É urgente descobrir (e punir) quem financia o bolsoterrorismo
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É urgente descobrir (e punir) quem financia o bolsoterrorismo

Polícia frustrou atentado em Brasília, mas radicais podem ter outros planos em andamento

Tatiana Py Dutra 26 dez 2022, 14:00

Após uma tentativa frustrada de ataque terrorista em Brasília, na véspera de Natal, uma dúvida paira no ar: que financiou os atos de George Washington de Oliveira Sousa? O apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), preso em flagrante por terrorismo, mora há quase dois meses na capital federal, sem trabalho ou renda oficial. Porém, teve condições de se sustentar e de habitar um apartamento em zona nobre a fim de articular ações que, em suas palavras, poderiam levar a cidade ao “caos”, forçar intervenção das Forças Armadas e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Sousa, 54 anos, é gerente de um posto de combustíveis em Xinguara, no Pará. Ele viajou para Brasília, de carro, em 12 de novembro, unindo-se a manifestantes golpistas que protestam em frente ao quartel-general do Exército. Na bagagem, levava mais de R$ 160 mil em armamentos, como pistolas, fuzis, carabinas e munições. Parte desse arsenal foi encontrado no apartamento em que foi preso, no sábado (24), no Sudoeste, zona nobre do Plano Piloto. Segundo apurações iniciais, o investimento é incompatível com a renda do suspeito – o que indica que agentes mais ricos e poderosos estejam pagando pela promoção do golpismo e, agora, do terrorismo civil.

A morosidade e a inação da maior parte das seguranças é o adubo onde se desenvolve o “Bolsoterrorismo”. Condorme a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Sousa possui licenças de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), mas não tinha autorização para transportar e portar equipamento bélico. Ainda assim, nos mais de 1,2 mil quilômetros que separam sua cidade de origem ao seu destino, seu veículo jamais passou por fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), por exemplo. A certeza da impunidade que acompanhou Sousa também ampara milhares de manifestantes golpistas espalhados pelo Brasil que, suspeita-se, podem igualmente estar tramando atentados.

O terrorista confessou, incluisvem que os atos de vandalismo cometidos no centro de Brasília em 12 de dezembro – quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, atearam fogo em carros e provocaram uma noite de caos na cidade – tiveram apoio das forças de segurança. Sousa disse ter conversado com policiais militares e bombeiros que disseram que não conteriam os criminosos desde que eles “não agredissem os policiais”. 

“Ali ficou claro para mim que a PM e o bombeiro (sic) estavam ao lado do presidente e que, em breve, seria decretada a intervenção das Forças Armadas”, acrescentou o terrorista.

A própria vice-procuradora Geral da República, Lindôra Araújo, fez parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contrário à integração dos atos de vandalismo aos inquéritos a cargo do tribunal. Com a impunidade grassando, quantos planos de destruição podem estar hoje em curso hoje? Na avaliação da deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA), passou da hora de as autoridades agirem.

“Há muito, os bolsonaristas já ultrapassaram o limite do tolerável. Com fascistas não tem diálogo. Seus crimes não devem ser anistiados e precisam ser responsabilizados com rigor e urgência!”, afirma.

O plano

Conforme Sousa, no último dia 22 de dezembro, vários manifestantes do acampamento o buscaram e sugeriram que fosse detonada uma bomba no estacionamento do Aeroporto de Brasília. A ideia era que, depois do atentado, fosse feita uma denúncia anônima sobre a existência de outras bombas na área de embarque. Posteriormente, segundo ele, uma  mulher do grupo sugeriu a instalação de uma bomba na subestação de energia elétrica de Taguatinga, para “dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”. 

Só o primeiro plano começou a ser levado a cabo. Souza disse à polícia que Alan, outro participante do grupo, voluntariou-se para instalar a bomba em postes. No dia 23 de dezembro, eles receberam de uma terceira pessoa, um material explosivo usado em garimpos para confeccionar as bombas.

“Eu entreguei o artefato ao Alan e insisti que ele instalasse em um poste de energia para interromper o fornecimento de eletricidade, porque eu não concordei com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto. Porém, no dia 23/12/2022 eu soube pela TV que a polícia tinha apreendido a bomba no aeroporto e que o Alan não tinha seguido o plano original”, contou, apesar de a PM ter afirmado ter encontrado o material na manhã de sábado (24), sob um caminhão tanque carregado com querosene de aviação.

Em entrevista coletiva, o delegado-geral da Polícia Civil do DF, Robson Candido, afirmou que o grupo chegou a acionar o dispositivo, mas ele não explodiu.

“A perícia nos relata que eles tentaram acionar o equipamento, mas não sei porque, talvez até por ineficiência técnica deles, não conseguiram explodir. Mas a intenção deles era explodir esses outros materiais sim e novamente causar, como eu disse, causar tumulto, né? (…) Se esse material adentrasse o Aeroporto de Brasília, próximo a um avião com 200 pessoas, seria uma tragédia aqui dentro de Brasília, jamais vista, seria motivo de vários noticiários internacionais, mas nós conseguimos interceptar”, disse Robson Cândido.

O delegado disse não ter noção de quantas pessoas colaboraram com ele, mas as investigações vão se aprofundar. 

“Nós respeitamos as manifestações, mas quando elas fogem de princípios constitucionais e ferem a liberdade do próximo, a PCDF vai agir, e agir com rigor”, concluiu Robson.

Apelo do discurso

George Washington de Oliveira Sousa costumava espalhar mensagens de ódio em sua conta no Twitter, especialmente contra Lula e partidos de esquerda. À Polícia Civil, ele disse em depoimento que as “palavras” de Jair Bolsonaro (PL) o inspiraram, inclusive a adquirir seu pequeno arsenal.

“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado'”, disse, acrescentando ser “apaixonado” desde jovem.

A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) vê nesse fato mais uma prova dos efeitos deletérios da gestão Bolsonaro.

“[É] Consequência óbvia da política armamentista e golpista do governo. É preciso responsabilizar o verdadeiro mandante desses crimes, sob pena de que levem a cabo novos ataques terroristas. Derrotamos Bolsonaro nas urnas, mas não é suficiente, precisamos desbolsonarizar o Brasil”, afirma.

Sâmia Bomfim (PSOL-SP), líder da bancada do partido na Câmara, pediu a punição de todos os envolvidos. 

“Qualquer transição democrática pressupõe a punição devida aos terroristas acampados em frente aos quartéis, seus líderes e financiadores. Principalmente Bolsonaro, sua familícia e o sujeito que planejou um atentado ao aeroporto de Brasília. Justiça sim, anistia não!”


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