Os militantes socialistas frente ao governo burguês “democrático”
Sejamos realistas, exijamos o impossível
As reflexões a seguir têm por objetivo colaborar no desenvolvimento consciente do papel dos militantes na conjuntura aberta a partir da eleição do Lula. Nunca será demais considerar a diferença entre o governo Lula e Bolsonaro, e a relação do comportamento a ser adotado pelos militantes socialistas.
O governo Lula é diferente do anterior porque aceita a existência das contradições sociais através de um regime democrático burguês, permite canais de controle social burguês e a subsistência de todas representações ideológicas. O governo Bolsonaro, burguês autoritário, representava um pensamento fascista, sem qualquer canal de controle e através de um regime ditatorial.
O governo Lula cria símbolos fortes, como a representação do povo na entrega da faixa presidencial. Assim como o discurso do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, ao reconhecer a existência valiosa de todos os excluídos. Por um lado, os símbolos só serão símbolos caso não venham acompanhados de propostas de mudanças reais. Por outro, não podemos confundir as emoções criadas por essas simbologias e transformá-las em políticas.
Os militantes socialistas frente a esse governo democrático burguês têm o dever de fazer propaganda e agitar ideias para realização de mudanças estruturais.
O governo burguês de Lula restaura o regime democrático burguês criado com a Constituição Federal de 88. Nesse regime, os militantes socialistas farão a denúncia do sistema capitalista e exigirão as mudanças prometidas, assim como o atendimento das necessidades do povo.
Os militantes socialistas terão lucidez e paciência para desmistificar as ilusões produzidas por ministros chamados progressistas ou “bem intencionados”. Esses ministros estão em cargos que têm pouca expressão econômica ou nenhuma condição econômica capaz de realizar mudanças estruturais. Entretanto, é uma tarefa impulsionar as exigências do movimento de massas para que as promessas sejam cumpridas. Por isso, sim, devemos exigir o impossível como única maneira de romper com status quo e, com isso, desenvolver uma consciência que vá em direção a uma sociedade socialista.
Neste momento, a agitação está na denúncia das atrocidades e mazelas do governo Bolsonaro. Porém, um setor já exige: “sem anistia”. Essa política tem de ser cumprida, transportada para uma ação concreta e que não haja “nem perdão e nem esquecimento”. Portanto, todas as palavras de ordem que vão no sentido de “investigar, julgar e punir” e cadeia para Bolsonaro devem ser ecoadas de forma uníssona. Assim como exigir a apuração das responsabilidades individuais daqueles que estiveram à frente do Ministério da Saúde e negligenciaram facilitando a morte de 700 mil brasileiros. Também, o PSOL deve incentivar e mobilizar a busca dos mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Silva.
Ainda uma última reflexão: ser realista é ser sóbrio, tranquilo e sereno e não perder de vista que o Estado burguês engole os progressistas e os “bem-intencionados”. Há duas hipóteses nessa experiência, a acomodação ou a ruptura. A primeira é uma possibilidade porque as pessoas representam as condições materiais em que vivem. A segunda: eles poderão romper na medida em que a frustração vier, com o tempo, para aqueles que honestamente tentam garantir melhorias e avanços para o povo.
Com isso, não quer dizer que devamos torcer para o quanto pior/melhor. Ao contrário, vamos impulsionar a luta para avançar e obter conquistas. Sejamos porta-vozes das reivindicações e a construção da alternativa de um novo projeto, isto é um estado de novo tipo.
Por fim, em várias reuniões ouço a frase do Trotski: “toda revolução parece impossível até que se torna inevitável.” Os militantes socialistas têm a obrigação persegui-la até que se concretize.