O significado da crise na ABIN
Après les révélation, le clan Bolsonaro tente de s'expliquer!

O significado da crise na ABIN

As recentes revelações sobre a “ABIN paralela” exigem uma luta dura contra a extrema direita integrada ao aparato de estado

Israel Dutra 30 jan 2024, 09:34

Foto: Reprodução

Na manhã da segunda-feira, 29 de janeiro, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa dos Bolsonaro, em Angra dos Reis. O alvo prioritário era o vereador Carlos Bolsonaro, que segundo fontes teria saído de barco para não ser encontrado em casa na hora da operação. Uma cena tragicômica, novo capítulo de de um evento que nos revela uma das “almas” do bolsonarismo. Uma crise iniciada com a operação da Polícia Federal contra a máquina de espionagem bolsonarista coordenada pelo ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Alexandre Ramagem.

Como definiu o jornalista Leonardo Sakamoto, estamos diante de um “dos maiores escândalos da República”, sendo apenas a ponta do iceberg. Isso se soma à delação de Ronnie Lessa, que promete jogar novas luzes sobre o caso de Marielle Franco, inconcluso até hoje; a ação das milícias no Rio de Janeiro segue impune, alicerçada nas espúrias relações com o poder público.

É preciso atuar de forma decidida, entendendo que não há como enfrentar o bolsonarismo sem combater suas frações incrustadas no aparelho repressivo de Estado. Isso é uma questão vital.

A “República dos serviços”

O que se sabe por enquanto da operação que a PF realizou acerca da gestão Ramagem na ABIN é gravíssimo. A espionagem feita com o software ligada à inteligência israelense First Mile envolveu diretamente cerca de 30 mil pessoas monitoradas, entre elas Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes do STF, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, governadores, entre outros políticos e membros da oposição.

Batizada pela imprensa de “ABIN paralela”, o operativo de espionagem de Ramagem monitorou, inclusive, a então promotora do caso Marielle Franco, Simone Sibilo.

A intenção bonapartista de Bolsonaro era utilizar as ferramentas do aparelho de estado a serviço de seus próprios interesses, o que chegou a revelar em entrevistas, afirmando que tinha “seu próprio serviço de inteligência”. A derrota eleitoral interditou seus planos, pois é evidente que um segundo mandato de Bolsonaro teria como prioridade acelerar o processo de controle institucional a partir de sua figura.

Uma questão que surge, por óbvio, é: a ABIN serve para que? Para que servem os “serviços”, jargão utilizado para se referir aos órgãos de inteligência e monitoramento interno. A ABIN é herdeira do SNI, formado imediatamente após o golpe militar, em junho de 1964. Conforme foi revelado recentemente por reportagem do Intercept , durante o governo FHC, a ABIN vigiou o MST e os setores mais à esquerda dentro do PT. A ABIN é um dos pilares do aparelho repressivo de estado vigente no Brasil e é dentro desse aparelho repressivo, com suas múltiplas faces e dispositivos, que os setores bolsonaristas se movem nas sombras.

Ramagem é um personagem que expressa esses vínculos e que está se postulando para a prefeitura do Rio, sendo bem colocado nas primeiras pesquisas de opinião. Outra figura desse enredo é Carlos Jordy, bolsonarista de ponta, deputado federal investigado por sua participação no 8 de janeiro e atualmente candidato a prefeito de Niterói.

O ovo da serpente

A tarefa de enfrentar o neofascismo e a extrema direita é urgente. Esta não pode, porém, ser apenas um slogan vazio ou uma retórica eleitoral.

O escândalo da ABIN paralela puxou mais um dos fios soltos que levam ao maior perigo real: as relações paramilitares do bolsonarismo e seus vínculos com o aparelho repressivo. As camadas intocadas funcionais ao bolsonarismo – milícias urbanas e rurais, garimpeiros e madeireiros armados, setores das Forças Armadas, crime organizado ligado ao tráfico e ao jogo do bicho- precisam ser investigadas. É uma vergonha nacional que, após seis anos, não conhecemos os mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Há uma linha- agora cada vez mais visível- que une a ação desses grupos. O grupo armado “Invasão Zero” que assassinou na Bahia a liderança indígena Maria de Fátima Muniz Andrade, conhecida como Nega Pataxó, é um dos braços paramilitares da ação dos ruralistas ligados ao bolsonarismo na região

O governo federal deve aproveitar a repercussão do escândalo do controle da ABIN não apenas para desmoralizar Bolsonaro e seu clã. Deve discutir seriamente a ligação dos grupos paramilitares com agentes políticos e econômicos, e também com membros das Forças Armadas, para combater onde está o real ovo da serpente.

Medidas necessárias

    • Diante da gravidade dos fatos, é preciso uma agenda de urgência. Bolsonaro e seu clã devem ser presos imediatamente. A cúpula da ABIN e da Polícia Federal deve ser investigada e os que estiverem ligados à máquina de espionagem devem ser desligados do serviço público.
    • É fundamental levar adiante a luta contra as milícias – no campo e na cidade – como tarefa democrática inadiável.
    • O ato de 14 de março, quando se completam seis anos do assassinato de Marielle e Anderson, deve ser um pronunciamento da esquerda e dos movimentos sociais a favor de uma luta consequente que impulsione e pressione por essas medidas concretas.
    • É preciso discutir uma ampla reforma da segurança pública no país, lutando para remover os entulhos da ditadura, verdadeiros viveiros para a reprodução da extrema direita. Nesse sentido, o governo federal aprofunda o que há de pior na lógica da segurança e da guerra contra os pobres e negros do país ao investir na privatização dos presídios.
    • Por fim, vamos fazer valer o chamado de “Sem Anistia” para golpistas e milicianos, combinando as reivindicações com a mobilização democrática permanente.

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