Derrota de Le Pen na França e Milei no Brasil: derrotar a extrema direita com maioria social
rea10760592

Derrota de Le Pen na França e Milei no Brasil: derrotar a extrema direita com maioria social

A ultradireita busca se reorganizar enquanto a frente única francesa dá exemplo de resistência

Israel Dutra e Roberto Robaina 8 jul 2024, 13:07

Quando fechamos esse editorial, a notícia de uma reviravolta no segundo turno das eleições francesas nos encheu de esperança. Marine Le Pen, figura retrógada e antiimigrantes, foi derrotada nas urnas com a mobilização social e política da Nova Frente Popular que reúne a França Insubmissa, o Partido Socialista, o Partido Comunista os Verdes Ecologistas e também o Novo Partido Anticapitalista.

Essa vitória é um exemplo de como se combate a extrema direita, criando uma dinâmica de luta social e política muito além das eleições. As melhores tradições de combate da esquerda militante francesa se aliaram às novas gerações de jovens dos bairros populares. Enquanto Milei e Bolsonaro confabulam, o pêndulo da luta política se move. Na última semana, o governo conservador foi arrasado na eleição britânica, ainda que o beneficiário direto seja um partido trabalhista bastante alinhado à ordem. É preciso aproveitar essas boas notícias para reafirmar a prédica “Como se combate um neofascista”, apoiando-se nas lutas de todo povo, das mulheres, dos imigrantes e da classe trabalhadora.

Milei e Bolsonaro confraternizam

O presidente argentino veio ao Brasil participar de uma reunião da extrema direita internacional. Realizada em Balneário Camboriú (SC), a convenção se chama CPAC e reúne líderes da nova extrema-direita, conta com a participação de Bolsonaro. A quinta edição da CPAC Brasil teve Milei e Bolsonaro como estrelas principais, com loas a gestão “libertária” do argentino e provocações contra Lula. Ainda presentes estão o líder da oposição direitista no Chile, José Kast, e o ministro da justiça do governo “linha dura” de Bukele em El Salvador.

A “festa” da extrema direita indica um nível de articulação internacional cada vez maior. E proporcionalmente, cada vez maior é a necessidade e urgência de um plano para combatê-los.

Se algo é comum entre os diferentes analistas é a afirmação que a extrema direita está instalada na agenda política dos principais países do mundo.

Quem assistiu ou tomou nota do debate televisivo da eleição estadunidense reforçou suas preocupações. Um Trump soberbo e golpista travou em venceu o duelo discursivo com Biden, que apresentou um desempenho pífio, gerando dúvidas sobre sua permanência na disputa. Trump segue favorito, até segunda ordem; enquanto isso os Democratas se dividem sobre a continuidade de Biden e quem poderia ser sua eventual substituta.

Por aqui, Bolsonaro arma seu palanque eleitoral e ativa sua bancada no parlamento para agitar sua estratégia: lograr anistia para si e seu entorno; avançar posições em prefeituras e câmaras de vereadores e preparar o terreno para a disputa presidencial de 2026.

As escolhas políticas do governo Lula não enfrentam a extrema direita

E como derrotar Bolsonaro e os dirigentes que encarnam a extrema direita no Brasil? Essa é a “pergunta do milhão”. Na verdade, dos “milhões”, que atuam, votam e apoiam as diferente esferas do campo dito progressista nos sindicatos, passeatas, movimentos sociais de todo tipo, como o das mulheres que combateram Lira, os estudantes e servidores da educação federal, os que lutam por habitação nas grandes cidades, os que foram atingidos pelas catástrofes como os do Rio Grande do Sul e os que lutam por uma reforma agrária agroecológica no campo.

Com a autoridade dos que buscam a unidade para barrar a extrema direita, inclusive nas urnas, como em diversas cidades e capitais no próximo outubro, podemos afirmar que certas escolhas do governo NÃO acumulam para derrotar a extrema direita.

A posição tímida quanto aos golpistas e militares, contrariando o grito que se ouviu pelas ruas ”Sem Anistia”, as alianças com o centrão no parlamento, regadas por pragramatismo e emendas e, sobretudo, as medidas anunciadas por Haddad, com a benção de Lula, de cortes orçamentários nas areas essenciais.

A defesa da austeridade a qualquer custo, como tem feito o núcleo econômico do ministério da Fazenda, a despeito das próprias críticas verbais de Lula aos juros e ao BC, abre caminho para choques e frustrações da base social que quer derrotar a extrema direita e apontar mudanças reais no país. A continuidade do liberalismo mantém a concentração de riqueza nas mãos de poucos, impondo a ampla massa popular um recuo cada vez maior das já degradadas condições de vida. A extrema direita, baseada num populismo retórico, aponta que a crise é responsabilidade do Estado, “surfando” no descontentamento geral e impondo medidas de maior controle social, reforçando a linha de guerra contra os pobres.

A localização do PSOL, de forma independente, é o melhor caminho para dialogar com a ampla vanguarda. Defendemos o governo dos ataques da direita e suas medidas que beneficiam o povo. Mas não perdemos a crítica para enfrentar o Centrão, o ajuste e para evitar que a frustação se dissipe. Nossa independência se materializa na luta contra o capital financeiro e os interesses dos grandes mercados que pavimentam a política econômica do governo. E, com estes interesses levando o mundo a uma crise cada vez mais profunda, vale recordar que a extrema direita é a face mais podre desta crise do sistema.

É possível parar a mão da extrema direita e lutar por mudanças: o exemplo da França

A derrota da extrema direita na França, ainda que não resolva os problemas de conjunto, pois levará a uma cenário incerto e de mais confronto e luta social, mostra que a situação vai se agudizar e polarizar. Mostra um caminho para combinar a luta das ruas com a luta eleitoral.

Está caminho foi pavimentado pelo programa da Nova Frente Popular, que não capitulou às pressões do centro e dialogou com os interesses de uma maioria social de descontentes ao invés de se mostrar palatável à burguesia. E, no segundo turno legislativo, um acordo tático inteligente entre a esquerda e o centro burguês que não queria a vitória da extrema direita foi decisivo, fazendo com que as candidaturas menos votadas contra o RN (de esquerda ou de centro-direita) se retirassem em prol daquelas com mais chances no sistema distrital majoritário francês.

Mas esse acordo tático não é a explicação da resistência e da força orgânica da esquerda, sem a qual o triunfo sobre o centro e sobre Lê Pen seria impossível. A consciência da luta contra Le Pen levou a uma redução enorme da abstenção, não em favor do centro, mas com a esquerda. Por isso, a eleição aumentou a margem da vitória da esquerda do primeiro para o segundo turno.

Dessa forma, retomamos o projeto que tínhamos instalado no primeiro semestre: a necessidade de uma coordenação internacional das lutas contra a extrema direita, materializada na I Conferência Internacional Antifascista, que teria lugar em Porto Alegre, com a presença confirmada de 32 países. Infelizmente, como sabemos, tivemos de adiar, por conta da tragédia. Contudo, a reunião de Milei com Bolsonaro em Santa Catarina só confirma a justeza e a necessidade dessa iniciativa.

As lutas contra a extrema direita tem que combinar a luta eleitoral com a luta de ruas, apoiando greves, movimentos sociais e outras expressões de luta.

Nas eleições, que vão dominar a situação política nos próximos três meses no Brasil, nossa prioridade será construir um muro contra a extrema direita, estimulando um programa concreto de medidas – como tarifa zero, valorização dos servidores, medidas sócio-ambientais – e lutando pelas candidaturas majoritárias e proporcionais da ala esquerda do PSOL.


TV Movimento

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.

Desenvolvimento Econômico e Preservação Ambiental: uma luta antineoliberal e anticapitalista

Assista à Aula 02 do curso do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento. Acompanhe nosso site para conferir a programação completa do curso: https://flcmf.org.br.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 05 out 2024

O que está em jogo nas próximas eleições?

As eleições de domingo serão um momento central para combater a extrema direita e afirmar polos combativos nas cidades
O que está em jogo nas próximas eleições?
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 53
Nova edição da Revista Movimento debate Teoria Marxista: O diverso em unidade
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate Teoria Marxista: O diverso em unidade