Ministério dos Povos Indígenas ‘não consegue resolver’ crise Yanomami, diz Kopenawa
51741660406_9a39cde960_b

Ministério dos Povos Indígenas ‘não consegue resolver’ crise Yanomami, diz Kopenawa

O xamã Yanomami Davi Kopenawa fez a declaração em Cannes, onde participa da apresentação do documentário “A Queda no Céu”

Adriana Brandão 23 maio 2024, 13:09

Foto: Allerto César Araújo/Amazônia Real

Via Instituto Humanitas

“A Queda do Céu” foi publicado inicialmente em francês em 2010. A tradução para o português é de 2013. O filme levou sete anos para ficar pronto e foi rodado na Amazônia, no território e na língua YanomamiDavi Kopenawa, um dos principais porta-vozes dos povos indígenas brasileiros na atualidade, é o narrador, o guia do documentário. O longa é centrado na festa Reahu, o ritual funerário dos Yanomami.

Em entrevista à RFI em Cannes, o xamã disse que aceitou a proposta dos diretores de transpor o livro para o cinema e o convite para participar do Festival de Cannes para “conhecer” outras pessoas e “para falar sobre a nossa cultura Yanomami, nossa língua diferente, para você entender melhor por que vocês não conhecem o meu povo”.

Livro e filme também abordam questões atuais como as ameaças persistentes contra os Yanomami, a floresta e o planeta. “Esse filme ajuda a defesa do povo e a luta da Associação Yanomami”, ao divulgar a situação dos indígenas, acredita Kopenawa.

Imersão no universo Yanomami

O antropólogo francês Bruce Albert também está em Cannes. Ele colaborou com o documentário, orientando Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. O coautor de “A Queda do Céu” ficou “empolgado” com o filme que vai muito além do livro e propicia “uma imersão total no universo metafisico e na estética” Yanomami.

Ele aponta que o “povo da cidade não escuta” os povos originários da floresta que pertence a “todos nós, povo indígena, povo brasileiro, estrangeiro também”. Ele pede ao povo da cidade para “pensar, respeitar e não derrubar mais a floresta”.

Kopenawa ressalta que os “xapiri (espírito da floresta) é muito importante. Ele cuida de toda a natureza para não deixar cair a floresta, afundar a cidade e sujar os rios, como está acontecendo”. Ele espera que os jovens, as novas gerações, entendam essa mensagem, olhem e protejam “o nosso pulmão da Terra”.

Crise humanitária

Desde a publicação do livro, em 2010, as ameças contra os Yanomami, a floresta e o meio ambiente pioraram muito. O povo indígena viveu uma crise humanitária terrível após a invasão de garimpeiros ao seu território durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nem a criação do Ministério dos Povos indígenas, nem medidas adotadas pelo governo Lula no ano passado resolveram a situação.

O xamã avalia que os garimpeiros podem até sair do território, mas “a doença” que eles levaram vai continuar. “O pessoal pode sair, pode ir embora, tirar todo o ouro, que vai ficar é doença, a água poluída. Esse acontecimento não tem homem que vai curar”, denuncia.

Ministério dos Povos Indígenas

Segundo ele, a criação do Ministério dos Povos Indígenas no governo Lula “não consegue” resolver a situação porque “não conhece” os Yanomami, porque “não anda”. Kopenawa critica os funcionários de Brasília que só foram na comunidade “para ficar olhando, tirar foto e depois vão embora. Ele afirma que “não tem remédio, não tem pessoa que trabalha lá” e que seu povo continua morrendo.

“Ele (o governo) só foi lá para dizer que está trabalhando. Isso aí não é verdade, certo? Isso aí é para enganar você que o Ministério dos Povos Indígenas está trabalhando. Mas, ele só quer trabalhar na cidade, mas para trabalhar com meu povo, é difícil para ele”, critica.

Kopenawa lembra que muita gente no Brasil pensa que “não tem mais indígena verdadeiro” no país. As imagens do filme “A Queda do Céu” e o livro mostram que “o indígena verdadeiro” existe e que “o povo originário brasileiro está lutando para todo mundo, para segurar aquele céu. Essa é a minha luta, esse é o meu papel de liderança, entendeu?”, questiona.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 19 nov 2024

Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas

As recentes revelações e prisões de bolsonaristas exigem uma reação unificada imediata contra o golpismo
Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi