A saída é pela esquerda! Como os franceses derrotaram a extrema direita na França
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A saída é pela esquerda! Como os franceses derrotaram a extrema direita na França

As eleições europeias apontavam que na França era possível uma vitória da extrema direita. Mas a novidade de uma frente única de esquerda, que respondeu ao chamado das ruas, foi capaz de vencer e mobilizar a população. Quais lições a França nos ensina hoje?

Victor Gorman 10 jul 2024, 09:33

Via Juntos!

No dia de ontem, a vitória da esquerda na França derrotando nas eleições parlamentares a extrema direita, tomou as manchetes dos jornais e encheu de esperança aqueles que lutam por uma outra sociedade. Como foi possível essa vitória, após um primeiro turno que apontava a possibilidade da ultradireita alcançar maioria absoluta?

A extrema direita não é nenhuma novidade na França, se trata de um fenômeno que é internacional, sendo uma das expressões mais terríveis da crise crônica do capitalismo que se abriu após a crise econômica de 2008 e que se manifesta de forma desigual e combinada nos diversos países. Nas eleições presidenciais de 2022, o Reagrupamento Nacional, partido da extrema direita, teve 22% dos votos no primeiro turno, chegando ao segundo turno e sendo derrotado por Macron, que teve apoio de uma ampla aliança democrática para barrar a extrema direita. 

De lá pra cá, durante todo o mandato de Macron a tônica foi o ajuste fiscal, representado pela contra reforma da previdência que aumentou a idade mínima para aposentadoria, e num conjunto de contra reformas que atacavam imigrantes, largamente inspirada pelo programa apresentado nas eleições presidenciais por Le Pen, candidata da extrema direita racista e xenófoba. A aposta desse setor na pauperização da população como saída para a crise estrutural que vivemos gera uma frustração com as promessas da democracia liberal e seus sistemas de representação, sentimento esse facilmente capturado pela extrema-direita que usa uma mascara de radicalidade contra o sistema.

O resultado não poderia ser outro, nas eleições para o parlamento europeu deste ano, o grande derrotado foi o grupo político de Macron, o Essemble, que teve apenas 20% dos votos. O ótimo desempenho da extrema direita, com seu partido Reagrupamento Nacional (RN) que ficou em primeiro, com mais de 30% dos votos e a manutenção das cadeiras de esquerda, que estava fragmentada e com dificuldade de se apresentar como alternativa, apresentavam o nível de insatisfação.

Após esse resultado, Macron dobrou a aposta dissolvendo o parlamento francês e convocando novas eleições. Estava prevendo que no risco da extrema direita ascender ao poder era possível ser criado uma nova aliança ampla democrática ao redor de seu grupo, e que mesmo que a extrema direita ganhasse maioria no parlamento eles iriam se desgastar até o próximo pleito eleitoral. Uma aposta absolutamente irresponsável, pondo em risco milhões de imigrantes, mulheres, LGBTs, negros e negras franceses que seriam alvo das políticas da extrema direita.

Mas a novidade de uma frente única, pautada pelas necessidades do povo e impulsionada pelos movimentos sociais mudou o cenário. Em apenas 4 dias após a convocação das novas eleições, foi conformada a Nova Frente Popular (NFP), uma unidade que surgiu como resposta ao pedido de milhares de pessoas que tomaram as ruas após o resultado das eleições europeias e que abriu caminho para a conformação de um programa mínimo, de esquerda, que se colocasse como alternativa tanto à extrema direita, mas também à Macron e sua agenda de corte de direitos. É importante destacar que não se trata uma aliança apenas entre os setores da esquerda radical, o que é nítido pela presença do Partido Socialista que já governou e se adaptou ao sistema, mas o programa que unificou essa frente responde à voz das ruas, dos milhares que tomaram as ruas no último período contra as reformas do governo Macron, e que voltaram novamente a ocupar as ruas contra à extrema direita. Não à toa alguns dos pontos principais são as revogações imediatas dos decretos que aumentaram a idade para a aposentadoria, reversão dos cortes na política habitacional, fixação do preço dos alimentos de primeira necessidade, e da defesa do cessar fogo imediato em Gaza.

Contrariando as pesquisas após o primeiro turno, que ocorreu há uma semana, onde a extrema direita estava à frente, ontem quem venceu foi a esquerda. E para entender como isso foi possível precisamos olhar alguns elementos:

1 – A existência de uma esquerda independente que pôde se apresentar como alternativa, que não cedeu à pressão dos setores do centro e da direita.

2 – Um programa que respondeu às ruas, se conectando com as lutas em curso: seja pelo direito à aposentadoria e habitação, pelo cessar fogo em Gaza ou contra a extrema direita. O caminho é a tomada das ruas.

3 – Encarar a luta contra a extrema direita com prioridade e responsabilidade: A Nova Frente Popular anunciou que não iria medir esforços para derrotar a extrema direita, retirando candidaturas que ficassem em terceiro lugar para fortalecer quem tivesse mais chances de derrotar a extrema direita, gesto que não foi seguido lcompletamente por Macron e seus aliados.

Isso tudo ajuda a compreender como a Nova Frente Popular em menos de uma semana não apenas foi um freio de contenção, como seria se as previsões fossem concretizadas, mas mobilizou milhões e saiu como a maior força política dando um recado importante: é possível combater a extrema direita, ao passo que se apresenta um programa que aponte para o enfrentamento ao programa neoliberal.

Sabemos que este processo ainda irá se desenvolver, que apesar da vitória da Nova Frente Popular, o Reagrupamento Nacional se consolida como o maior partido do país, e que o Ensemble de Macron continua com força política e ainda terá uma disputa para a formação de governo, mas que sem nenhuma dúvida devemos comemorar e nos inspirar na coragem e resistência da esquerda francesa!


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