Honduras: outro narcoestado

Relações políticas e institucionais que foram sendo estabelecidas com o fim de garantir fluxo permanente de enormes quantidades de cocaína.

Gilberto Ríos Munguía 12 ago 2019, 15:15

O termo narcoestado ou narcoeconomia (de narco-: “droga”; e mais especificamente “associado com o tráfico ilegal de drogas”) é um neologismo econômico e político que se aplica àqueles países cujas instituições políticas se encontram influenciadas de maneira importante pelo poder e as riquezas do narcotráfico, e cujos dirigentes desempenham simultaneamente cargos como funcionários governamentais e membros das redes do tráfico de drogas narcóticas ilegais, amparados por suas atribuições legais.

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Os fóruns matutinos da TV, a imprensa nacional escrita e o rádio, os que estão a serviço da elite, os que jogam em ligas particulares, a opinião publicada e a opinião pública, debatem sobre a natureza do Estado hondurenho em relação à grande quantidade de funcionários como prefeitos, deputados, filhos de ex-presidentes o irmão do chefe do Executivo, policiais, também militares e agora o próprio presidente de fato, que aparecem indiciado por cortes no sul de Nova York encarregadas de perseguir o crime organizado e o tráfico de drogas, com jurisdição extraterritorial no caso de Honduras, conforme os convênios assinados com a potência do Norte.

Entretanto, no país existe Procuradoria ou Ministério Público, Tribunal Supremo de Contas e Corte Suprema de Justiça que suposta ou convenientemente não estiveram nunca inteirados da grande quantidade de funcionários de todos os setores e níveis do Governo, que se envolveram com estas transnacionais do crime e que por sua vez envolvem segmentos da Polícia Nacional e o exército de Honduras. Isso prova uma trama complexa de relações políticas e institucionais que foram estabelecidas com o fim de garantir um fluxo permanente e seguro de enormes quantidades de cocaína (principalmente) para o território norte-americano.

O escândalo já tem conotação mundial e também histórica. Não seria a primeira vez que um Estado da região se converte ao narcotráfico para comodidade e enriquecimento do mandatário de plantão e seu séquito, é também uma condição estabelecida por um mercado que foi instalado pelo exército norte-americano junto com sua política contra-insurgente há quase quatro décadas e que teve a Colômbia como seu principal território de referência para desenvolver as plantações, laboratórios com aparato militar e paramilitar, também político, jurídico e midiático.

O Plano Colômbia que se implementou no início da primeira década de 2000, tinha como objetivo a erradicação da produção de cocaína e outros cultivos ilícitos, entretanto, quinze anos depois e após uma extraordinária soma de dinheiro investida pelos Estados Unidos para o crescimento do exército nesse país, a produção aumentou em 44% (para o ano de 2017, contabilizava-se em algo em torno de 921 toneladas métricas anuais), dado que demonstrava a verdadeira natureza do investimento. Em 2009 – mesmo ano do golpe de Estado em Honduras – foram instaladas sete bases militares norte-americanas nesse país. Em 15 anos de Plano Colômbia os resultados se medem no crescimento dos massacres de camponeses/as, dirigentes populares, sindicalistas, população civil, etc, que aumentaram em 500% no último ano, deixando um rastro de violações a direitos humanos, deslocamento de milhões de pessoas, horror, tristeza, miséria e, evidente, um acúmulo de riquezas bilionária em dólares da elite desse país e seus aliados.

A instalação do narcotráfico na América Central se deu em meados dos anos oitenta, quando a maior presença do exército norte-americano se justificava por parte dos regimes oligárquicos para “defender a democracia do comunismo”. As rotas aéreas, terrestres e marítimas do traslado de centenas de toneladas de cocaína por ano em direção ao mercado do norte, esteve sempre custodiado e protegido pelo exército gringo e seus aliados locais; era claramente uma política de Estado, já que contou com a participação da Casa Branca, o Comando Sul e o Departamento de Estado como ficou evidenciado no Escândalo Irã – Contras, dirigido pelo Tenente-Coronel Oliver North.

A quase inexistência de batidas ou capturas dos chefões da droga no território norte-americano e as implicações em que se viram famosos bancos e financeiras de renome internacional há poucos anos (da qual saíram tranquilamente pagando algumas multas e mudando o nome de suas sucursais), demonstra meridianamente do que se trata este gigantesco negócio que representa uma necessidade para o imperialismo, assim o afirma também o famoso intelectual Noam Chomsky.

A necessidade do consumo e sua relação com a produção é também evidente. A classe trabalhadora norte-americana está submetida a extensas e demandantes jornadas de trabalho, a cocaína faz parte fundamental de sua produtividade em detrimento de sua qualidade de vida psicológica e fisicamente falando. Sua economia tem uma claro narcodependência, que se traduz num movimento maior do que os 500 bilhões de dólares, segundo as estimativas de 2009.

As repercussões na região são claras, desenvolvendo-se elites políticas e econômicas diretamente relacionadas com o narcotráfico. Apesar da responsabilidade direta da sociedade e do sistema norte-americano, seu governo sustenta uma agenda sumamente questionável desde o ponto de vista humano e racional, já que são dezenas de milhares os que falecem em seu território por seu consumo direto, mas também são centenas de milhares de latino-americanos os que morrem por seu tráfico.

Artigo originalmente publicado em El Pulso. Reprodução da tradução realizada pelo Portal da Esquerda em Movimento.

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