O fim da valorização do mínimo mostra pra quem Bolsonaro governa

O fim do mínimo valorizado pode afetar quase 25% da população brasileira.

Sandro Pimentel 25 abr 2019, 12:07

Como é de conhecimento geral, o salário mínimo é – ou pelo menos deveria ser – um parâmetro importante para determinar a remuneração dos trabalhadores e trabalhadoras em todo o país. A afixação do mínimo foi instituída no Brasil nos anos de 1930, e fez parte da política de garantia de direitos aos trabalhadores implementada por Getúlio Vargas. De lá pra cá, com a consolidação do mínimo, mesmo quando seu valor não é a base, o reajuste serve como referência para a valoração nos processos de negociação salarial.

Há 16 anos, ainda no governo de Lula, se instalou uma política de reposição do salário mínimo garantidora de ganho real com a indexação do aumento aos índices de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Desde então, mesmo com governos de diferentes matizes ideológicas, tal política de valorização do mínimo seguiu intocada – até essa semana.

Na última terça-feira (16), o governo Bolsonaro apresentou seu projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2020 e, dentre as propostas, está a mudança da base de cálculo do salário mínimo, com a reposição apenas das perdas inflacionárias. O que, na prática, congela o mínimo e acaba com o ganho real do já tão baixo salário do trabalhador brasileiro.

Se esta já estivesse em vigor desde 2003, o valor atual do mínimo seria de R$ 496,79 ao invés dos R$ 998,00.

Em janeiro de 2019, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou uma estimativa de que o salário mínimo, para atender as necessidades básicas do trabalhador e de sua família, deveria ser R$ 3.928,73. Ainda longe de chegar nesse patamar, agora Bolsonaro achata o ganho, ainda de acordo com o Dieese, de cerca de 48 milhões de brasileiros que têm rendimento referenciado no salário mínimo. O fim do mínimo valorizado pode afetar quase 25% da população brasileira, parcela da população que pode até ter votado no Bolsonaro, mas que ele já não faz muita questão de priorizar.

A política proposta por Bolsonaro mostra-se ineficaz também no aumento da arrecadação pelo Estado, pois só o reajuste garantido em 2019 já representou 14 bilhões a mais em impostos sobre o consumo, além de injetar 27 bilhões na economia.

O congelamento do mínimo faz mal para o Brasil e a redução do poder de compra dos trabalhadores pode trazer graves consequências para economia popular. A conta é simples: menos dinheiro circulando, menos consumo das famílias e menos arrecadação para os governos que hoje enfrentam grave crise fiscal.

Todo repúdio a essa política de arrocho que evidencia a que veio o governo de Bolsonaro: um presidente dos ricos, que não serve ao povo trabalhador. A proposta de LDO segue para votação do Congresso Nacional e espero que não aprovem esse retrocesso enorme para os direitos e as conquistas do povo trabalhador.

Agora, é hora do Congresso mostrar autonomia e ouvir as bases, ouvir os trabalhadores que tentam viver com um salário mínimo. Se escutarem, não terão coragem de aprovar essa política maldosa que favorece poucos e avança na precarização da vida de milhões de brasileiros.

Artigo originalmente publicado no portal Saiba Mais.

TV Movimento

Palestina livre: A luta dos jovens nos EUA contra o sionismo e o genocídio

A mobilização dos estudantes nos Estados Unidos, com os acampamentos pró-Palestina em dezenas de universidades expôs ao mundo a força da luta contra o sionismo em seu principal apoiador a nível internacional. Para refletir sobre esse movimento, o Espaço Antifascista e a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco realizam uma live na terça-feira, dia 14 de maio, a partir das 19h

Roberto Robaina entrevista Flávio Tavares sobre os 60 anos do golpe de 1º de abril

Entrevista de Roberto Robaina com o jornalista Flávio Tavares, preso e torturado pela ditadura militar brasileira, para a edição mensal da Revista Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 16 maio 2024

Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade

Para responder concretamente à crise, é necessário um amplo movimento que organize a luta pelas demandas urgentes do estado
Tragédia no RS – Organizar as reivindicações do movimento de solidariedade
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 49
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição traz o dossiê “Trabalho em um Mundo em Transformação”