Não esqueçam Julian Assange

O fundador do Wikileaks continua preso na Inglaterra, em segurança máxima, e o seu estado de saúde está se agravando.

Oscar Grenfell 18 set 2019, 18:33

Numa entrevista, de 16 de agosto, à 3CR, uma estação de rádio comunitária de Melbourne, o pai de Julian Assange, John Shipton, declarou que a saúde do fundador do WikiLeaks continua a deteriorar-se na prisão britânica de segurança máxima Belmarsh.

Shipton revelou que Assange recebeu uma visita de seu irmão Gabriel alguns dias antes. “Julian está esquelético e longe de estar em boas condições ou saudável”, disse. “Sofre de ansiedade. Continua com o seu espírito batalhador, mas o seu bem-estar está a declinar rapidamente.”

O pai alertou que corremos o risco de “perder Julian”, se nada for feito para acabar com o seu encarceramento. O seu aviso provocou uma declaração do jornalista mundialmente renomado, John Pilger, no Twitter, no início de agosto. Ele escreveu: “Não esqueçam Julian Assange. Ou iremos perdê-lo. Vi-o na prisão de Belmarch e a sua saúde deteriorou-se…”

Shipton destacou as condições draconianas no presídio de Belmarsh, onde Assange está preso desde que foi arrastado da embaixada do Equador em Londres pela polícia britânica, a 11 de abril.

“Acredita que Julian, que é uma pessoa gentil e intelectual, está trancado numa prisão de segurança máxima?” perguntou ao entrevistador Jacob Gresh, apoiante do WikiLeaks.

Assange foi encaminhado para essas instalações apesar de ter sido condenado apenas por um pequeno delito segundo a lei britânica, resultado do seu pedido, que foi aceite, de asilo político na embaixada do Equador em 2012.

Shipton explicou que Assange estava “numa cela 20 horas por dia e tem duas visitas sociais por mês. Os advogados são autorizados a entrar apenas em algumas outras ocasiões. As visitas sociais podem ser arbitrariamente canceladas ou ter o seu tempo reduzido”.

O pai de Assange relatou ainda que foi impedido de ver o filho quando viajou da Austrália a Londres, há dois meses e meio atrás: “Esperámos e disseram-nos que não poderíamos entrar” na prisão para uma visita pré-marcada com Assange.

“Não deram nenhum motivo”, disse Shipton, exceto que “houve agendamentos que conflituavam com as visitas dos médicos. Eles marcam os exames médicos para o horário das visitas, cancelando as visitas sociais”.

Shipton, juntamente com um membro da equipa do WikiLeaks e o artista chinês Ai Weiwei, regressou na semana seguinte para outra visita marcada. “Esperámos 46 minutos até Julian chegar”, disse. As autoridades da prisão alegaram que se tinham “esquecido” de avisar Assange sobre a visita, pelo que “tiveram de ir buscá-lo e trazê-lo para cá”.

O resultado foi que a visita de duas horas, à qual Assange tem direito, foi reduzida para apenas uma hora. “Fazer uma longa viagem da Austrália para ver Julian e ficar com ele apenas uma hora, isso é muito cruel para mim”, disse o pai.

Quando perguntado por Grech se achava que isso se deu por incompetência ou se foi um ataque deliberado aos direitos de Ashton, Shipton respondeu: “disseram -me que fazem isso com os presos famosos para reforçar a autoridade sobre ele e sobre as suas visitas”.

Shipton revelou que a extensão dos problemas de saúde de Assange, e as condições do seu confinamento, compeliram o seu irmão Gabriel a escrever “uma carta ao primeiro ministro [australiano] Scott Morrison, descrevendo as circunstâncias e saúde de Julian. Nela, pede que Morrison faça alguma coisa urgentemente, porque, caso contrário, perderemos Julian”.

O pai de Assange condenou a recusa de sucessivos governos australianos em tomar alguma atitude em defesa do fundador do WikiLeaks, um cidadão e jornalista australiano. Para ele, isso contrasta com os sentimentos das pessoas comuns.

Shipton declarou: “sinto que Julian depende muito do apoio dos australianos, e o seu amparo tem sido incansável ao longo dos anos. O governo, é claro, não tomou conhecimento, e parece-me que só se importa com os Estados Unidos e com o Reino Unido, e voluntariamente sacrificará o bem-estar de Julian face às exigências dos dois países”.

No mês passado, Anthony Albanese, líder do Partido Trabalhista da Austrália, de oposição ao governo — e ministro do antigo governo trabalhista que afirmou que o WikiLeaks era “ilegal” em 2010, apoiando a sua perseguição — concordou em encontrar-se com Shipton por dez minutos. Albanese não disse nada desde então. Tanto os partidos Coligação e Trabalhista trataram os pedidos de intervenção feitos pela família e amigos de Assange com desprezo e continuaram com o seu apoio de nove anos ao esforço norte-americano em persegui-lo e em destruir o WikiLeaks.

Shipton notou que essa perseguição foi resultado das atividades de publicação do WikiLeaks, que “nos deram uma ideia de todos os crimes hediondos dos últimos 20 anos, de país atrás de país que foi destruído, dos assassinatos, da implantação de espiões e dos políticos de segunda classe que tiveram as suas ligações com o embaixador dos EUA”.

As últimas informações sobre a saúde de Assange coincidem com o lançamento público de duas cartas que ele mandou aos seus apoiantes desde a sua prisão em Belmarsh.

Numa, publicada no twitter por Ariyana Love em 16 de agosto, Assange escreveu: “Obrigado, sra. Love, são pessoas como você, grandes e pequenas, que lutam para salvar a minha vida, que me fazem ter forças para continuar. Podemos vencer! Não deixe esses malditos sacrificarem a liberdade de expressão, a democracia europeia e a minha vida no altar do Brexit”.

Noutra, escrita em maio mas publicada apenas na semana passada, Assange sublinhou a importância de protestos em sua defesa. Sugeria que as manifestações que exigem a sua liberdade fossem feitas à porta dos escritórios de organizações que “não estão acostumadas aos protestos ou teriam dificuldade de defender-se contra eles ideologicamente”, e enumerou um bom número de publicações de notícias, incluindo a BBC e o Le Monde, como possíveis alvos.

Assange escreve: “Os protestos são muito poderosos em lugares que não estão acostumados aos mesmos, mesmo se todos fingirem o contrário”.

Reprodução do artigo publicado no esquerda.net.


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