Uma sociedade cega pelo ódio

Uma sociedade cega pelo ódio

A comemoração de populares pela morte de um jovem negro reflete um racismo que já não se pode tolerar.

Quero que a comoção por uma colonizadora, herdeira de um império sanguinário e genocida seja a mesma comoção por um jovem negro que morre violentamente no Brasil.

No Brasil de hoje, já não sabemos mais a quantidade de jovens negros que morrem em nossas grandes cidades, a guerra contra as drogas mata diariamente jovens esperanças do futuro dos pretos no Brasil.

Aos 19 anos, um jovem negro foi violentamente morto em São Paulo, Nicolas Silva era cumplice de um assalto. Não vou entrar na questão do fato do assalto. Ele estava errado, porém a pena para assalto não é a execução em praça pública. Para assalto leve, o artigo 157 do Código Penal,  que se baseia na Constituição, prevê pena de 4 a 10 anos. A pena não prevê morte. Poderá alguém dizer: mas ele reagiu à abordagem! Mas não. O jovem estava desarmado e ele não reagiu; o homem que o mata violentamente é um policial militar que estava de folga e à paisana (sem farda). Nicolas Silva não foi julgado ou sequer preso, mas foi condenado a pena de morte por uma sociedade racista.

Aos gritos ao fundo de “raça do caralho”, “está de parabéns, irmão, é isso mesmo, filho da puta”, uma filmagem do acontecido mostra o homem chutando o rapaz, que não faz nenhum gesto de resistência, e diz: “Vai roubar de novo? Vai roubar no inferno agora, filho da puta!” O cabo Esequiel Souza dos Santos atingiu o Nicolas com dois disparos e ele não resistiu e morreu no hospital. Aqui há dois problemas. O primeiro é uma sociedade que legitima esse tipo de violência policial e os oficiais de segurança pública. Eles não são juízes nem carrascos, quem determina essas penas é um tribunal. O segundo: um em cada quatro mortos pela polícia em São Paulo é morto por policiais à paisana, fora de serviço.

O caso aconteceu em 10 de abril deste ano, mas foi me chamado a atenção em 5 de setembro, depois de um promotor pedir o processo ao departamento de Corregedoria da Polícia. A impunidade rodeia todas as ações violentas da Polícia Militar, repetindo os erros da ditadura e erros de chacina como das comunidades do Jacarezinho, Penha e Chapada dos Veadeiros. Os processos correm em sigilo administrativo ou censura de cem anos.

Resquícios de práticas violentas de controle da população negra. Os gritos racistas e a comemoração de pessoas ao redor do acontecido só mostra uma sociedade cegada pelo ódio. Nesse caso, nem é o silêncio da classe que está nos matando, são os gritos de ódio vindo de pessoas racistas.

A pergunta é: se esse jovem fosse branco, teria esse tipo de tratamento? O pacto da branquitude que se defende até hoje não permite que negros tenham o mesmo tratamento que pessoas brancas. O que autorizou esse policial a assassinar em praça pública um jovem de 19 anos? Sem dúvidas foi a cor de sua pele.

Não quero nota de repúdio, quero que esse tipo de violência não permaneça impune.


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