Uma semana depois

Uma semana depois

É preciso passar à ofensiva contra os golpistas, mobilizando o movimento de massas e exigindo a prisão dos organizadores e agentes da tentativa frustrada de golpe.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 16 jan 2023, 20:47

O assalto da horda de neofascistas a Brasília, com métodos terroristas e inspirado nos invasores do Capitólio, marcou a discussão nacional nos últimos dias. Não por acaso, trata-se do principal tema da situação nacional, que colocou o Brasil novamente no centro dos noticiários internacionais.

Uma semana depois da derrota da intentona golpista, enganam-se os que acham que a democracia está segura. É preciso agir rapidamente. A extrema-direita leva adiante um plano internacional: não podemos esquecer eventos recentes, como a ação da extrema-direita dos Republicanos para bloquear a indicação do presidente da Câmara dos EUA e o giro autoritário do novo governo de Israel. Nesse editorial, não pretendemos esgotar tais discussões, que aparecerão em documentos nas próximas semanas, mas apenas apontar os desdobramentos mais imediatos da ação fracassada dos golpistas.

O 8 de janeiro marca a conjuntura

A ação golpista de 8 de janeiro saiu derrotada, ainda que a intentona mostre que a extrema-direita está forte, enraizada e articulada. Por outro lado, após a derrota eleitoral em 2022, o bolsonarismo não teve sucesso em sua campanha pela deslegitimação das urnas, que levou aos cortes de estradas, acampamentos em frentes aos quartéis, protestos pelo país e em seu ato final, a tentativa da tomada das sedes dos três poderes.

Lula respondeu bem e altivo, decretando a intervenção federal em Brasília e chamando as coisas pelo nome: golpistas de golpistas, fascistas de fascistas, Bolsonaro de genocida, além de relacionar a ação de Brasília com os interesses de classe dos golpistas, especialmente de madeireiros, garimpeiros e do setor mais predatório do agronegócio. Lula, desse modo, ensaiou uma maior polarização e foi acompanhado por Alexandre de Moraes, que afastou Ibaneis e decretou a prisão do eixo da conspiração, Anderson Torres.

Ficou nítida, para milhões, a colaboração das Forças Armadas e do governo do Distrito Federal: as declarações contemporizadoras de José Múcio sobre o caráter “democrático” dos acampamentos golpistas, a falta de um plano articulado do GSI e o terreno livre pelo qual se moveu Ibaneis foram os sinais mais evidentes. Afinal, havia alguma dúvida de que Anderson Torres foi nomeado secretário de segurança do DF para colaborar com o golpismo? Sua ida à Flórida foi apenas uma “coincidência”?

Há uma nova situação: a ação de 8 de janeiro fracassou, mas marca a conjuntura e terá muitos desdobramentos. Lula fortaleceu-se politicamente, estabelecendo uma unidade ainda maior para defender seu governo; a comunidade internacional abraçou ainda mais Lula e rechaçou Bolsonaro pela segunda vez; e os golpistas, ao menos por agora, perderam apoios importantes, tanto no âmbito da superestrutura e das instituições como entre eleitores de Bolsonaro que não comungam com as práticas radicais da extrema-direita.

Toda crise enseja risco e oportunidade. A resposta do movimento de massas foi ágil e bastante forte: os atos de segunda-feira (9) levaram dezenas de milhares às ruas, num período de férias escolares e mesmo com uma convocação imediata, com destaque para as manifestações de São Paulo e de Porto Alegre, com 50 e 10 mil presentes, respectivamente. É preciso passar à ofensiva contra os golpistas, mobilizando o movimento de massas e exigindo a prisão dos organizadores e agentes da tentativa frustrada de golpe. Ao mesmo tempo, é preciso lutar contra a tutela militar do país, removendo os entulhos da ditadura que são os pontos de apoio para a malta golpista.

A prisão de Anderson Torres tem de ser apenas o começo

O Brasil celebrou a detenção de mais de mil agitadores golpistas de Brasília – muitos recrutados entre as camadas decadentes das classes médias, outros diretamente do lumpesinato. Em particular, foi importante a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro diretamente implicado na campanha bolsonarista de descrédito das urnas eletrônicas e na instrumentalização da Polícia Rodoviária Federal para promover bloqueios no dia da votação e para facilitar os bloqueios de estradas depois da proclamação dos resultados. Logo após a posse de Lula, Torres foi nomeado secretário de segurança do DF por Ibaneis e organizou a liberação da arruaça em Brasília para em seguida refugiar-se na Flórida.

A prisão do vigarista Torres deve ser apenas o ponto de partida. Devem ser presos os colabores diretos e cassados os parlamentares envolvidos. Não menos importante, os empresários que financiaram acampamentos e caravanas golpistas devem ter seus bens confiscados e ir para a cadeia. Essas são medidas imediatas para abrir caminho para tarefa principal: extraditar e prender o chefe da quadrilha, Jair Bolsonaro.

Também é fundamental desmontar a rede de financiamento dos golpistas, relacionada à atividade predatória de milícias de latifundiários, garimpeiros, madeireiros e outros, além de uma política sobre o exército e as polícias: é necessária uma profunda reforma, promovendo a baixa oficialidade e incorporando suas demandas, começando por uma mudança dos comandos militares e pelo próprio Ministro da Defesa, José Múcio. A bandeira “sem anistia”, desse modo, deve ser mais do que um slogan, mas uma campanha profunda para mudar a sociedade brasileira, relacionando os crimes do passado à impunidade do presente, aos crimes da pandemia e à necessidade de parar o genocídio da juventude negra nas periferias.

Lutar contra o golpismo bolsonarista

Para deter os golpistas e ir a fundo na exigência do “ajuste de contas”, a luta auto-organizada da classe trabalhadora, da juventude e de todo o povo será decisiva. Para fazer frente à extrema-direita, confiemos apenas na força da ação do povo consciente da necessidade de tomar as ruas e defender seus interesses e seus direitos sociais e democráticos. Essa unidade deve ser a base para uma ampla unidade de ação superior para não deixar “passar os golpistas” e defender as liberdades democráticas. A ação dos petroleiros em defesa das refinarias é um exemplo que devemos cultivar, preparando medidas concretas e práticas da ação de classes com seus métodos e a necessidade de autodefesa. Não devemos esquecer, também, do caráter internacional da luta antifascista no Brasil, que ocorre no momento em que o povo peruano enfrenta uma repressão brutal em todo o país e quando, na Bolívia, está em curso o combate aos golpistas de 2019.

É imperativo, por fim, construir um plano de lutas: uma nova manifestação contra os golpistas bolsonaristas e por punições “sem anistia” deve ser convocada, além de se preparar um forte “março de lutas”, com o dia internacional de luta das mulheres no dia 8, a manifestação no dia 14 marcando os cinco anos do assassinato de Marielle Franco e, no dia 31, um ato para dizer “Ditadura Nunca Mais”. Há diversas lutas em curso que devem ser incorporadas, como a dos trabalhadores de aplicativos que preparam nova jornada para 25 de janeiro, e as mobilizações por terra e moradia em curso da FNL. O PSOL e o MES estarão junto das forças combativas na primeira fileira dessa luta prolongada com a extrema-direita.


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