Ortega reativa julgamentos a presos políticos, começando pela emblemática Comandante Dora Maria Téllez e o ativista Yader Parajón

Ortega reativa julgamentos a presos políticos, começando pela emblemática Comandante Dora Maria Téllez e o ativista Yader Parajón

O novo episódio da escalada autoritária do governo Ortega-Murillo é a reativação dos julgamentos a um grupo político, no qual se inclui a figura emblemática da Comandante Dora Maria Tellez.

O governo de Daniel Ortega e sua esposa Rosário Murillo anunciou a reativação dos julgamentos a um grupo de presos políticos, após sete meses das prisões de opositores que caracterizaram as controversas eleições de Novembro 2021. Uma das primeiras a ser julgada é a figura emblemática da Revolução Sandinista, Comandante Dora Maria Tellez, previsto para o dia 03 de fevereiro.

A Comandante Tellez é acusada pelo Estado de “conspirar contra a integridade e soberania nacional”, mesma acusação que é aplicada a mais de 56 pessoas entre ativistas, feministas, líderes universitários, jornalistas e dirigentes políticos, em base a uma lei aprovada pelo orteguismo em Dezembro 2020 contra opositores. Esse foi o mesmo instrumento aplicado para prender também sete pré-candidatos presidenciais, meses antes do pleito iniciar.

Téllez foi capturada em 13 de junho de 2021, no mesmo dia que a Polícia prendeu toda a diretoria da União Democrática Renovadora (UNAMOS), organização que surgiu após a extinção do partido Movimento de Renovação Sandinista (MRS), grupo que aglutinou sandinistas históricos, intelectuais e ativistas de esquerda, opositores a Ortega.

Desde sua captura, Téllez permanece isolada numa cela da chamada Direção de Auxílio Judicial (DAJ), um centro de detenção preventiva para “interrogatórios”, mas onde são praticadas diversas formas de tortura, segundo denúncias dos familiares dos presos políticos e do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. 

Junto ao julgamento de Tellez, está também previsto os julgamentos contra a dirigente de UNAMOS, Ana Margarita Vijil; o ativista Yader Parajon (que esteve no Brasil em 2018 denunciando a perseguição autoritária e violenta repressão do orteguismo); o líder universitário Lesther Alemán; o ativista Yaser Vado e o jornalista Miguel Mora

A Comandante Téllez foi uma das principais guerrilheiras na luta da FSLN contra a ditadura de Anastásio Somoza nos anos 70. Téllez comandou importantes operações de guerrilha, como a ocupação do Congresso Nacional em agosto de 1978 – que conseguiu a libertação de mais de 50 presos políticos do Somozismo – e a ocupação sandinista da cidade de León, a primeira a declarar o triunfo sandinista em 1979. No governo revolucionário foi Ministra de Saúde. Após a revolução, Téllez saiu da FSLN em 1995, por críticas às práticas autoritárias do setor orteguista dentro do partido, e fundou o MRS.

Hoje, Téllez é uma dos 173 presos políticos do regime Ortega-Murillo. Desde o Brasil, o Comitê de Solidariedade com a Nicarágua ecoa o clamor da sociedade nicaraguense pela libertação de todos os presos políticos e pela anulação de todos os julgamentos. Se quiser somar-se à solidariedade, pode se aderir ao Manifesto https://solidariedadenicaragua.wordpress.com/manifesto-apoio-nicaragua/


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Pedro Micussi