É preciso lutar pela manutenção integral do auxílio emergencial

É preciso enfrentar o corte de Bolsonaro e exigir a manutenção do auxílio emergencial integral.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 3 set 2020, 20:05

Na última terça-feira, o governo anunciou o corte pela metade do valor do auxílio emergencial (que passará a ser de R$ 300,00) e sua extensão até dezembro, por meio de Medida Provisória a ser votada pelo Congresso. Ladeado por seus parceiros do “centrão” e por Paulo Guedes, no mesmo dia em que o IBGE divulgava retração de 9,7% do PIB no segundo trimestre, Bolsonaro deixou claro seu compromisso com o ajuste estrutural permanente exigido pelos “mercados”: um acordo por mais uma rodada de ataques ao povo brasileiro, materializado com o envio da “reforma” administrativa para o Congresso.

A renda emergencial é um tema fundamental para milhões: diante da maior crise econômica da história do país, a conquista do benefício de R$ 600,00 a trabalhadores pobres e informais, a contragosto de Bolsonaro e Guedes, foi fundamentalmente direcionada, como mostram as pesquisas, à compra de alimentos e medicamentos. Ao mesmo tempo, percebendo o impacto positivo da medida em sua popularidade, Bolsonaro busca equilibrar-se, dando declarações a favor de um novo programa de assistência no lugar do Bolsa Família ao mesmo tempo em que segue seu plano de privatizações e destruição de direitos e serviços públicos. A recuperação de sua popularidade também se deve à banalização da pandemia e à reabertura da circulação promovida por prefeitos e governadores enquanto as cifras da morte seguem em alta no país.

A inação das oposições, no entanto, também cobra seu preço na estabilização lograda por Bolsonaro. Por isso, este é um momento de reflexão: diante do corte pela metade do auxílio emergencial e da catástrofe econômica em curso, qual deve ser o papel da esquerda na disputa da agenda nacional e na defesa dos direitos do povo?

O tombo na economia: “não é grave, mas é catastrófico…”

Diante dos dados divulgados pelo IBGE sobre a atividade econômica no 2º semestre, com uma retração inédita na história do país de quase 10% do PIB, Paulo Guedes mais uma vez tenta minimizar a situação falimentar afirmando tratar-se apenas de um “ruído distante” na economia, que agora se recuperaria em “formato V”. Guedes repete seu usual ilusionismo, que já trouxe ao país episódios patéticos como a divulgação de um suposto “PIB privado” para maquiar o já terrível desempenho econômico de 2019.

Na realidade, o governo Bolsonaro pretende lançar uma cortina de fumaça para a destruição acelerada da economia brasileira e de milhões de empregos, em favor de uma ínfima fração de rentistas e de grandes corporações que veem seus lucros aumentarem enquanto as falências na indústria e nos serviços alcançam números inauditos. O desemprego galopante e o alto endividamento das famílias são chagas que ainda mostrarão seu potencial destrutivo para a vida das famílias trabalhadores com a redução pela metade do auxílio emergencial até dezembro e após seu encerramento em 2021.

A crise internacional também seguirá com consequências dramáticas para a economia brasileira. Se, por um lado, Bolsonaro diferencia-se de Guedes com um aceno aos milhões que recebem o auxílio emergencial, por outro o governo atende às ordens do rentismo transnacional com promessas de mais “reformas” e privatizações – de empresas como Eletrobrás e Correios, além da descarada tentativa em gestação de entregar para as petroleiras estrangerias bilhões de dólares em barris de petróleo da União em contratos de partilha administrados pela PPSA.

Contra o corte da renda básica, é hora de lutar!

A renda emergencial transformou-se no maior programa de distribuição de renda do país. Diante da informalidade e da destruição de empregos formais há anos em curso, o auxílio impediu que milhões de famílias fossem jogadas para a miséria durante a crise da Covid-19, além de aumentar os valores recebidos até então pelos beneficiários dos programas assistenciais.

Após o governo defender um auxílio de apenas R$ 200,00 e ser derrotado no Congresso, Bolsonaro capitalizou o auxílio, pago a mais de 66 milhões de pessoas, além da falsa sensação de “alívio” da pandemia com a reabertura das cidades em meio ao desespero e às quase 130 mil pessoas mortas por Covid-19 no Brasil.

Agora, com o corte do auxílio pela metade, pode-se esperar a piora nas condições de vida do povo mais pobre, com efeitos sobre a própria curva de contágios e mortes, já que milhões de pessoas serão empurradas às ruas em busca de algum ganho. A esquerda, que não soube atuar com base na agitação da defesa de renda popular, tem agora a tarefa de tomar iniciativas em defesa do nível de vida do povo, da recuperação do emprego e da renda contra os ataques de Bolsonaro e Guedes.

O PSOL e sua bancada federal, agora sob a liderança da deputada Sâmia Bomfim, apresentaram importantes medidas É fundamental articular o movimento sindical e popular para defender a bandeira dos R$ 600,00 de auxílio, numa unidade de ação de ação com todos, e explicar o que está acontecendo para milhões: enquanto Bolsonaro faz jogo duplo em defesa dos pobres, na prática organiza com Guedes o corte dos benefícios, a destruição da economia, dos empregos e do patrimônio público.

Ao mesmo tempo, as escandalosas propostas de uma “reforma administrativa”, que ataca o funcionalismo público, e do Orçamento de 2021 devem ser enfrentadas, com a exigência da derrubada da lei do “teto” de gastos, que, na verdade, serve para ampliar a drenagem de recursos públicos para o rentismo e espremer os investimentos no SUS, na educação e em obras públicas que poderiam gerar empregos. Por último, é preciso unir a luta em defesa do nível de vida do povo, dos informais e dos mais pobres com as greves e lutas em curso contra as demissões, cortes salariais e privatizações, como agora fazem heroicamente os trabalhadores dos Correios. Eis o caminho para enfrentar a destruição promovida por Bolsonaro e Guedes.


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