Em decisão histórica, Câmara de SP cassa mandato de Camilo Cristófaro
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Em decisão histórica, Câmara de SP cassa mandato de Camilo Cristófaro

Parlamentar do Avante é o primeiro a perder o mandato por racismo. Ele ficará inelegível por oito anos

Redação da Revista Movimento 20 set 2023, 09:14

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

A Câmara Municipal de São Paulo viveu um momento histórico nesta terça-feira (19). O vereador Camilo Cristófaro (Avante) teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar. Em maio de 2022, o parlamentar foi flagrado em uma fala racista em uma sessão remota da CPI dos Aplicativos. Como o microfone do vereador estava aberto, o áudio da fala dele com outra pessoa acabou vazando para a reunião: 

“Não lavaram a calçada, é coisa de preto, né?”, disse.

É a primeira cassação da Casa em 24 anos, e a primeira vez que um vereador perde mandato por racismo na cidade de São Paulo. Com a decisão, Cristófaro fica inelegível por oito anos, a partir de dezembro de 2024, quando se encerra esta Legislatura.

A Câmara tem 55 vereadores e nenhum deu voto contrário ao parecer do relator, vereador Marlon Luz (MDB), que foi favorável à cassação. O placar final foi de 47 votos a favor e cinco abstenções. Nem Cristófaro nem a vereadora Luana Alves (PSOL), que representou a acusação contra o parlamentar, votaram no julgamento. 

A vereadora, em sua fala no momento destinado à acusação, afirmou que todos os que estavam presentes à sessão em que o áudio vazou, “se sentiram violentados pela fala”. 

“Foi um desrespeito profundo a todos os que estavam presentes e a toda a população negra de São Paulo”, disse. “O quê que ‘coisa de preto’ significa? É uma ‘piada’ que trabalha com elemento narrativo de estereótipo que as pessoas negras fazem coisas erradas. Que as pessoas negras fazem coisas malfeitas. Que as pessoas negras não seriam competentes para ocupar um lugar de intelectualidade, de poder. Quando você diz que ‘coisa de preto’ é uma coisa malfeita, você diz que os brancos fazem melhor que os pretos. Isso é um elemento ideológico do racismo que segue operando na sociedade brasileira. Dizer para o povo que não há problema em falar uma frase racista, é dizer para o povo que as pessoas negras podem ser desrespeitadas”, argumentou.

Camilo Cristófaro usou parte do tempo de defesa para atacar Luana e os militantes do movimento negreo e demais movimentos sociais que acompanhavam a sessão. Segundo ele, os manifestantes foram pagos “para aparecer na TV”. Segundo ele, Luana ainda teria dito: “Camilo eu sei que você não é racista, mas você é rico, tem como pagar advogado. Esta é Luana Alves”, disse.

Após a sessão, Luana negou as acusações: 

“É uma mentira deslavada desse vereador, o que mais uma vez utiliza um mecanismo muito baixo, uma tática muito baixa, que é o desrespeito, que é a mentira, que é tentar de alguma forma criar um clima de absoluto desrespeito”.

O vereador do Avante – que ingressou com pelo menos duas ações na Justiça de São Paulo, na tentativa de paralisar a votação no plenário da Casa – ainda jogou a cartada manjada do “tenho amigos pretos” para se defender. Ele afirmou que, em seu gabinete, 60% dos funcionários são negros e, na Subprefeitura do Ipiranga, de 16 funcionários, são 14 são negros, incluindo o subprefeito. 

“Eu sei que está tomada a decisão aqui hoje porque os vereadores me telefonaram me dizendo que eu não sou racista”, disse. 

Negro, o advogado de Cristófaro, Ronaldo Andrade, também usou sua etnia para justificar a defesa do cliente.

“Que haja julgamento, que haja Justiça. Um negro que está defendendo o branco. Eu sei que não houve preconceito. Houve uma fala mal colocada, de mau gosto. Porque é uma fala infeliz, mas daí a transformar isso em preconceito, pior do que preconceito, racismo…”, apelando para uma suposta frase “fora de contexto”.

O argumento não colou. A própria Corregedoria da Câmara – que no final de agosto, aprovou o relatório do vereador Marlon Luz (MDB), pedindo a cassação do vereador por quebra de decoro parlamentar – viu na fala de Cristófaro um “evidente comportamento que consiste em manifestar a crença de que existem seres humanos superiores a outros”.

Luana, que lutou incansavelmente para que o parlamentar fosse punido por sua fala racista, celebrou a decisão da Casa:

“Imagino que antes talvez tivesse algum tipo de tranquilidade para falar com racista quando não tinha nenhum preto presente [no plenário]. Mas agora não vai ter mais tanta tranquilidade”.


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