Depois do carnaval: prisão para Bolsonaro e todos os golpistas
image_processing20200520-7637-an838j

Depois do carnaval: prisão para Bolsonaro e todos os golpistas

Após as novas revelações sobre os planos golpistas do bolsonarismo, é hora de ir as ruas por sua prisão

Israel Dutra 18 fev 2024, 08:37

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Foi se o tempo em que o ano político começava “depois do carnaval”.

O fato é que o ano político é intenso e cruza os meses de verão, com um reconhecimento do caráter político do próprio carnaval. A maior festa popular brasileira é uma expressão da coletividade e da diversidade, uma referência maior na cultura nacional. Foram milhões de pessoas nas ruas, entre blocos, trios e escolas de samba em apresentações que muitas vezes combinaram a festividade com o protesto social.

Vale destacar, por exemplo, o desfile da Vai-Vai em São Paulo, que falou da história do Hip-Hop e da violência policial que marcou (e continua marcando) a realidade do movimento. Isso rendeu, além de uma polêmica, a fúria dos conservadores, chegando ao cúmulo do PL de Bolsonaro pedindo represálias contra a tradicional escola paulistana. Em Belo Horizonte, parte dos blocos de rua mais populares da cidade decidiu se somar no apoio à causa palestina, levando bandeiras e adesivos para as ruas. A cena se repetiu em alguns blocos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Nas vésperas do carnaval, contudo, um fato relevante incidiu sobre a conjuntura: a Operação da PF que colocou os golpistas na defensiva e a prisão de Bolsonaro na ordem do dia.

Uma inflexão na conjuntura

O fato é que o clima geral está propício à rua e a recente operação da Polícia Federal colocou a prisão de Bolsonaro na ordem do dia. Como escrevemos em editorial recente da Revista Movimento, a operação Tempus Veritas representou uma inflexão na conjuntura. Um ano após a ação da extrema direita em Brasília no 8 de janeiro, reforçamos que a intentona mal-sucedida, além de representar dar uma amostra de até onde querem ir os agentes do bolsonarismo, colocou essa corrente golpista na defensiva entre a opinião pública. Agora, com as novas revelações da PF – amparadas em temas profundos como o da ABIN e na delação de Mauro Cid – se abre ainda mais espaço para exigir punição rigorosa ao ex-presidente e seus asseclas.

Cada vez mais se comprova a articulação golpista, o papel consciente e protagonista de Bolsonaro e a íntima participação de parte da cúpula das Forças Armadas nos planos de tomada do poder. Frente a isso, os setores democráticos não podem aceitar nenhum tipo de anistia aos golpistas, exigindo agora uma ação exemplar que derrote de forma categórica a sanha autoritária da extrema direita. 

Os problemas do bolsonarismo não são poucos. Mesmo antes da ação da PF, os inúmeros escândalos de corrupção marcaram todo o governo do genocida, e suas dificuldades de articulação com setores importantes da burguesia levaram a suas primeiras crises e à total rendição do governo ao chamado “Centrão” parlamentar.. Após sua ação negacionista na pandemia e a formação de uma ampla unidade de ação para derrotá-lo, Bolsonaro se movimentou em diversos níveis para se garantir no poder, como o orçamento secreto representando um marco nesse sentido. Porém, as novas revelações mudam de qualidade sua situação porque confirmam as grandes suspeitas a respeito da manipulação e do não reconhecimento do resultado das eleições de 2022.

Para enfrentar esta situação, é preciso entender que o problema concreto está na própria essência do regime político, a começar pelo comando do exército que flertou por inúmeras vezes com as atitudes golpistas. Mesmo no governo atual, o ministério da Defesa é ocupado por José Múcio, escolhido justamente por preservar boas relações com este comando. O artigo 142 da Constituição, reivindicado pelo bolsonarismo como justificativa legal para sua ação, permanece sem ser questionado e mantém aberta a porta para outra futura interpretação golpista. Portanto, não se trata de uma ação de limpeza qualquer, os artífices da tentativa golpista estão entre as peças chaves do generalato e das forças de segurança e ainda possuem muitos aliados nos salões do poder.

É hora das ruas

A “hora da verdade” para enfrentar os golpistas deve ser a própria “hora das ruas”.

Bolsonaro lutando para se defender e cavar espaços político apelou para a convocatória de um ato para o próximo dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista. E vai buscar polarizar na sociedade, buscando palco nas ruas e nas eleições que se aproximam. Um exemplo disso é a confirmação do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes no ato.

As revelações de Cid não pararam apenas na cúpula do PL e do Exército. Três grandes empresários, Luciano Hang (lojas Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), Afrânio Barreira (Coco Bambu) foram citados em audio de Cid para o General Freire Gomes, como parte da conspiração golpista.

È preciso construir uma ampla unidade de ação para levar adiante a luta por medidas imediatas contra Bolsonaro, os golpistas das Forças Armadas e seu núcleo de empresários aliados. Apenas nas ruas e com uma campanha que consolide a maioria social para a prisão de Bolsonaro poderemos aproveitar a brecha que está aberta.

O governo precisa mudar sua postura. Não é possível conciliação com os golpistas, que querem superar esse momento, para voltar mais forte no futuro. O ajuste que o governo impôe sobre os servidores e a rendição diante de Lira apontam um caminho que vai gerar mais frustração social.

Por um campanha pela prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas! Sem Anistia!

Para materializar as tarefas democráticas que temos à frente é preciso construir uma campanha nacional pela prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas, levantando também temas que impeçam tentativas golpistas no futuro. Para isso, devemos tratar também dos chamados serviços de inteligência e das forças policiais cujos comandos estão ocupados por bolsonaristas. As revelações recentes sobre a ABIN demonstraram seu comprometimento com os interesses golpistas mesmo após o fim do governo Bolsonaro e desmascararam seu principal expoente, o delegado Alexandre Ramagem, então cotado para a prefeitura do Rio.

Esta ampla campanha só poderá ser vitoriosa se reunir os setores mais combativos da luta contra a extrema direita para exigir avanços concretos como a prisão de Bolsonaro. Essa é a principal batalha.

Como medidas transitórias deve se incluir na discussão temas como a extinção da ABIN, , a suspensão do artigo 142, o fim do dispositivo da Garantia da Lei e da Ordem, o desmantelamento das mílicias urbanas e rurais, entre outras pautas democráticas.

Precisamos tomar as ruas, dialogando com os milhões que querem ver Bolsonaro na prisão, para um campanha massiva que leve adiante essa tarefa.


TV Movimento

Roberto Robaina entrevista Flávio Tavares sobre os 60 anos do golpe de 1º de abril

Entrevista de Roberto Robaina com o jornalista Flávio Tavares, preso e torturado pela ditadura militar brasileira, para a edição mensal da Revista Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 28 abr 2024

Educação: fazer um, dois, três tsunamis

As lutas da educação nos Estados Unidos e na Argentina são exemplares para o enfrentamento internacional contra a extrema direita no Brasil e no mundo
Educação: fazer um, dois, três tsunamis
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 48
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão