a profunda contradição existente entre a crise do capitalismo (a descrença das massas no mesmo e em seus regimes) e a falta de uma alternativa revolucionária que seja um polo para as massas. É por essas razões que não há uma revolução de Outubro à espera na esquina e é também por isso que devemos estar atentos para não perder de vista nossos objetivos estratégicos.

Mas, voltando ao que ocorrerá nos EUA, não pode haver dúvidas de que a luta de classes vai se acelerar também no grande país do Norte. As eleições são um momento importante que é preciso aproveitar (especialmente agora nos EUA), mas o que será fundamental e também será nossa aposta é que a luta de classes se acelerará e se agudizará. A história do povo americano e de seus trabalhadores é de alta combatividade e inclusive de muita violência. Se se volta a pensar no socialismo por que também não será retomada essa grande tradição de luta? As perspectivas são boas e a entrada dos EUA significa um peso de qualidade na luta de classes mundial no sentido profundo como a entendemos os marxistas internacionalistas.


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Pedro Micussi