Com o exército, Ortega nega a entrada da Comissão Internacional na Nicarágua
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Com o exército, Ortega nega a entrada da Comissão Internacional na Nicarágua

O MES/PSOL brasileiro e a CSR mexicana fizeram parte da caravana internacional em solidariedade com os perseguidos pela ditadura nicaraguense.

Via Punto de Vista Internacional

O ditador Daniel Ortega recusou a entrada da Comissão Internacional na Nicarágua. Com uma força militar sem precedentes na área de fronteira, a ordem era não deixá-los passar, apesar das inúmeras tentativas das organizações e partidos que compõem a comissão solicitando a entrada nas embaixadas nicaraguenses em diferentes partes do mundo. Entretanto, aqueles que pensam que isto foi uma surpresa ou uma perda de tempo estão enganados. A missão da comissão internacional, formada por parlamentares argentinos e representantes de três organizações internacionais (Quarta Internacional, LIS – Liga Socialista Internacional e UIT – Unidade Internacional dos Trabalhadores), cumpriu seu principal objetivo: demonstrar, mais uma vez, o caráter autoritário do regime chefiado por Daniel Ortega e Rosario Murillo, uma ditadura abominável a serviço de seus próprios interesses econômicos, dos ditames do FMI e dos interesses do imperialismo.

Durante uma semana de intensa atividade política, nossa delegação, composta por representantes do MES/PSOL (Antonio Neto) e do CSR (Emilio Tellez) – em nome do Bureau do IV e dos camaradas do MAS-Panamá (Aurelio Robles e Raul) – pôde se reunir com as famílias das vítimas e dos assassinados, as Mães de Abril, o Movimento Camponês e a Articulação dos Movimentos Sociais e a ex-guerrilheira, Comandante Monica Baltodano, uma série de violações muito graves dos direitos humanos, detenções arbitrárias sob acusações que vão desde crimes de dissidência até prisões armadas por tráfico de drogas. Entre as 190 pessoas detidas desde o início da repressão estão vários ex-guerrilheiros como Hugo Torres (assassinado na prisão), Dora María Tellez (vítima de um ano de prisão em condições desumanas), assim como centenas de exilados políticos como Mónica Baltodano, assim como os outros dois, ex-líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, para mencionar apenas os casos mais notórios.

A mobilização de um contingente militar tão grande para a fronteira da Nicarágua tem apenas uma explicação: a necessidade absoluta de esconder todos os atos arbitrários cometidos por Ortega.

Às 10h da manhã, quando chegamos à região fronteiriça, nossa comissão, formada por representantes de familiares, exilados e as Mães de Abril, reuniu-se com uma comissão de camponeses, perseguidos por Ortega e Murillo por denunciarem a forma autoritária como o governo impôs a construção do canal interoceânico, que afetaria mais de 3.500 camponeses em benefício de uma concessão de 100 anos para o governo chinês.

Após uma breve demonstração, seguimos para o ponto de fronteira onde sairíamos oficialmente da Costa Rica e entraríamos na Nicarágua. Entretanto, os guardas de fronteira, inicialmente não nos permitindo continuar com o acompanhamento da imprensa, e depois com a informação da forte e ostensiva presença militar, nos impediram de prosseguir, alegando que estavam preocupados com nossa integridade física!

O papel da esquerda latino-americana contra a ditadura de Ortega/Murillo

Não é somente agora que a esquerda latino-americana se mobiliza pela liberdade do povo nicaraguense, em diferentes países da América Latina temos visto anos, décadas, de ditaduras atrozes e sangrentas, que seqüestraram, torturaram e mataram em nome de conter o avanço do comunismo, em todos esses países os comunistas junto com outras forças democráticas e revolucionárias lutaram pela liberdade. É a primeira vez em nosso continente que, em nome da esquerda, foi erguida uma ditadura.

No final dos anos 70, a Nicarágua era um importante ponto de referência para a esquerda mundial. De várias partes do mundo, jovens revolucionários de diferentes correntes vieram para apoiar a Frente Sandinista, braços na mão. A Revolução Sandinista de 1979 pôs um fim à ditadura dinástica da família Somoza, após anos de guerra civil contra o “Contra”, financiada pelo Departamento de Estado dos EUA, que efetivamente tomou o poder, e por um breve período os nicaraguenses tiveram alguma paz. A ditadura da família Ortega/Murillo produziu crimes contra a humanidade, tortura, assassinato e forçou milhares de pessoas ao exílio. Matou Hugo Torres, matará outros ex-combatentes e ex-guerrilheiros. Mas fazer isso em nome da esquerda é certamente um de seus crimes mais graves, trai o legado de Sandino, trai o legado e a memória dos milhares que morreram em nome da liberdade dos nicaraguenses contra Somoza, dos cubanos contra Batista, dos salvadorenhos contra Noriega. Mas acima de tudo mancha de sangue a bandeira do socialismo e da liberdade. A esquerda latino-americana é chamada a fazer algo para deter a escalada autoritária de Daniel Ortega.

Denunciar a ditadura de Ortega/Murillo e fortalecer os laços de solidariedade com o povo nicaraguense

Outra tarefa da comissão internacional era fortalecer os laços de solidariedade com o povo nicaraguense no exílio em todo o mundo. Em uma primeira atividade neste sentido, a delegação formada em nome da Quarta Internacional pôde se encontrar com Monica Baltodano, da qual pudemos obter uma série de novos elementos que comprovam as atrocidades.

Muitos dos parentes dos mortos e dos presos políticos que vivem no exílio na Costa Rica vêem com grande suspeita um esforço conjunto da esquerda revolucionária para denunciar Daniel Ortega e Rosario Murillo, já que Ortega sempre aplica suas medidas autoritárias em nome da esquerda e da revolução sandinista. É por isso que nosso encontro com as famílias e exilados foi muito importante, para poder explicar que uma delegação de militantes internacionais estava apoiando as famílias em suas reivindicações, exigindo a libertação dos presos políticos e denunciando o regime Ortega foi um ponto de apoio para milhares de nicaraguenses que não conseguiam encontrar apoio em nenhum lugar. No dia 7, a coletiva de imprensa para toda a mídia, no meio do parlamento costarriquenho, foi um marco importante, pois só foi possível graças à inclusão de deputados da Frente Ampla da Costa Rica na comissão que organizou a caravana. Poder contar com membros do parlamento costarriquenho em uma frente democrática que denuncia as atrocidades do regime nicaraguense, amplia o alcance da denúncia e proporciona um importante ponto de apoio para futuras ações de solidariedade que se seguirão, apesar do resultado da sexta-feira 8 de julho na região fronteiriça.

Podemos dizer que a Caravana tem sido uma importante experiência de solidariedade internacional, mesmo que não tenha sido possível visitar os prisioneiros políticos nicaraguenses “in loco”. Esta experiência não foi apenas um processo de coordenação com outros movimentos socialistas na América Latina, mas principalmente com as famílias das vítimas, dos perseguidos, dos exilados e dos presos, que confiaram plenamente nesta campanha de solidariedade internacional.

A ligação com a camarada Mónica Baltodano em particular tem sido particularmente importante devido à perspectiva que ela apresenta na luta, enfatizando a necessidade de defender as liberdades democráticas, mas também destacando a denúncia da natureza neoliberal do regime Ortega-Murillo, que usa o autoritarismo para sustentar políticas que são devidas ao Fundo Monetário Internacional. Assim como um verdadeiro resgate do melhor da tradição da luta sandinista.

Esta caravana foi apenas o primeiro passo em direção a um passo maior para a libertação dos prisioneiros.

Das organizações que compõem a Quarta Internacional (MES/PSOL e CSR) conclamamos mais organizações a se juntarem aos comitês locais como no México e no Brasil, para promover novos comitês onde não há nenhum e para denunciar o regime ditatorial de Daniel Ortega e Rosário Murillo.


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Pedro Micussi