Morre a mãe mais famosa do Brasil

Sobre a vida e a obra de Paulo Gustavo.

Samara Morais 6 maio 2021, 14:03

A arte nos oportuniza conhecimento, possibilita a capacidade de expressão, contribuí para o enfrentamento da dor. Através da arte construímos pontes emocionais para atravessarmos momentos de dor, angustia e até depressão.  

A arte é fundamental na infância e a expressão artística deveria ser altamente incentivada na vida adulta. Pessoas com inclinação artística possuem maior inteligência intra e interpessoal.

Essa semana perdemos um grande artista e todos nós sentimos  um pouquinho com a perda de Paulo Gustavo, pois em meio há tantas dores, doenças, problemas sanitários e econômicos era ele uma fuga para a ludicidade, para a arte, para a vida.

Justamente na semana que temos mais de 400 mil mortes e iniciamos  a CPI do Covid-19, perdemos esse artista, que tanto nos alegrou.

Assim como a Dona Hermínia e o Valdomiro, a personagem Senhora dos Absurdos era incrivelmente engraçada, com ela Paulo mostrou a sua genialidade em tornar caricato, engraçado e altamente nefasto o posicionamento das socialites brasileiras.  

Com frases como: ”Sou branca! Hétera!”esse personagem trazia para a comédia, literalmente os absurdos das classes dominantes. Nos fazendo em tempos tão difíceis sorrir, Paulo ridicularizava o opressor. 

Destaco ainda o seu especial de final de ano, onde o espetacular ator falava dos conflitos familiares quando o nome do “Bolsonaro era mencionado”.

Paulo Gustavo parte,justamente quando temos acesso à informação que diz que tivemos 11 oportunidades de compra de vacina e o presidente não quis nenhuma.

Paulo Gustavo deixa seus filhos Gael e Romeu, seu marido Thales, sua mãe Dea, o Marcus Majella, a Suzana e a Mônica Martelli, justamente quando ouvimos o depoimento, do Ex-Ministro da Saúde Luiz Carlos Mandetta dizendo que desde novembro de 2020, poderíamos já estar vacinados.

Perdemos esse incrível ser humano, assim como perdemos pais, filhos, maridos, esposas, famílias inteiras, perdemos pessoas que amamos, perdemos a nossa história, estamos perdendo a nossa sanidade trancados em casa e constantemente banhados em álcool em gel.

A partida de Paulo Gustavo deixou ainda mais triste, um povo já tão sofrido, tão humilhado, tão ridicularizado, tão cancelado pelo atual condutor desse país.  

Paulo fez campanha pelo amor, pelo sorriso, pelo cuidado e pelo uso de máscara, diferentemente do Bolsonaro que fez para a cloroquina, ivermectina, Trump e o Desmatamento.

Nietzsche poeta e Filósofo disse  Temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade. Somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida” .

Gostaria de ir além de Friedrich Nietzsche e dizer que temos historicamente a arte como resistência. Sendo ela não somente um apoio, mas a problematização de questões cotidianas. O artista entra onde a militância não consegue e combate através da provocação.

Nietzsche também foi influenciado pela arte, deixando sua orientação familiar religiosa (ele seria pastor) após ler Arthur Schopenhauer.

Assim como Paulo, Nietzsche se debruçou em combater as tradições e o moralismo.

Dona Hermínia, uma mulher branca, hétero e moradora de uma região privilegiada do Rio de Janeiro, apareceu na sequência cinematográfica campeã de bilheteria de Paulo. Com muito humor ele tratou de sérias fragilidades familiares, principalmente no que tange a homoafetividade do seu filho Juliano.

Segundo dados estatísticos o Brasil é o pais que mais mata a comunidade a LGBTQI+ do mundo.  

Paulo, provocou a família brasileira a refletir sobre as relações e expectativas, utilizando a arte não como uma antídoto,mas como um potente combustível de transformação.

A incrível atriz e grande amiga de Paulo Gustavo, Mônica Martelli,  escreveu em sua rede social que Paulo é eterno. E ela tem razão, ele e todos os seus personagens estão eternizados, não somente em nossa memória, mas em nossa relação com as nossas mães, com os nossos filhos e com os nossos irmão.

Perder o Paulo e a Dona Hermínia na semana do Dia das Mães é perder um pouco desse amor e dessa alegria que tem nos mantido firmes ao longo da necropolítica de Jair Bolsonaro.

Paulo Gustavo desencarna, vítima de uma doença que já tem vacina, vítima de um projeto político de morte.

Perdemos mais um parente, pois o Paulo Gustavo fazia parte de todas as nossas famílias. 

ELE É GIGANTE!


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