Número de indígenas mortos em conflitos no campo sobe 38% em dois anos
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Número de indígenas mortos em conflitos no campo sobe 38% em dois anos

Integrantes de povos tradicionais foram as maiores vítimas de homicídio em disputas de terra em 2022

Redação da Revista Movimento 18 abr 2023, 11:04

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgado nesta segunda-feira (17) aponta que 38% das 47 pessoas assassinadas em conflitos no campo em 2022 eram indígenas, num total de 18 mortos. 

O documento apontou um total de 2.018 ocorrências de conflitos no campo, envolvendo 909,4 mil pessoas e mais de 80,1 milhões de hectares de terra em disputa no Brasil, o que corresponde à média de um conflito a cada quatro horas.

Em 2022, foram registradas 553 ocorrências e 1.065 pessoas vitimadas em homicídio (consumado e tentado), torturas, agressões e ameaças. O número é 50% maior que o registrado em 2021, que teve 368 casos e 819 vítimas. Em relação a 2020, a alta é de 123%.

Depois dos povos tradicionais, despontam como as principais vítimas de homicídio os trabalhadores sem-terra (9), ambientalistas (3), assentados (3) e trabalhadores assalariados (3). Somam-se a eles na escabrosa estatística a morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas.

Entre os assassinatos, destacam-se os casos ocorridos em Mato Grosso do Sul, em territórios de retomada dos indígenas Guarani-Kaiowá. Foram seis indígenas vitimados entre maio e dezembro, colocando o estado como o terceiro do país que mais registrou assassinatos decorrentes de conflitos no campo. 

“Temos visto uma queda das ocupações de terra e avanço dos conflitos para dentro de comunidades ocupadas por populações tradicionais. Há um ataque efetivo contra as comunidades indígenas, de forma específica”, diz Isolete Wichinieski, da Coordenação Nacional da CPT.

Outros dados

A estatística de tentativas de assassinatos também evidencia o aumento da violência. Em 2022 foram notificadas 123 ocorrências, 272% mais que em 2021, quando foram registradas 123. As ameaças de morte passaram de 144 para 206 nesses dois anos, uma alta de 43,05%.

A crescente dos conflitos acabou por atingir um número maior de mulheres e menores de idade, conforme o relatório. Foram seis assassinatos, 47 ameaças de morte (27% do total) e 13  tentativas de assassinato (7%) contra mulheres. Segundo os números levantados pela CPT, nove adolescentes e uma criança foram mortos no campo de 2019 a 2022. Desses, cinco eram indígenas.

 Entre os dados de violência contra a pessoa, a morte em consequência de conflito registrou 113 casos, sendo 103 na Terra Indígena Yanomami, com 91 vítimas crianças, representando 80,5% dos casos. O povo Yanomami viveu, nos últimos anos, um agravamento da crise humanitária de saúde e segurança em meio à invasão de suas terras por garimpeiros.

“O futuro das comunidades indígenas está ameaçado, não só pela invasão de suas terras e o assassinato de lideranças, mas por impedir a existência das próximas gerações”, afirma Isolete. A dirigente da CPT cobra do novo governo que cumpra a promessa de resgatar as políticas de proteção territorial e de reforma agrária, que demanda orçamento e pessoal. Ela também cobra a reforma e ampliação do programa de defensores de direitos humanos, para enfrentar as graves ameaças e impedir o assassinato recorrente de lideranças comunitárias no campo.

Com informações da Agência Brasil


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