Juntas contra Bolsonaro: construir um 8M pelas nossas vidas!

Editorial Especial de 8 de Março da Coordenação Nacional do Juntas!

A Covid-19 já fez mais de 260 mil vítimas no Brasil, número que cresce a cada dia por conta da política genocida de Bolsonaro. Além da crise sanitária, temos uma crise econômica e social em curso, aprofundada por Bolsonaro e seus aliados. São milhões de desempregados no país além de muitos brasileiros retornando para uma situação de extrema pobreza. O corte do auxílio emergencial escancara as desigualdades no país: famílias vivem com a fome rondando suas casas e sem perspectivas de futuro. Os preços dos alimentos, do gás e da gasolina atingem níveis históricos. A violência policial segue com o projeto de genocídio do povo negro e mães pretas seguem chorando por seus filhos. O caos na saúde se agrava. O constante desmonte do SUS, a falta de um plano nacional de vacinação efetivo, o impedimento de estados e municípios comprarem doses dos imunizantes e o descaso dos governos em relação às medidas de prevenção à doença tiveram como resultado o colapso que vivemos neste momento. A falta de oxigênio em Manaus e em toda região Norte em janeiro, agora se repete por toda parte e os leitos de UTIs lotados já são uma realidade na enorme maioria dos estados.

Nesse contexto de acirramento dos interesses de classe em que a prioridade do governo federal tem sido produzir mais conflitos que atinjam as minorias, vemos “passar a boiada” na Amazônia: a grilagem, o garimpo e o extermínio das populações indígenas são denunciados todos os dias. O momento tem sido oportuno para o ataque covarde: a prioridade da população tem sido preservar vidas e o movimento de massas nas ruas não é viável na conjuntura pandêmica em que vivemos.

A necessidade do isolamento social decorrente da crise da COVID-19 trouxe muitos reflexos para a vida de todas as pessoas, mas de maneira destacada para as mulheres. A pandemia jogou luz sobre o problema crucial do trabalho reprodutivo na sociedade capitalista. As feministas marxistas argumentam há tempos sobre o papel central que o trabalho de reprodução da vida social cumpre para que a engrenagem da exploração siga funcionando. As atividades como a educação, a saúde, a alimentação, a limpeza, o cuidado dos idosos, que são essenciais para a sociedade, historicamente são de responsabilidade das mulheres e muitas vezes invisibilizadas enquanto trabalho. O que a pandemia deixou nítido é que os serviços públicos que desempenham esses papéis de cuidado (como serviços de saúde e escolas) são sucateados há décadas com falta de investimento e profissionais mal remunerados. Mas a crise em que nos encontramos escancarou a centralidade do trabalho da reprodução social na manutenção da sociedade.

O efeito disso sobre as mulheres está sendo brutal. Muitas perderam seus empregos diante da grave crise econômica e milhões das que dependiam do trabalho informal viram sua renda desaparecer. As que puderam trabalhar remotamente em suas casas tiveram que equilibrar a rotina profissional enquanto assistiam às tarefas domésticas se multiplicarem: as crianças passaram a estar o dia inteiro em casa demandando atenção integral, o tempo gasto na cozinha aumentou drasticamente por conta do aumento do número de refeições em casa, os cuidados com a limpeza demandam uma atenção muito maior diante de uma doença altamente infecciosa. 

Tudo isso convive com um cenário de aumento exponencial da violência doméstica. O desemprego, a sobrecarga de tarefas e a falta de perspectivas de estabilização da vida acentuam os sintomas do machismo no cotidiano das mulheres brasileiras. Antes da pandemia já convivíamos com os mais altos índices de feminicídio do mundo. Agora vemos cada vez mais casos aterrorizantes de violência de gênero ao nosso redor.

Vivemos um cabo de guerra com o governo. Os inúmeros casos de corrupção, a má gestão no enfrentamento da pandemia e o fim do auxílio emergencial colocaram a popularidade de Bolsonaro em queda. Por outro lado, nas cúpulas do poder, o bolsonarismo ganha espaço na presidência da Câmara, com Arthur Lira, e no Senado, com Rodrigo Pacheco. Já podemos sentir os primeiros passos da agenda econômica ultraliberal sendo imposta como a subordinação do Banco Central, a reforma administrativa e outras atrocidades. Além disso, as pautas conservadoras começam a sinalizar seu retorno, como o armamento da população, a licença das polícias para matar e os projetos de retrocesso nos direitos sexuais e reprodutivos.

E é nesse cenário de crise sanitária, econômica, social e política que acontece hoje o 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, a data mais importante do movimento feminista. No  entanto, o cenário catastrófico da pandemia coloca entraves na nossa mobilização. O último grande ato de 2020 antes do início das medidas de isolamento social foi o 8M, quando com mobilizações massivas denunciamos a necropolítica machista, racista e corrupta  de Bolsonaro. Ainda nesse mês, a data de 3 anos do assassinato de Marielle Franco representa uma cicatriz aberta na estrutura do governo e deve também ser marcada com atos por Justiça para Marielle e Anderson. 

É fundamental que o conjunto do movimento feminista mostre o papel das mulheres nas lutas da conjuntura sendo um polo combativo ao bolsonarismo e a extrema direita no pais. O 8M deve ser um momento de reoxigenação do movimento feminista e de destravamento da fúria do povo com o governo, linkando as lutas pelo auxílio emergencial, vacina para todas e todos e pelo impeachment de Bolsonaro, à luta das mulheres. Se são as mulheres as que estão na linha de frente da saúde e do cuidado, as que mais sentem a fome batendo na porta de casa, as que mais sofreram com o aumento da violência durante a quarentena, também seremos nós as precursoras dessas lutas. 

Vamos construir em todo o Brasil um forte 8 de março, dentro dos limites sanitários seguros, ocuparemos as ruas, as janelas e as redes para dizer que é preciso dar um fim a este governo genocida e corrupto de Jair Bolsonaro. Exigimos renda básica para todas e todos que necessitam a fim de combater a fome e a miséria. Queremos vacina para toda a população para pararmos de perder tantas vidas e para podermos retornar  ao nosso cotidiano. Lutamos pelo fim da violência contra as mulheres e do feminicídio porque não queremos mais sermos mortas por nossos agressores. Lutamos sempre pela vida em primeiro lugar. Juntas contra Bolsonaro. Vivas nos queremos!


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Pedro Micussi