Educação: fazer um, dois, três tsunamis
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Educação: fazer um, dois, três tsunamis

As lutas da educação nos Estados Unidos e na Argentina são exemplares para o enfrentamento internacional contra a extrema direita no Brasil e no mundo

Israel Dutra e Roberto Robaina 28 abr 2024, 09:48

Foto: The Call/B&R

Uma onda de mobilizações da juventude toma conta das universidades estadunidenses. Uma mobilização de alcance sem precedentes recentes em apoio à causa palestina se espalhou durante a semana. Já são dezenas de universidades ocupadas e acampamentos em diversos campi e faculdades que entram no centro da discussão política do país e do mundo.

Na vizinha Argentina, governada pelo ultradireitista Milei, na quarta-feira, 23 de Abril, uma marcha multitudinária paralisou o país em defesa da educação.

São verdadeiros “tsunamis” em defesa da educação e com protagonismo da juventude diante da polarização intensa que vive o planeta, seja contra o genocidio levado a cabo por Netanyahu, seja no desmonte ultraliberal das conquistas da sociedade argentina.

Por aqui, foi também um “ tsunami da educação” o primeiro movimento que travou a ofensiva de Bolsonaro, em maio de 2019. Isso indica a enorme reserva de luta que a juventude carrega para as batalhas em curso e as que se avizinham.

A juventude estadunidense levanta a bandeira internacionalista

A luta em solidariedade à Palestina encontra um auge na ocupação de dezenas de universidades nos Estados Unidos. Após a repressão que resultou em mais de cem estudantes detidos na Universidade de Columbia, no bojo da aprovação – com votos dos Democratas de Biden e dos Republicanos de Trump – a nova ajuda militar para o estado de Israel, a onda se ampliou. Como escreveu Caitlyn Clark, dirigente da juventude do caucus Bread & Roses do DSA*:

No rescaldo da repressão da Universidade de Columbia à liberdade de expressão dos estudantes contra a campanha genocida de Israel em Gaza, um movimento estudantil insurgente que exige que suas universidades divulguem suas finanças e se desvinculem de fabricantes de armas e outras conexões financeiras com Israel se espalhou por todo o país.

O impacto foi enorme. A bandeira da Palestina tremula nos principais campi universitários dos Estados Unidos em um cenário polarizado com posições a favor e contra a luta da Palestina, perseguições contra ativistas que levaram até mesmo à queda da reitora de Harvard, no começo do ano, por ser solidária às manifestações. Em diversos aspectos, a recente onda de protestos já tem dimensão histórica.

O secretário Antony Blinken teve de condenar a mobilização atacando “a paixão pela Palestina e o silêncio sobre o Hamas” dos manifestantes. Numa linha ainda mais explícita, Netanyahu foi a público atacar os acampamentos, sugerindo que eles colocavam em risco a “segurança dos judeus” nos Estados Unidos. A solidariedade foi imediata. Uma manifestação por parte da UAW – principal sindicato operário do país – levantou a unidade entre trabalhadores e a juventude a serviço de romper o cerco que as mentiras do sionismo quer impor à juventude que se levanta na luta anticolonial. Esse momento ímpar desencadeou protestos e ações de solidariedade na França, na Inglaterra, Itália e outros países.

Nossa organização, o MES/PSOL, está acompanhando a situação no detalhe através de nossa corrente irmã, o Bread & Roses no DSA, e nossa dirigente nacional Mariana Riscali está nos EUA e também participou em nome da Fundação Lauro Campos e Mariele Franco do encontro Labor Notes, uma dos principais eventos de articulação e formação do sindicalismo combativo e da esquerda classista dos EUA.

Uma rebelião universitária comove a Argentina

A grande marcha em defesa da educação pública, em protesto direto contra os cortes anunciados por Javier Milei uniu estudantes, trabalhadores, docentes, se configurando no mais importante protesto desde a posse do ultraliberal. Tivemos a greve geral do dia 24 de janeiro, as jornadas do 8 e 24 de março, e agora, num espaço relativamente curto de tempo, com menos de 6 meses de mandato, uma ampla manifestação, realizada em 70 cidades por todo país, golpeou o coração do ajuste de Milei. A marcha juntou quase 500 mil pessoas no centro de Buenos Aires, mas teve destaque em províncias onde Milei teve uma votação extraordinária, como Rosário, Cordoba e Mendoza.

As pesquisas de opinião indicam que a marcha teve sucesso pelo espaço que a universidade tem no ideário da sociedade argentina, deixando o governo na defensiva, uma vez mais desmoralizando o chamado protocolo “antipiquete” que visa impedir manifestações de rua no país. Foi uma marcha geral, unitária e recebeu o apoio da maioria social, golpeando o governo e abrindo um novo capítulo nas lutas contra Milei. Após alguns anos de certa apatia, a juventude mobilizada entra em cena.

O “tsunami argentino” ativa o conjunto das lutas contra Milei, tal como foi o maio de 2019 no Brasil, indicando que apenas com luta e organização podemos fazer frente ao projeto da extrema direita, que é contra o patrimônio público e social e é anticiência.

A educação como polo de lutas

Aqui no Brasil, segue a greve da educação federal, arrancando apoio nas universidades em defesa da dignidade de trabalhadores e estudantes e lutando contra o arcabouço fiscal que pode levar até a desconstitucionalização do piso da saúde e da educação.

As ações da juventude nos Estados Unidos e na Argentina prenunciam as grandes batalhas contra o projeto da extrema direita, um projeto de destruição de conquistas civilizatórias que se fortalece como consequência da crise capitalista. Estas lutas são centrais para os dias de hoje e devem ser exemplares para cada vez mais esforços internacionais que caminhem no mesmo sentido.

Nesse sentido, a Conferência Internacional Antifascista, que acontecerá em Porto Alegre no mês de maio, será um ponto de encontro com lideranças argentinas, palestinas, estadunidenses, entre outras, para servir como ponto de apoio e organização para derrotar, nas ruas e na sociedade, os defensores do projeto genocida da extrema direita que se espalham pelo planeta.

* Caucus é o nome dado às tendências internas do Democratic Socialists of America (DSA), maior organização socialista dos EUA


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