VI Conferência do MES: um passo à frente na construção de uma alternativa anticapitalista

Nota da direção nacional da corrente sobre o encontro ocorrido entre 30 de março 1º de abril em São Paulo.

Executiva Nacional do MES/PSOL 16 abr 2018, 18:37

VI Conferência Nacional do Movimento Esquerda Socialista: um passo à frente na construção de uma alternativa anticapitalista

A VI Conferência Nacional do Movimento Esquerda Socialista (MES) ocorreu entre os dias 30 de março e 1º de abril de 2018 em Praia Grande, litoral de São Paulo.

Reunindo militantes de todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, com uma delegação representativa de convidados nacionais e internacionais, a VI Conferência foi um marco histórico para nossa construção. Cerca de 50 delegados, representando 1165 militantes, 14 estados e diferentes frentes de atuação. Outro importante destaque foi a participação de convidados, durante as sessões abertas da conferência, com direito a voz, de importantes organizações da esquerda brasileira e mundial.

A abertura ficou sob responsabilidade de Luciana Genro, com uma mesa internacionalista e a justa homenagem à Marielle Franco. Ainda no primeiro dia da VI Conferência Nacional do MES, pela manhã, o debate se ateve às discussões sobre a conjuntura internacional; sobre a recente incorporação da corrente, como seção simpatizante, à IV Internacional e, também, sobre a necessidade de reagrupamento dos internacionalistas. Pela tarde, os temas foram a discussão sobre a conjuntura nacional e as tarefas dos revolucionários para a construção de uma alternativa anticapitalista.

O segundo dia foi de balanço das atividades da corrente, bem como as perspectivas para o próximo período. Além disso, no segundo dia realizou-se a apresentação dos informes das frentes de luta e foram discutidas as necessidades de construção e enraizamento do MES a partir dos documentos produzidos para a conferência. Neste dia, o pré-candidato à presidência da república pelo PSOL, Guilherme Boulos, esteve presente e fez uma saudação ao espaço da corrente, reconhecendo a importância da organização como força motriz do partido e, consequentemente, de sua campanha.

O último dia foi dedicado às resoluções, encaminhamentos da conferência, reorganização das instâncias de direção e escolha das novas direções da corrente.

Abertura Internacionalista e homenagem à Marielle

O discurso de abertura de Luciana Genro foi emotivo. Resgatou os principais momentos da história do MES, colocando acento na fundação do PSOL, na atuação nas Jornadas de Junho e na disputa presidencial de 2014 como legado programático para o avanço das lutas democráticas. A mesa de abertura contou também com as intervenções de Carlos Maradona, dirigente do MST argentino; Tito Prado do Súmate/Movimiento Nuevo Perú e do camarada Micah Uetricht do DSA dos Estados Unidos. A sessão de abertura concluiu com a homenagem em memória de Marielle Franco, protagonizada pelas mulheres negras presentes. O assassinato brutal de Marielle Franco representa um momento de acentuação da luta classes no Brasil e, assim sendo, não poderia se expressar de outra forma senão sobre a chaga do racismo. São as mulheres negras que hoje mais representam a antítese do sistema capitalista. Antítese essa que se expressou nas massivas manifestações em sua homenagem. Na conferência nacional do MES não poderia ser diferente: lembrar Marielle Franco é lembrar de todos aqueles que um dia lutaram por justiça e liberdade, mas permanecem vivos em cada coração indignado. Uma das resoluções centrais foi seguir a luta por Justiça, convocando e se envolvendo nos atos dos dias 13 e 14 para gritar alto: Marielle presente!

O reagrupamento como tarefa dos internacionalistas

Vale destacar que a conferência foi de caráter aberto a diversas correntes convidadas, que por sua vez realizaram importantes reflexões e aportes à política do MES. Contou com presença, além dos convidados internacionais, de João Machado (Comuna), Fernando Carneiro (APS), Mariana Conti, Márcio e Gilson (1º de Maio), Carlos Bittencourt (Subverta), Fábio Felix (Barulho, presidente do PSOL DF), Alex e Johanes (Esquerda Marxista), Miranda (MLPS), Ronaldo (Comunismo e Liberdade), além de intelectuais como Daniela Mussi, Alvaro Bianchi e Plínio de Arruda Sampaio Jr (que foi pré-candidato a presidência no debate interno do PSOL). Tivemos saudações de camaradas de organizações que não puderam se fazer presentes como Tariq Faroq do AWP paquistanês; de Michael Lowy; da rede de mulheres do Curdistão; dos Anticapitalistas do Estado Espanhol; de La Aurora de Catalunha; dos grupos mexicanos UNIOS e CSR e dos “Unidos anticapitalistas” do Chile; e uma especial saudação do secretariado Internacional da IV.

O debate internacional foi um dos pontos altos da conferência, ratificando uma decisão de caráter histórico: o ingresso na IV internacional como seção simpatizante. A relação com o DSA e o acompanhamento da conjuntura dos Estados Unidos foi o outro salto que demos no último período. Se votou reforçar o trabalho internacional, mantendo e aprofundando nossas atuais relações, com uma atenção especial para o processo do Peru.

Os marcos do debate podem ser conferidos no texto de informe da incorporação.

Como encaminhamento, aprovamos ser mais enérgicos em relação à solidariedade aos povos oprimidos, incluindo palestinos, curdos, e desenvolvendo ações de solidariedade nas cidades com refugiados e imigrantes.

Debates sobre a conjuntura brasileira

A VI Conferência Nacional do MES acontece numa complexa conjuntura, onde utilizamos o conceito de interregno. Por um lado, há uma forte ofensiva da burguesia e dos seus para jogar a crise da Nova República sobre as costas do povo; por outro, há mobilizações como a por justiça para Marielle Franco e Anderson; a reação popular foi a greve vitoriosa dos servidores de São Paulo e dos professores do Amazonas.

Este é o sentimento político que, associado às lutas por direitos e contra as reformas, pode barrar e combater qualquer avanço na organização de um possível fascismo no Brasil. As especulações sobre uma possível ameaça fascista têm sido exploradas com afinco pelas direções petistas como forma de convencer pelo medo. Ainda que tal ameaça seja real e não a subestimemos, a resposta deve ser nas ruas, aliando juventude, trabalhadores, periferia, mulheres, negritude, LGBTs, etc. nas mobilizações populares, contra Temer e por direitos. E buscando construir espaços unitários, mas sem diluir o perfil e o programa que o PSOL forjou nos últimos 15 anos.

Contudo, o reconhecimento político não é suficiente em si mesmo. É necessário que a diversificação da organização seja uma meta em todos os seus espaços de construção. Diversificação essa que deve se expressar tanto na disputa e formação de quadros negros e mulheres, quanto na expansão do trabalho militante para demais frentes, como o movimento sindical e popular.

Outro desafio fundamental para o MES consiste no processo de nacionalização da corrente. A disputa territorial e a capacidade de intervir politicamente em todo o país pode ser determinante.

Seguem as elaborações sobre a situação nacional realizadas na ocasião pela corrente

“Mais vale o que será”

Na quarta sessão da Conferência, realizaram-se os espaços de balanço e foram apresentadas as resoluções de cada frente de atuação. Num rico debate, se destacou os avanços em diferentes esferas. Começando pelo salto de qualidade no alcance da nossa política com nossos parlamentares atuando cotidianamente em importantes centros urbanos do país; com o Mover no campo sindical, que ainda incipiente nos projeta dentro do setor estratégico da sociedade – a classe trabalhadora e suas múltiplas facetas nos dias de hoje; o site e a revista movimento como espaço de propaganda e difusão no terreno da batalha das ideias; o crescimento exponencial da Rede Emancipa, reunindo milhares na sua aula pública em São Paulo e chegando aos seus dez anos enquanto rede, de forma nacionalizada e com novos desafios como a Universidade Emancipa e o Emancipa Mulher no Rio Grande do Sul; uma maior centralização política e organizativa das nossas batalhas dentro da esquerda e do PSOL; também se reconheceu e debateu a importância de frentes como Mulheres e Negritude, com o Juntas e a campanha do Juntos negras e negros de “Vidas negras importam”, onde crescemos muito na formulação e queremos colocar eixo na centralidade dessas intervenção e discussão. E a juventude como usina dos quadros que são vanguarda na estruturação de uma coluna nacional de quadros, além de tonificar e renovar o combativo projeto do Juntos – mantendo a devida autonomia organizativa e relação com setores amplos.

No âmbito dos horizontes, se votou três grandes desafios: o desafio eleitoral, onde podemos reforçar e ampliar bancadas nas assembleias estaduais e eleger deputados federais em outubro, além de candidaturas majoritárias que façam a disputa do programa; o desafio estratégico-programático, que busca atualizar a nossa formulação bem como fortalecer a coluna de quadros, inclusive abrindo a hipótese de novas fusões e articulações com outras correntes da esquerda socialista no país, à luz do desenvolvimento dos espaços comuns como o congresso mundial da IV. O crescimento do site da Movimento como espaço de síntese e difusão das nossas iniciativas é um ponto que foi votado. E ainda mais importante, foi a resolução para editar em português, em parceria com todos quartistas do Brasil, a Revista Imprecor. Por fim, o desafio ideológico, para elevar o patamar da formação da vanguarda brasileira, ampliando a propaganda marxista revolucionária, em espaços como a Escola Marx, tomando como referência a campanha que participamos sobre o centenário da Revolução Russa, agora sobre os 50 anos do maio de 68, entre outras campanhas e espaços de formação e propaganda.

Ao final, após a eleição da nova Direção Nacional, delegados e observadores cantaram a Internacional, após um denso debate, com coesão e disposição para seguir o que vem pela frente.


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Pedro Micussi