Justiça para Tyre Nichols
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Justiça para Tyre Nichols

O assassinato de Tyre Nichols pela polícia de Memphis a poucos metros de sua casa mobilizou novos protestos antirracistas nos EUA.

Danilo Serafim 31 jan 2023, 08:19

Black Lives Matter!

Não há justiça! Nenhuma paz!

Diga o nome dele!

George Floyd foi assassinado por um policial branco de Minneapolis em 25 da maio de 2020. O assassinato a sangue frio desse típico homem negro provocou uma resposta nacional e internacional massiva.

Os protestos em Minneapolis e em todo mundo ( da Nova Zelândia e Austrália ao Reino Unido e França, do Brasil a África do Sul) uma consternação mundial e um levante internacional antirracista sem precedentes. Só que não acabou.

Quando seu mundo desabou meses antes da morte, ele perseguia ambições modestas – um pouco de estabilidade, um emprego como motorista de caminhão, seguro de saúde. Em seus últimos segundos de vida, enquanto sufocava sob o joelho de um policial branco, Floyd na sua agonia gritava: “ Mamãe eu te amo!” ele gritou da calçada, onde seus gritos de “não consigo respirar” foram recebidos com uma indiferença tão mortal quanto o ódio do policial Derek Chauvin. Ou ainda, “ Diga aos meus filhos que os amo!”

Essas últimas palavras marcaram o fim da vida em que Floyd repetidamente viu seus sonhos diminuídos, adiados e descarrilados, em grande parte por causa da cor de sua pele.

A morte de um homem negro na América racista nas mãos de um policial ocorre em todos os lugares, toda a semana em algum lugar do país. Os policiais, sejam brancos, negros, asiáticos ou latinos, seguem as mesmas regras institucionais.

Tudo o que um policial deve dizer para justificar um tiro: “foi legítima defesa”. Não importava se a vítima negra estava desarmada, doente mental ou andando na rua. O “problema” é a cor da sua pele.

A história se repete como tragédia

Os Estados Unidos e o Mundo souberam do assassinato quando uma jovem espectadora negra, Darnella Frazer, postou seu vídeo ao vivo por telefone online. Mostrava o joelho de Derek Chauvin no pescoço de Floyd por quase nove minutos até que ele morresse. Mostrava três outros policiais parados com um segurando Floyd. Dessa vez mudam os nomes, até mesmo as cores dos policiais. Mas as cenas de brutalidade policial são as mesmas.

Três anos depois a história brutal se repete, dessa vez, pelas câmeras de policiais negros de Memphis onde 65% da população é negra, assim como 58% da corporação de polícia.

Mais um crime brutal contra um jovem negro americano gera revolta em todo o mundo. Na sexta feira dia 27/01, a redes sociais e a TV mostraram numa filmagem de mais de uma hora, a brutal e covarde agressão de cinco policiais negros a um jovem negro.

A sessão de tortura foi divulgada em três vídeos de câmara corporal dos agentes, além de uma câmera de vigilância em um poste rua.

Diante da indignação generalizada que se espelhou pelos EUA, a unidade policial Scorpion da qual os policiais pertencem, foi dissolvida permanentemente.

Nessa trágica noite, o jovem negro trabalhador dos correios, foi violentamente arrancado do carro com a acusação de direção imprudente, fato que não foi confirmado e nem gravado por nenhuma câmera, nem mesmos as dos policiais assassinos.

O único registro é de Tyre perto da casa de sua mãe, ser barbaramente espancado e gritando desesperadamente pela mãe, da mesma forma Floyd fez nos segundos finais de sua agonia.. Uma mistura de grito de dor, desespero e pavor . Ele chegou a ser socorrido e levado ao hospital e morreu três dias depois.

A mãe de Tyre , RowVaughn Wells, que morava a 80 metros do local onde seu filho era brutalmente espancado e gritava por ela disse: “ nenhuma mãe deveria passar pelo que estou passando agora, nenhuma mãe deveria perder seu filho de maneira violenta como perdi meu filho.

Entre os assassinatos brutais de George Floyd e Tyre Nichols, há um projeto de Lei aprovado em 2020 pela Câmara de Representantes dos EUA, por forte pressão do movimento Black Live Matters para reformar a polícia.

Muitos dos líderes do movimento exigiam reformas radicais do policiamento; alguns pediram desfinanciamento das polícias e a transferência desses recursos para grupos comunitários. Outros apelaram para abolir a força policial tal como existe e recomeçar, combinados com apelos pelo fim do complexo industrial prisional.

Entre outras propostas seria acabar com a imunidade qualificada para policiais acusados de má conduta e criar um registro de ações disciplinares. Porém, nada disso aconteceu, porque o Projeto foi engavetado pelo Senado Republicano, e o país foi submetido mais uma vez a agoniantes imagens do espancamento de um negro até sua morte, ocorrida três dias depois num hospital em Menphis, no Tenesse.

Justiça para Nichols

Os movimentos antirracistas depois do brutal assassinato de Tyre, aumentaram a pressão sobre os políticos nos EUA e principalmente sobre Joe Biden, para aprovar finalmente a Lei George Floyd.

Como presidente, Biden de fato pressionou por um aumento maciço do financiamento da polícia. Não é surpresa que haja desilusão crescente com Biden e os democratas. Nas eleições de meio de mandato de 2022, a votação dos negros caiu nas principais áreas urbanas – embora a maioria dos negros continuem com os democratas- porque a questão é vista como autopreservação em um país racista.

Milhares de pessoas se mobilizaram na noite de sexta feira e continuaram durante o sábado em Memphis, e outras cidades como Nova York, Sacramento, Los Angeles, Atlanta, Filadélfia, Seattle em repúdio à violência policial portando faixas com dizeres “ Parem a guerra na América Negra” ; “ Justiça para Tyre Nichols” e lembrando o assassinato de outros cidadãos negros pelas mãos da policia racista como foi o caso de George Floyd.

Tyre tinha apenas 29 anos e era pai de um menino de 4 anos. Dessa vez os espancadores eram cinco policiais negros. Os Pai Tomás da repressão. Homens negros, no entanto continuam sendo assassinados pela polícia – por doença mental, por andar na rua, por ser negro. Não há justiça! Não haverá paz!

Danilo Serafim é professor de Sociologia e da Coordenação da TLS/Sindical


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