Frente Ampla do Chile: o desafio de construir o novo

Fundada em janeiro de 2017 e composta por cerca de 20 diferentes grupos políticos, a Frente Ampla foi um grande sucesso eleitoral.

Luciana Genro 15 mar 2018, 03:02

A campanha presidencial da Frente Ampla chilena foi liderada por uma mulher, Beatriz Sanchez, que apresenta-se como feminista. Ela quase chegou ao segundo turno, surpreendendo até mesmo seus próprios eleitores. Por 2 pontos percentuais não desbancou o candidato apoiado por Michelle Bachelet. Os deputados e deputadas eleitos são, na imensa maioria, jovens. Muitos oriundos dos movimentos estudantis que eclodiram no Chile em 2006 e 2011, em defesa de uma educação pública e gratuita. Tive a oportunidade de estar lá junto com a vereadora Fernanda Melchionna, e presenciamos um momento emocionante. Logo após a posse no parlamento todos os deputados e deputadas foram para a Praça da Vitória, no centro de Valparaíso onde se localiza o parlamento, e fizeram um juramento solene perante o povo, assinando uma carta na qual comprometem-se a legislar para o povo, em lutar pelo programa defendido por Beatriz na campanha presidencial, pelos direitos dos trabalhadores, mulheres, indígenas, idosos, jovens, e finalizam a carta pedindo ajuda ao povo, através da sua mobilização, para que estes compromissos sejam realizados.O Chile é o mais neoliberal dos países, viveu décadas da mais longa ditadura do continente, encabeçada por Pinochet após um violente golpe militar que derrubou e matou o presidente socialista Salvador Allende. A transição veio em 1989 quando Patrício Aylwin, do Partido Democrata Cristão foi eleito pela coalizão “Concertación” que uniu o Partido Socialista, Partido Comunista, Democratas Cristão, entre outros, num pacto que garantiu a impunidade dos crimes da ditadura. A centro esquerda passou a governar, mas a constituição permanece a mesma dos tempos de Pinochet, assim como a previdência e a educação totalmente mercantilizadas. A Concertacion governou o Chile até 2010, quando Sebastian Piñera venceu, mas retomou o governo em 2014 com a volta de Bachelet. Nesta eleição é Piñera quem retornou. A novidade foi a Frente Ampla.

Fundada em janeiro de 2017 e composta por cerca de 20 diferentes grupos políticos, a Frente Ampla foi um grande sucesso eleitoral. Elegeu uma bancada de 20 deputados e deputadas e um senador. Um dos segredos do sucesso, contam os dirigentes, foram as prévias para escolher a candidatura presidencial, durante as quais um amplo debate programático aconteceu, envolvendo filiados e não filiados nos partidos e grupos políticos que compõe a Frente Ampla. Outro elemento decisivo foi a conexão com os movimentos sociais que têm sacudido o Chile nos últimos anos, seja contra o endividamento estudantil ou a falta de uma previdência pública, entre tantas outras reivindicações. A maioria dos dirigentes e figuras públicas da Frente Ampla são jovens oriundos destas lutas que chegaram à conclusão política de que é preciso lutar por um poder popular para que as demandas sociais sejam atendidas. No debate que participei com Beatriz Sánchez e com Thomas Hirsh, eleito deputado, a insistência de ambos é na necessidade de participação do povo, organização e mobilização. Uma nova constituição que reflita as demandas sociais é um imperativo, visto que a atual é ainda herança da ditadura.

As forças políticas que compõe a FA têm matizes em relação a como lidar com o enfrentamento a Piñera, compondo mais com a “velha esquerda” ou separando-se totalmente. A campanha eleitoral, entretanto, foi um momento chave de diferenciação da herança “Bacheletista”, na qual a Frente Ampla se apresentou como um alternativa nova, sem vínculos com o passado. Em uma conversa com Constanza Schonhaut , uma jovem de menos de 30 anos, presidenta do Movimento Autonomista ( um dos componentes da FA) ela me revelou a preocupação de que esta nova experiência da esquerda chilena não resulte numa agrupação política que seja apenas “a esquerda do regime”, mas que de fato possa ser uma alternativa antissistema. De fato este é o desafio colocado para todos os novos processos políticos em curso, inclusive no PSOL.

Debate com Beatriz Sanchez e Thomas Hirsh


Passeata do 8 de março em Santiago que reuniu mais de 100 mil pessoas, com Beatriz Sanchez e Fernanda Melchiona

 

Com a deputada Camila Rojas, eleita pela Frente Ampla


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 12 nov 2024

A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!

Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6x1
A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi