Crise ambiental: é preciso um freio de emergência contra a catástrofe em curso
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Crise ambiental: é preciso um freio de emergência contra a catástrofe em curso

As recentes inundações no Rio Grande do Sul demonstram a grave situação climática que vive o planeta e exige soluções radicais

Israel Dutra 10 set 2023, 09:01

Foto: Caroline Ferraz / Sul21.com.br (Creative Commons)

As notícias que chegam do Rio Grande do Sul são trágicas; em 21 cidades, milhares de desabrigados, chegamos ao número de 41 vítimas fatais, dezenas de desaparecidos, com o novo ciclone extratropical que chegou ao Rio Grande do Sul. É a terceira grande temporada de chuvas fortes na região no ano, com consequências humanas terríveis e cidades isoladas em meio à destruíção

A situação de desequilíbrio climático é notável tanto nas tragédias quanto na vida cotidiana. Qualquer brasileiro, seja em cidades grandes ou no interior, nota que as temperaturas estão desreguladas, calores insuportáveis no inverno, frio extemporâneo no verão. Nesta situação, quem mais sofre são os mais pobres que vivem em áreas de risco e sentem primeiro os efeitos da crise climática. Se fora do país são notórios os grandes fluxos migratórios causados pelas mudanças no clima, no Brasil o racismo ambiental afeta profundamente populações historicamente excluídas que são obrigadas a ocupar zonas alagáveis, encostas de morros e terrenos com risco similar devido à permanente especulação imobiliária

As recentes reuniões internacionais realizadas para pautar o tema ambiental, como a Cúpula da Amazônia, também mostram que esse tema é central nos rumos políticos dos governos. Enquanto a extrema direita busca destruir por completo as conquistas democráticas do ambientalismo nos últimos anos, derivadas principalmente do próprio reconhecimento do caráter de emergência ambiental que vivemos, um setor da centro-esquerda – apesar de reconhecer a necessidade de defender certos padrões civilizatórios – segue conciliando com o setor extrativista, na lógica do pacto de classes. Dentro do PSOL, a ala moderada manobrou para que a setorial ecossocialista não tivesse uma contribuição unificada, mostrando que essa disputa também atravessa o nosso Partido.

A dramática situação concreta

Há uma crescente consciência de massas sobre o tema ambiental, com em muitos ano não se via. Os recentes eventos climáticos se espalham por todo planeta deixando um rastro de caos e destruição. Em 2022, foram registradas as maiores chuvas da história da Austrália; já nesse ano, o calor demasiado provocou uma onda de incêndios nas florestas boreais do Canadá; inundações recorrentes afligem milhões no Paquistão. A tragédia de Mauí, no Havaí, também demonstrou que os países ricos também estão suscetíveis às calamidades ambientais.

O ano de 2023 destacou as mais altas temperaturas medidas da história. Nos dias 3,4 e 6 de Julho, o mundo alcançou, respectivamente, 17,01,°, 17,18°, 17,23°. O dias mais quentes que a humanidade conheceu. Está sendo cunhado o termo “fervura global” para designar a alta de temperaturas registrado durante o último mês de julho.

A crise ambiental é parte de uma crise mais abrangente, que podemos definir como crise multidimensional. Ou seja, envolve e se relaciona com as esferas mais profundas da crise social, financeira e política. Não há como não considerar o efeito político da onda migratoria e dos “refugiados climáticos” causados por temas ambientais, para dar um exemplo da profundidade do que estamos falando. No Brasil, além da atual tragédia no Rio Grande do Sul, tivemos algumas outras ainda esse ano, como em São Sebastião/São Paulo, e outras.

Enquanto no Brasil o discurso oficial conciliador busca minimizar os efeitos da crise climática, vemos o debate latinoamericano em sentido contrário. A pressão pelo crescimento que afeta as economias dos países dos BRICS se confronta com as resistências e mobilizações populares como no exemplar plebiscito sobre a exploração no Yasuní, no Equador, ou na demonstração de intenções refletida no recente discurso de Gustavo Petro em Belém do Pará.

Enquanto países da região buscam impor um freio à lógica extrativista predatória que influencia diretamente a crise climática, vemos o atual governo brasileiro pressionar pela exploração de petróleo na foz do Amazonas, área de delicado equilíbrio ambiental. Como escreveu recentemente Eliane Brum:

“O colombiano Gustavo Petro acertou em cheio ao apontar o dilema de Lula, do Brasil e da maioria dos governos de esquerda e de centro-esquerda do mundo. “[Os governos de] direita têm um fácil escape, que é o negacionismo. Negam a ciência. Para os progressistas, é muito difícil. Gera então outro tipo de negacionismo: falar em transições”, afirmou ele na Cúpula da Amazônia, realizada nos dias 8 e 9 deste mês de agosto. Petro se referia ao discurso da “transição” para energias renováveis e não poluidoras, usado por governantes como Lula para justificar a continuidade da exploração de combustíveis fósseis. Como SUMAÚMA antecipou, o presidente da Colômbia se esforçou para convencer os colegas a fazer um pacto pelo fim da exploração de petróleo na Amazônia, mas ficou falando sozinho. Seu isolamento denunciou o que tem aterrorizado jovens ativistas da geração de Greta Thunberg: a dificuldade de fazer com que políticos, a maioria homens moldados no – e pelo – século 20, sejam capazes de tomar decisões que contrariem suas crenças mais arraigadas – justamente as decisões urgentes para barrar o aquecimento do planeta em 1,5 grau Celsius.”

Ultima chamada: Puxar os freios de emergência!

É possível reverter a dinâmica destrutiva que está se impondo ao planeta pelo regime de exploração desenfreada da humanidade e da natureza. A expansão permanente das fronteiras do capital é o motor desta crise que só pode ser tratada com uma mudança radical no modo de produção, recompondo a relação entre as comunidades, suas necessidades imediatas e as cadeias produtivas. Para isso, é necessário colocar no centro o debate para um ecossocialismo de milhões, levantando bandeiras que toquem os interesses dos mais afetados pelas múltiplas consequências da crise ambiental.

Portanto, a defesa intransigente das bandeiras programáticas ecossocialistas é ponto inegociável do programa do PSOL. O crescimento econômico não pode ser o único balizador sobre os resultados de um modelo desigual e excludente que, levado ao limite, coloca em risco os biomas e o próprio conjunto da vida humana como a conhecemos. Somente na resistência dos setores mais afetados e na valorização das mais avançadas formulações científicas será possível enfrentar a crise climática cujos efeitos são sentidos cada vez mais drasticamente. Por isso levantamos a bandeira de um PSOL anticapitalista frente à impossível conciliação com o capitalismo predatório.

Apenas um processo de caráter revolucionário poderia reverter essa dinâmica. E aceitando a premissa de Walter Benjamin, a Revolução não é o ponto de chegada do desenvolvimento linear das tecnologias produtivas, sim, seu antípoda, como um freio de emergência para preservar a humanidade e sua capacidade de reproduzir a vida.


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