Stephen Hawking: Gênio de nosso tempo

Além das brilhantes contribuições em seu campo do conhecimento, Hawking faz uma série de reflexões sobre a sociedade.

Ricardo Souza 15 mar 2018, 14:34

Faleceu ontem um dos maiores nomes recentes da Física e da Astronomia, Stephen Hawkings (1942-2018) estudou a radiação, a gravidade, o universo, os buracos negro, publicou uma série e de livros e fez jus a diversos prêmios. Por décadas enfrentou esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa, inspirando uma gerações por todo mundo a desenvolver ciência. Sua trajetória foi brilhantemente dramatizada na cinebiografia “A Teoria de Tudo” (2014).

Além das brilhantes contribuições em seu campo do conhecimento, provando falsa a compartimentação dos saberes a dicotomia entre as ciências natureza e da vida social(humanas e exatas) Hawking faz uma série de reflexões sobre a sociedade, assumindo posições progressivas e à esquerda, como o Boicote ao Estado de Israel. Reflete também o impacto social do desenvolvimento tecnológico na sociedade capitalista:}

“Se as máquinas produzirem tudo o que precisamos, o resultado vai depender de como as coisas serão distribuídas. Todos podem usufruir de uma vida de luxo e prazer se a riqueza produzida pelas máquinas for compartilhada. Ou a maioria das pessoas pode acabar miseravelmente pobre se os donos das máquinas se posicionarem com sucesso contra a redistribuição da riqueza. Até agora, a tendência parece seguir na segunda opção, com a tecnologia conduzindo a uma desigualdade cada vez maior”.

O cientista britânico faz uma reflexão ao encontro à obra-prima de Marx “O Capital” , que ao longo de séculos de desenvolvimento das forças produtivas socializa-se o trabalho mas na mão de cada vez menos indivíduos concentrava-se os meios de produção, consequentemente a renda e a riqueza.

Segundo Marx para haver exploração de mais-valia é necessário, na produção, a conjugação do capital constante(máquinas e meios de produção) e o capital variável(força de trabalho humana) sendo este, único que pode produzir o valor maior que o equivalente á reprodução da sua própria existência e vida social, por isso a condição de assalariado é inevitavelmente de exploração por parte do patrão, nunca condizente com a proporção de valor produzida.

No entanto, quanto maior a composição orgânica do capital( proporção entre capital constante/varável) maior a taxa de lucro. Por isso com o avanço tecnológico a automação tende a substituir uma série de “trabalhos concretos” realizados pela força de trabalho humana em vários campos da produção e serviços.Assim, milhares de trabalhadores são descartados das funções que exercem, sem qualquer perspectiva de qualificação para usufruir da nova tecnologia.

Eis aqui uma das contradições inexoráveis da produção Capitalista, tema que Marx dedicou anos para desvelar. Para haver extração de mais-valia é necessário explorar além dos limite físicos e psíquicos dos trabalhadores; para extrair maior taxa de lucro na concorrência caótica capitalista é necessário substituir o trabalho humano pelo robô,

Hawkings identifica tanto o potencial libertador quando destrtutivo do avanço tecnológico, de acordo com a distribuição da propriedade, do poder, da renda e da riqueza.

É destrutivo e nefasto na sociedade que o Capital impera, a automação foi essencial para impor uma reestruturação produtiva,demissão em massa e fragmentação das relações de trabalho, que amplia drasticamente o exército-reserva de mão de obra, alijado do conhecimento e de possibilidade de ocupar um trabalho formal e com direitos garantidos

Seria libertador delegar às máquinas tarefas penosas, arriscadas e desgastantes para a produção dos bens socialmente necessários e possibilitando às pessoas desenvolverem outras atividades laborais(por que não científicas, culturais, artísticas,esportivas etc..) desde que em uma sociedade em que não houvesse o monopólio dos meios de produção pela burguesia, Torna-se assim viável uma sociedade tempo livre, em que o trabalho não é mais atividade alienada, mas a contribuição para garantia dos bens necessários, garantindo “de cada um conforme sua capacidade e para cada um conforme sua necessidade” uma condição civilizatória superior para toda a população, desde que superada a hegemonia do capital, cumprindo a hipótese socialista, respeitando a equidade e a igualdade,a democratização do poder e da riqueza assim como a sustentabilidade do planeta.

Sem dúvida, Hawking além de um sujeito extremamente determinado e brilhante físico, buscava a totalidade(por que não dialética) dos fenômenos, no universo, nas partículas e na vida social-inclusive as consequências da produção técnica e científica nas relações sociais. Certamente perdemos um dos gênios de nosso tempo


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